quinta-feira, 9 de abril de 2015

Medicina Tradicional Chinesa



Parte I

Visitar uma farmácia chinesa na Republica da China é como entrar dentro de um museu de ciência natural em miniatura. Guardado em filas após filas de gavetas arrumadas estão produtos animais, vegetais e minerais, cada um com uma finalidade específica. Entre sortimento de curiosidades estão o cinabre e o âmbar, para relaxar os nervos; caroço de pêssego e açafrão , para melhorar a circulação do sangue; efedrina chinesa (mahuan) para induzir a transpiração , e ginseng para fortalecer a função cardíaca.

O conteúdo de uma receita de um médico chinês é um processo fascinante de ser assistido.
O farmacêutico selecciona alguns ingredientes específicos das centenas em suas estantes. Estes são levados pelo paciente para casa, fervidos numa “sopa” e tomados. Confrontada com uma bebida fumegante, pode-se perguntar qual é a base desta antiga arte médica.

A estrutura teórica da medicina chinesa foi estabelecida há mais de dois milénios.
Uma grande parte de conhecimento médico é preservada na Cânon Secreto ( Nei Ching), pré-Chin( 201-207 a .C.) , um registo abrangente de teorias médicas chinesas daquela época.
A dinastia Han (206 a.C.- 220 d.C.) produziu um guia valioso e oficial – até mesmo para os tempos actuais – para o tratamento de enfermidades, o Tratado de Doenças Causadas por Factores Frios ( Shang Han Lun) de Chang Chung-ching.

Uma das obras mais conhecidas é a Matéria Medica (Pen Tsao Kang Um) compilada na dinastia Ming ( 1368- 1644 d.C.) por Li Shih Chen. Esta obra enciclopédica anunciou uma nova era na história farmacológica mundial; incluiu descrições de 1892 tipos diferentes de medicamentos.
Estas obras foram traduzidas em várias línguas e exercem influência nos países do Leste Asiático e europeus.

O chinês tem um sistema singular de catalogar enfermidades que é completamente diferente de sua contraparte ocidental. A filosofia por detrás da medicina chinesa é que o homem vive entre o céu e a terra (nota: ”o Céu, o Homem e a Terra” uma das tríades da filosofia chinesa), e compreende um universo em miniatura em si mesmo. (nota: o homem é o microcosmo no macrocosmo, a representação do universo), vale exemplificar este sistema, com o ideograma da palavra Rei, que é um traço recto vertical com três traços horizontais, dois menores nos extremos e um maior no meio, ou seja, o Rei era a ligação entre o céu e o homem.

O material de qual são feitas as coisas vivas é considerado pertencente ao “yin”, o aspecto feminino, passivo e vazante da natureza. 
As funções vitais das coisas vivas, por outro lado, são consideradas pertencentes ao “yang”, ou masculino. 


As funções dos seres vivos são descritas em termos dos seguintes cinco centros do corpo: 
1. “coração” ou “mente” (sin): refere-se ao “centro de comando” do corpo que se manifesta como consciência e inteligência;
2. “pulmões” ou “sistema respiratório” (fei); este sistema regula as várias funções intrínsecas do corpo, e mantém o equilíbrio cibernético;
3. “fígado” (kan); este termo inclui os membros e o tronco, o mecanismo de resposta emocional ao ambiente externo e a ação de órgãos;
4. “baço” (pi); este órgão regula a distribuição de nutrição pelo corpo, e o metabolismo, trazendo força e vigor para o corpo físico;
5. “rins” (shen); este refere-se ao sistema para regular o armazenamento de nutrição e o uso da energia; a força da vida humana depende deste sistema.
Esta teoria é usada para descrever o sistema de funções do corpo, e como todo é chamado de “fenômenos latentes” (Htsang hsiang).



Parte II

A passagem das estações e mudanças no tempo pode influenciar o corpo humano.
Aqueles que têm o efeito mais pronunciado são o vento (feng), o frio ( Hhan), o calor (shu), a humidade(Shih), a seca(tsao) e o calor interno.
Mudanças excessivas ou extraordinárias no tempo danificam o corpo e são identificados como “seis factores externos causadores de doenças” (yin).
Por outro lado, se o humor do indivíduo muda, como felicidade, raiva, preocupação, melancolia, pesar, medo e surpresa ao extremo, também prejudica a saúde.
Estas emoções são chamadas “as sete emoções” (chi ching) da medicina chinesa, os seis factores externos causadores de doenças interagindo com as sete emoções formam o fundamento teórico da patologia da doença.

