domingo, 13 de outubro de 2013

Criticar


Podemos afirmar que a crítica surge:

1 - Quando algo está abaixo do ideal que constitui a unidade de medida e a partir do qual é observado. Não existe intencionalidade de criticar; simplesmente olha-se o mundo a partir dos padrões de qualidade que se possui. É o caso do gourmet ou de qualquer especialista – arte, ciência, etc. - , quando se encontra com um objecto que pertence a seu campo; este é avaliado a partir de suas normas de qualidade, que são elevadas em relação com o resto das pessoas. Por sua vez, de acordo com as propriedades do mataideal, poder-se-á rejeitar intolerantemente ou não aquele que esteja abaixo do ideal, mas esse é anterior ao encontro com o objecto e independente dele.

2 - Quando se tem uma imagem preconcebida de alguém ou de algo que se considera imperfeito. É o caso do preconceito, crença básica que organiza a aproximação do objecto. Como explicamos em outra parte deste livro, são crenças gerais do tipo fazes mal as coisas, não és inteligente, és mau, etc., crenças a partir das quais termina-se por ver os atributos ou acções particulares do objecto. A crença preexiste ao juízo particular que deriva daquela. Não se trata de que o ideal seja desmesuradamente elevado como no caso acima, mas a representação do sujeito faz com que seja classificado abaixo daquele que se consideraria o padrão médio.

3 - Quando existe intencionalidade de agredir o outro ou a si mesmo. Nesse caso, não existe um ideal prévio elevado ou uma crença geral ligada especificamente ao aspecto que se considerará inadequado. O defeito ao qual a crítica dirigir-se-á será procurado, criado nas áreas mais diversas, contando que se diga algo que ofende. O ódio é o que origina e mantém a brecha entre o ideal e a representação do outro ou do sujeito, seja elevando aquele ou diminuindo os méritos dessas. A fonte mais frequente é a frustração narcisista.

Hugo Bleichmar
O Narcisismo


“Percebi que é inútil falar aos outros sobre coisas que não sabem.”
C. G. Jung 
Memórias Sonhos e Reflexões 

"Não é por sermos ingénuos que pretendemos convencer o outro de uma ideia que para nós é de relevante significado, mas que para ele, não o tem. No nosso íntimo julgamos que não se trata de uma opinião pessoal. Acreditamos que ela transporta não só o sentido das coisas do mundo, como nos define. Mas o alheamento do outro não consente este ver o mundo de dentro para fora. Por isso insistimos.
Com o tempo, percebemos que mesmo com todas as razões, não merece a pena falar de coisas para as quais os outros ainda não tiveram uma experiência que os ajudasse a compreender. 
Pode ser desconcertante fazer um esforço para retirar o que não é partilhado e consagrar-se ao essencial, mas é bom que seja feito, para bem de todos."

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