quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Les larmes se ressemblent





Sob o céu cinzento com os seus anjos de barro 
Sob o céu cinzento com os seus soluços abafados
Recordo aqueles dias em Mainz 
Onde junto ao negro Reno choravam as pequenas fadas

Encontrávamos por vezes no fim dos becos 
Um soldado morto pelo golpe de uma faca 
Encontrávamos por vezes essa paz cruel
Apesar do vinho branco novo nas colinas 

Bebi o álcool transparente do licor das cerejas 
Bebi aqueles juramentos murmurados 
Como eram belos os palácios as igrejas 
Tinha vinte anos 
Nada compreendia 

Que sabia eu então de derrota 
Quando o teu país surgia como um amor proibido 
Quando ansiavas pela voz dos falsos profetas 
Para trazer de volta a esperança perdida 

Lembro-me de músicas que me tocavam 
Lembro-me dos sinais feito com giz 
Que descobríamos de manhã nas paredes 
Sem saber decifrar os seus segredos 

Quem poderá dizer onde começa a memória
Quem poderá dizer onde termina o tempo presente 
Onde o passado tomará o romance 
Onde a desgraça não passará já de um papel amarelado 

Tal como a criança surpreendida pelos seus sonhos 
Os olhares melancólicos dos vencidos permaneciam inquietos
Aos passos do render da guarda
Que faziam estremecer o silêncio do Reno.


Louis Aragon




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