sexta-feira, 8 de março de 2019

Metam as flores no... coração!





Hoje gostaria de falar-vos sobre os homens que neste dia substituem a moca de pregos (literal ou figurada) pelas flores.
Desde o início do ano, morreram 13 mulheres vítimas de violência doméstica, o que significa que, a cada cinco dias, morreu uma mulher às mãos de um agressor.
Há uns tempos, no Público, Rui Tavares fazia um exercício interessante, que vou adaptar: imaginem que tinha surgido uma doença nova, desconhecida, obscura, e a cada cinco dias, um português morria dessa doença. O país estaria em polvorosa. Ninguém falaria de outra coisa. Ninguém descansaria enquanto não fosse encontrada uma forma de combater e debelar a epidemia.

Acontece que a violência doméstica não é uma doença nova. É certo que com juizes machistas, violentos e retrógrados, a situação, em vez de evoluir positivamente, tem tendência a regredir.
Mas importa sobretudo olhar para a base do problema. Porque mais do que resolvê-lo com medidas repressivas e punitivas (o que também é fundamental), é preciso evitar que esta violência aconteça. O Dalai Lama diz que a violência não é um sinal de força, mas de desespero e de fraqueza.

Importa perceber o que se passa na cabeça destes homens. Como foram educados e que tipo de educação estamos a dar às nossas crianças? Como foram formados emocionalmente? Como desenvolveram (ou não) a sua auto-estima e autoconfiança? Qual a sua inteligência emocional? Qual a sua autonomia sentimental? Como surgem os sentimentos de posse e de superioridade?

Que impacto têm as piadas machistas na formação das mentalidades? São só piadas? Temos todos inteligência para “distinguir o trigo do joio” ou “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? Que aposta na educação emocional fazemos nas nossas crianças? Queremos que elas sejam só bem sucedidas e com carreiras auspiciosas ou queremos, sobretudo, que elas sejam pessoas boas, que desenvolvam empatia pelos outros, que sejam confiantes e carinhosas, que se exprimam através do respeito?

Um homem não chora? Vamos continuar a dizer aos nossos rapazes que um homem não chora? Que um homem que chora é maricas? Que um homem não tem medo? Vamos continuar a contar-lhes anedotas que dizem que o lugar da mulher é na cozinha e depois dizemos-lhes que é só uma piada?

Vamos continuar a ensinar-lhes a fazer considerações contínuas sobre a aparência física das mulheres (que mamas, que cu, que tesão) e a usá-las como troca de galhardetes entre machos como se isso incrementasse os níveis de virilidade ou ensinar-lhes que isso são coisas que devem dizer antes às mulheres deles?
Vamos continuar a aceitar os piropos como brincadeiras inofensivas ou perceber de uma vez por todas o que eles revelam sobre uma sociedade em que, em pouco mais de dois meses, 13 mulheres morreram por culpa dos seus homens?


  • Que inseguranças têm estes homens? 
  • Que receio de perda da virilidade os atormenta? 
  • Que angústias lhes tolhe o espírito? 
  • Que ansiedade lhes pára o pensamento? 
  • Que raiva não aprenderam a controlar? 
  • Que revolta os faz agir barbaramente?


Neste Dia da Mulher, é disto que temos que falar.
Bardamerda para as flores e os jantares e as massagens no spa.
Enquanto continuarem a morrer mulheres às mãos da violência machista, bardarmerda para as comemorações pseudo-fofas que servem para disfarçar os incómodos de uma sociedade machista e patriarcal.

No Dia da Mulher é disto que queremos falar. Enfiem as flores no... coração.



Barbara Baldaia





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