Estes modelos teóricos, aliados à “teoria do fenómeno latente”, são usados para analisar a constituição do paciente e sua enfermidade, e para diagnosticar a natureza exacta de seu físico geral e perda psicológica de equilíbrio. Baseado nesta análise, o médico pode prescrever um método para corrigir o desequilíbrio.
O objectivo da medicina chinesa é a pessoa, não apenas a enfermidade. 
No pensamento médico chinês. A enfermidade é só uma manifestação de um desequilíbrio que existe na pessoa como um todo. 

De acordo com a lenda chinesa, Shen Nung, o pai chinês da agricultura e líder de um antigo clã, testou em si mesmo, uma por uma, centenas de plantas diferentes para descobrir suas propriedades medicinais. Muitas delas revelaram-se venenosas aos humanos. Durante milénios, os chineses fizeram-se cobaias da mesma forma para continuar testando plantas procurando com suas propriedades induzir frio (han), calor (eh) quentura (wen) e frescor (Dliang).
Eles classificaram os efeitos medicinais das plantas em várias partes do corpo e então as testaram para determinar sua toxicidade, quais as dosagens que seriam letais e assim por diante.

Por exemplo, o talo da efedrina é um sudorífico; mas suas raízes ao contrário permitem a transpiração. A casca de cássia é quente por natureza e é útil no tratamento de resfriados. A hortelã é refrescante por natureza e é usada para aliviar os sintomas de enfermidades resultantes de factores de calor. Este acumulo de experiências fortaleceu o entendimento chinês de fenómenos naturais e aumentou as aplicações de princípios naturais na medicina chinesa.
Os mesmos princípios anteriormente descritos também se aplicam para avaliar o ambiente no qual o paciente vive, sua vida, seu ritmo de vida, os alimentos que prefere ou evita, suas relações pessoais, seu idioma e gestos, como uma ferramenta para a compreensão de sua enfermidade, e sugerir melhorias em várias áreas. Uma vez que excessos os desequilíbrios forem identificados, eles podem ser ajustados, e o equilíbrio e a saúde física e mental, restabelecidos.
Atingir o equilíbrio no fluxo de energia do corpo é o princípio do tratamento médico chinês.

Além da prescrição de medicamentos, a acupunctura é outra ferramenta frequentemente usada para tratamento na Medicina Chinesa. Sua história antecede a escrita chinesa, mas a acupunctura foi desenvolvida apenas depois da dinastia Han. Sua base teórica é o ajuste do “c´hi” ou o fluxo de energia da vida. O “c´hi” flui pelo corpo através do sistema de “canais principais e colaterais” (ching luo) do corpo. Em determinados pontos ao longo destes canais as agulhas de acupunctura podem ser inseridas, ou queima-se artemísia chinesa (ai tsao) na pele para ajustar os desequilíbrios no fluxo de “c´hi” e concentrar os poderes auto curativos do corpo nos pontos onde são necessários.



Parte III 

A realidade dos citados pontos é que em toda a MTC e, também nas Artes Marciais Chinesas, esses pontos são utilizados, não sendo assim pontos de acupunctura e sim da própria cultura/medicina chinesa.

Acupressura, moxobustão, massagem como a Tui Na e outras terapias chinesas, usam o mesmo conhecimento, tanto quanto aos pontos, como ao sistema de Canais Magníficos e Meridianos. 

Quanto a esses últimos sistemas, podemos enumerar os Oito Canais Psíquicos, nos braços nas pernas e no tronco, que podem tanto transmitir como armazenar energia, alcançando cada célula do corpo e, os Doze Meridianos, que além dos canais psíquicos são o caminho de energia na superfície do corpo humano e estão conectados aos órgãos internos por caminhos intermediários.

