“ Todos esses livros mal lidos, esses amigos mal amados, essas cidades mal visitadas, essas mulheres mal possuídas!
Eu fazia gestos por enfado ou por distracção.
Os seres vinham logo atrás, queriam agarrar-se, mas não havia nada, e era a infelicidade.
Para eles.
Porque, quanto a mim, eu esquecia.
Nunca me lembrei senão de mim mesmo.”
Albert Camus
in, A Queda
"Este vazio, esta falta de sentido de ligação às pessoas e ao mundo, não por um estado depressivo, mas como o vazio de ser, em que as expressões afectivas não correspondem a sentimentos reais.
Nem acredito que seja devido à condição de “Quero fazer-te aquilo que tenho terrivelmente medo que tu me faças”.
É como se entre essa pessoa e as outras, existisse uma parede de vidro que anulasse a capacidade de valorizar os esforços de qualquer outro, sem culpa nem angústia.
Procuro a dificuldade.
Como situar quem só existe em rosto e lá dentro habita "o nada"?
Como identificar quem não dá valor nem significado ao que tem?
Que deveria estar e não está?
Como nomear as emoções que provoca, de esperas, desesperanças e traições?
Para quem se relaciona com alguém com esta frágil solidez, é a fortuna ou o infortúnio das almas rendidas, que dão uma segunda oportunidade e não têm medo de ver o vazio bem fundo, não ignorando que este pode ser a fonte para toda a violência.
As aproximações, a acontecer, não permitem a reparação, sendo esta uma condição própria da natureza do vazio."
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