segunda-feira, 13 de abril de 2015

As Mãos



Cada indivíduo tem as suas particularidades.
Eu, por exemplo, quando conheço alguém, o que primeiro chama a minha atenção são as mãos.

Não porque sejam bem cuidadas ou maltratadas.
Não é esse o sinal que elas me dão, dado que, neste caso, quando muito, a diferença entre ambas, seja a origem social.

É com as mãos que faço quase tudo que respeita ao tacto, um dos sentidos mais importantes do ser humano, embora face aos outros quatro seja, muitas vezes, menorizado.
Por isso elas me falam tanto.
Gosto de mãos vigorosas, que quando pegam as nossas o fazem de modo firme e caloroso.

Seria capaz de reconhecer entre muitas, mas mesmo muitas, as mãos das pessoas que amei.
Não sei exactamente a razão desta minha preferência, mas sempre tive a leitura de que as mãos reflectem muito dos seus proprietários.

Para além de tudo isto, o tacto dá-me o lado sensual da vida, aquele que, por muito que o desvalorizemos, é uma parte importantíssima dela.
E esta forma de sensualidade estende-se aos mais diversos campos.
No meu caso, a impressão táctil vai do papel dos livros à textura dos tecidos, ao contacto da pele do corpo.

Se entre mim e aquilo em que toco não houver o "clic" que torna essa espécie de rasto agradável, a reacção de recusa é imediata.
Mas se, ao contrário, esse toque me apraz, ele vai ser o fio condutor do meu interesse, o qual pode, até, transformar-se numa descoberta.
Como acontece com os invisuais, também para mim, o tacto é uma outra forma de olhar.
De que gosto, e de que preciso!



As minhas mãos

são o tempo do toque com sentido...
são o espaço na pele...
são o movimento do corpo perdido...
são a fixação do olhar fiel...

são o explorar dos recantos ao acaso...
são a natureza das expressões...
são o vento do voo raso...
são a humidade das emoções...

são o despir da alma...
são o vestir da chama...

são as minhas mãos!


Pedro Ferreira

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