Os Oito Canais Magníficos são o TU MO, ou Canal de Controle, que percorre a coluna vertebral partindo cóccix atravessando a nuca até o cérebro por alto da cabeça até o céu da boca; o JEN MO, ou Canal da Função, da parte inferior do corpo nos órgãos genitais até a base da boca; o TAI MO , ou Canal do Cinturão, que rodeia toda a cintura começando abaixo do umbigo, onde se divide em dois se estendendo lateralmente até os rins; o CH´UENG MO, ou Canal de Impulso, que eleva-se dos genitais até um ponto abaixo do coração, percorrendo pelo meio os canais Tu Mo e Jen Mo; o YANG YU WEI MO, ou Canal Positivo do Braço, começando abaixo do umbigo, passa pelo tórax e ombros e desce pelo lado externo dos braços até a ponta dos dedos médios, retornando até a palma das mãos; o YIN YU WEI MO, ou o Canal Negativo do Braço, sobe pelo lado interno dos braços das palmas das mãos até os ombros terminando no tórax; o YANG CHIAO MO, ou Canal Positivo da Perna, começa no centro da planta dos pés, atravessa a parte externa das pernas e das coxas, sobe também lateralmente ao tronco e ombros terminando abaixo das orelhas. Sua extremidade inferior na plantas dos pés denomina-se cavidades Yung-ch´uan, ou seja, “primavera borbulhante”. E, finalmente o Canal Negativo da Perna, o Yin Chiao Mo, que começa também no ponto yung- ch´uan, mas estende-se para cima pelo lado interno das pernas e coxas até os órgãos sexuais, subindo depois pelo centro do corpo até um ponto entre sobrancelhas.

Comparativamente podemos enumerar veias e artérias na Medicina Ocidental que conduzem e acumulam energia, como seguindo a mesma sequência, a Aorta e a Pulmonar, Epigástrica, Arterial renal, Radial e Braquial,Tibial posterior e Femural.

Outro sistema na Medicina Tradicional Chinesa acompanha na sua contraparte ocidental, o sistema nervoso.




Parte Final

Diz-se que, quanto mais alongado o ser humano com a prática de exercícios físicos, melhor conduz a energia pelo corpo.
O sistema, além dos canais psíquicos, já mencionados é “Os Doze Meridianos”, que são os doze caminhos de energia na superfície do corpo e que estão ligados aos órgãos internos por caminhos intermediários.

A acupunctura e a acupressura regulam e equilibram a distribuição de energia nos órgãos internos pela manipulação de pontos-chave, sendo parte desses reconhecidos pelos procedimentos ocidentais como Tender-Point, ou seja, pontos de tensão, que na M.T.C. são localizados ao logo dos doze meridianos. Na M.T.C. existem aproximadamente, mil pontos –chave, que se dividem em pontos de tonificação, pontos de sedação e no caso de excesso, a energia poderá vir a ser diminuída nos pontos de origem.

Os Doze Meridianos são:
o Meridiano do Pulmão, o Meridiano do Rim; o Meridiano do Intestino Grosso; o Meridiano do Baço; o Meridiano da Vesícula Biliar; o Meridiano do Triplo Aquecedor, que é o único não correspondente a um órgão, mas corresponde ao sistema linfático; o Meridiano do Coração; o Meridiano da Bexiga; o Meridiano do Estômago; o Meridiano do Intestino Delgado; o Meridiano Regulador do Coração e o Meridiano do Fígado

PONTOS UTILIZADOS NAS ARTES MARCIAIS CHINESAS – WUSHU/ KUNG FU

Para aceitarmos o entendimento que na cultura chinesa a Medicina Chinesa é parte integral de uma outra trilogia, ou seja, M.T.C. , Filosofia e Artes Marciais são na realidade inseparáveis, o Médico na antiguidade era o responsável pela saúde de seus discípulos/camponeses/alunos, sendo o responsável pelos males que poderiam vir a perturbar os mesmos.

O Médico era o responsável pela manutenção e tratamento da saúde, era também o Filósofo, repassando seu bem como o Mestre de Artes Marciais, internas e/ou externas. 

De extensa lista de pontos vulneráveis, usuais nas artes marciais chineses, citamos como exemplo 36 (trinta e seis) destes pontos aplicados em um estilo interno de Wushu/Kung Fu, o Taiji quan, ou Tai Chi Chuan (O “Boxe Supremo”), na parte frontal e posterior do corpo humano, sendo eles: Nove pontos mortais; 
Nove pontos que causam desmaio; 
Nove pontos que causam o mutismo e 
Nove pontos que causam paralisia.

fonte: texto e contato
Jorge Corral - CREF-1 RJ 004838
http://oasys.com.br/tai
jorge.corralbr@gmail.com
Editor: Chao Yi- março/2000
http://www.gio.gov.tw/
-Secrets of Chinese Meditation / Lu Kúan Yu, fls.194
-Zhang Sanfeng he tade Taiji quan/Li Yin-ang

imagem: acervo de Anjee Momoi – China 2007 (farmácias em Shanghai)

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