“ Quando condenamos ou justificamos, não podemos ver com clareza, e também não podemos fazê-lo quando nossa mente está a tagarelar incessantemente;
não observamos então o que é;
só olhamos nossas próprias "projecções".
Temos, cada um de nós, uma imagem do que pensamos ser ou deveríamos ser, e essa imagem, esse retrato, nos impede inteiramente de vermos a nós mesmos como realmente somos.”
- Krishnamurti -
Por que confundimos ser, amar e estar ... com possuir?
Vivemos um estado de apego, sem conseguir olhar de facto para a delicadeza do que temos à volta.
E não queremos abrir mão de jeito nenhum...
Somos apegados ao que fomos, ao que aprendemos, ao que queríamos, ao que desejaram para nós. Somos possuidores de projecções.
O apego ao que possuímos, é a ligação do prazer e do medo.
O pensador indiano Jiddu Krishnamurti afirmou que somos aquilo que possuímos.
É preciso atenção ao que possuímos.
"Nós somos aquilo que possuímos.
Para compreender a relação, deve haver uma consciência passiva, que não destrói a relação.
Ao contrário, faz a relação muito mais vital, muito mais significativa.
Então, nessa relação existe uma possibilidade de afecto real; há um calor, um sentido de proximidade, que não é meramente sentimento ou sensação.
E se podemos abordar assim ou estar nessa relação com todas as coisas, então nossos problemas serão facilmente resolvidos; os problemas de propriedade, os problemas de posse.
Porque nós somos o que possuímos.
O homem que possui dinheiro é o dinheiro.
O homem que se identifica com a propriedade é a propriedade, ou a casa, ou a mobília.
Do mesmo modo com ideias, ou com pessoas; e quando existe possessividade, não existe relação. Mas muitos de nós possuem porque não temos nada mais, se não possuirmos.
Somos conchas vazias se não possuímos, se não preenchemos nossa vida com mobília, com música, conhecimento, isto ou aquilo.
E essa concha faz muito barulho, e chamamos esse barulho de viver; e ficamos satisfeitos com isso.
E quando há uma ruptura, um rompimento disso, então há sofrimento porque você de repente se descobre como você é: uma concha vazia, sem muito significado.
Portanto, estar consciente de todo o conteúdo da relação é acção; e dessa acção existe uma possibilidade de verdadeira relação, uma possibilidade de descobrir sua grande profundidade, sua grande significação, e de saber o que o amor é.
J. Krishnamurti
in,The Book of Life
O que possuímos realmente?
Não possuímos nada além de nós mesmos.
Não temos propriedade de coisa alguma, mas sim a possibilidade de experimentar por um tempo, ainda que infinito, um amor, um filho, um amante, uma música.
Durante muito tempo, tive dificuldade em perceber e sentir realmente, o que era o desapego.
Pensava que desapego era abrir mão de tudo...viver sem nada.
A experimentação de algo que dura pelo tempo de toda nossa vida não significa sua posse; significa estar de maneira nova a cada tempo desta infinitude.
Desapegar-se é estar atento ao que somos, é preparar-se para o novo, inclusive para o novo que há em nós.
Aprender sobre nós mesmos é ter a chave que liberta nossas asas, porque é um aprender infinito e presente, em constante movimento;
este aprender não pode estar envolvido em juízos e valores, porque é um experimentar com suavidade.
É preciso uma mente livre com a capacidade de ver e escutar.
É difícil olhar com simplicidade.
Olhar com simplicidade é olhar directamente, sem medo.
É também a capacidade de olhar para nós mesmos sem nenhum estigmatismo, é a capacidade de dizer que mentimos quando mentimos; de aceitar nossos erros, conhecer nossas ilusões e vaidades.
Olhar com simplicidade é desapegar-se.
Desapegar-se é abrigar nossas despedidas como um novo encontro.
Desapegar-se é receber asas.
in, Summumbonum
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