sexta-feira, 8 de novembro de 2013
O Corpo
"O corpo é como um planeta. Ele é uma terra por si só. Como qualquer paisagem, ele é vulnerável ao excesso de construções, a ser retalhado em lotes, a se ver isolado, esgotado e alijado do seu poder. A mulher mais selvagem nãos será facilmente influenciada por tentativas de urbanização. Para ela, as questões não são de forma, mas de sensação. O seio em todos os seus formatos tem a função de sentir e amamentar. Ele amamenta? Ele é sensível? Então é um bom seio.
Já os quadris são largos por um motivo. Dentro deles há um berço de marfim acetinado para a nova vida. Os quadris da mulher são estabilizadores para o corpo acima e abaixo deles. São portais, são uma almofada opulenta, suportes para as mãos no amor, lugar para as crianças se esconderem. As pernas foram feitas para nos levar; às vezes para nos empurrar. Elas são as roldanas que nos ajudam a subir; são o anel que abraça o amado. Elas não podem ser criticadas por serem muito isso ou muito aquilo. Elas simplesmente são.
No corpo, não existe nada que "devesse ser" de algum jeito. A questão não está no tamanho, no formato ou na idade, nem mesmo no facto de ter tudo aos pares, pois algumas pessoas não têm. A questão selvagem está em saber se esse corpo sente, se ele tem um vínculo adequado com o prazer, com o coração, com a alma, com o mundo selvagem. Ele tem alegria, felicidade? Ele consegue ao seu modo se movimentar, dançar, balançar, investir? É só isso o que importa."
in "Mulheres que correm com os lobos"
Clarissa Pinkola Estés
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