quinta-feira, 14 de março de 2019

A Profecia de Istambul






Acontece no Séc XVI, na Espanha, Norte de África e Istambul, com as perseguições da inquisição aos judeus que foram muito perseguidos e obrigados a abandonar a Península Ibérica. E também as expropriações que foram feitas a grandes famílias abastadas e injustamente acusadas de heresia. Com essas expropriações a igreja enriqueceu e criou um império. Alguns renegaram a sua religião para salvar a própria pele e as suas fortunas…

Graças a uma caracterização isenta do que vou chamar correntes religiosas: Cristã, Judaica e Muçulmana, pude reflectir e aprender sobre alguns dos princípios que as regem. Achei curioso a Judia Grácia Nasi, sobre quem têm sido editados livros recentemente e, consequentemente se tem falado, ser também uma personagem desta história.

O percurso de Jaime é pautado pelo conflito interior e pela reflexão. A sua fé ultrapassa a lógica – perseguido pela Inquisição, abandonado pelo seu Rei, mesmo assim não consegue renegar totalmente às suas crenças e obter uma nova vida com promessas de sucesso profissional, social e familiar.

Uma missão é entregue a Jaime. Ele segue-a cegamente, sem saber todos os motivos ou razões de certos actos, apenas por lhe serem pedidos por aqueles em quem confia. O autor explora muito bem a amizade verdadeira e altruísta, a meu ver uma raridade ou até uma utopia, sem dúvida um modo de fé nos outros muito difícil de encontrar hoje em dia.

À semelhança de Jaime, o protagonista da história, percorri a narrativa envolvida no mistério, sem saber o porquê das perseguições, da tortura, ou das sociedades secretas. No final tudo se esclarece e faz sentido numa profecia que a história comprovará cumprida. Apenas um pequeno grupo de iluminados conhece o inquietante mistério associado à Lança do Destino que, em silêncio, atravessa séculos e milénios. As cidades de Istambul, Argel e Salónica do século XVI são o exótico cenário da luta entre o Bem e o Mal, onde nasce uma terrível profecia que ameaça o futuro da Humanidade.

O Século de Ouro. Num tempo em que mudar de religião pode significar a ascensão social ou a fogueira da Inquisição, muitos são os homens e as mulheres permanentemente confrontados com as mais duras penas, e com a sua própria consciência, para que tomem a decisão das suas vidas.

Pelo meio de corsários, escravos, renegados, conquistadores e judeus fugidos dos estados ibéricos, entre um inviolável pacto e um perturbante mistério, emerge uma fascinante história de amor, que irá colocar à prova os valores mais profundos de um ser humano.

A Lança do Destino, com que Gaio Cassio trespassou Cristo na sua crucificação… o livro começa quando a Lança é negligentemente perdida por um dos seus últimos possuidores, Roger de Flor, que a perde ao morrer numa batalha, durante o século XIV. De volta ao século XVI, deparamo-nos com três jovens, unidos por uma amizade fiel que os leva a fazerem um pacto de sangue, tornando-se irmãos de sangue. Durante o ritual, tomam conhecimento de um livro, o "Necronomicon", que se for possuído em conjunto com a Lança do Destino, o seu detentor pode guiar o destino da humanidade, tanto para o bem como para o mal. Separando-se no fim deste encontro, cada amigo segue o seu rumo, sendo que Jaime, o protagonista se separa também de Rosa, a rapariga por quem estava apaixonado.

E como o destino é um dos grandes agentes deste livro, Jaime acaba por reencontrar os seus dois amigos e a sua amada, por força de uma missão que têm que cumprir em Orão, de modo a estender os limites Cristãos em territórios árabes. 
Perseguidos desde Espanha, por ouvirem uma conversa onde era mencionada a Lança do Destino, Jaime e os seus amigos vêm-se torturados pela inquisição, em Córdova (Espanha) e em  África, depois de serem derrotados numa das suas batalhas. Aí descobrem que têm a missão de recuperarem a Lança e de a restituirem ao seu devido lugar, sendo necessário Jaime renegar à sua religião e fazer-se "turco de profissão", ou seja um renegado, para poder deixar de ser escravo e circular livre e discretamente no mundo árabe. De seguida, parte para Istambul, onde descobre novas informações acerca da missão que lhe cabe cumprir. Descobre a história associada à Lança e conhece Grácia Nasi, uma judia muito bem sucedida em Istambul que o vai informando acerca da Lança. É aqui que ela lhe explica a profecia, que dita que se a Inquisição tomar posse da Lança e de um livro, o "Necronomicon" os pode usar para provocar um holocausto, destinado à exterminação dos judeus. Além disso, a Lança era conhecida por dar grandes glórias aos seus possuidores durante a vida, mas no momento da mudança de possuidor, o possuidor anterior teria uma morte trágica. Depois de muitas desventuras, Jaime consegue finalmente recuperar a Lança e repô-la no seu devido lugar, na Sicília, e regressa para junto de Rosa.

Deambulei à volta do mediterrâneo, em cidades exóticas e na companhia de personagens que terão de se ver frente a frente com uma das piores instituições que já foi criada no mundo: a Inquisição. Fala-nos de uma época conturbada, numa altura em que, quer Portugal quer Espanha, detinham um importante papel económico com repercussões a nível mundial. Gostei bastante do facto deste livro falar da cultura árabe e da Inquisição ao mesmo tempo. É um livro que nos faz pensar e repensar bastante sobre as religiões e que nos faz recordar algumas das piores atrocidades ocorridas no mundo.

Alberto S. Santos conta-nos histórias, e transmite-nos também imensa informação Histórica, e isso para mim é essencial num bom livro. Gosto de aprender sempre que leio, e posso dizer que aprendi imenso com a leitura deste livro, e relembrei muito do que aprendi nas aulas de história, sobre o Império Otomano, as guerras de corso no Mediterrâneo. Essas guerras de corso faziam muitos escravos que depois eram vendidos nos mercados cristãos e muçulmanos.
De um lado estava Messina, Veneza, Nápoles, Génova, Málaga, Palma de Maiorca, Valência, Sevilha, Lisboa… e do outro, Istambul, Salónica, Esmirna, Alexandria, Cairo, Trípolis, Tunes, Bizerta, argel, Tetuão, Fez, Marraquexe, Salé. Missões muçulmanas e cristãs conduziam negociações de troca e resgate desses escravos. Nessa altura, o comércio de Seres Humanos florescia. Quando ninguém pagava o resgate que era pedido em troca da libertação dos escravos de guerra, alguns optavam por se converterem à religião de quem os tinha capturado. Eram os chamados renegados pela religião católica.
Com "A Profecia de Istambul" aprendi e viajei...

A cidade que hoje é Istambul, teve muitos nomes… Para além de ter sido a famosa Constantinopla, foi antes chamada de Antoneinia, Bizâncio, Nea Roma, Kudus Yieni, Hac Sahr, Azlizler Sahar. Os eslavos chamavam-lhe Tzarigrad, que quer dizer Cidade dos Imperadores. E por fim, passou a ser chamada de Constantinopla pelos Europeus, e os Otomanos e Muçulmanos sempre a chamaram de Istambul, como é conhecida nos dias de hoje. Nessa altura, era o Centro do Mundo, onde não haviam perseguições religiosas, existia tolerância e onde todos viviam integrados de uma forma pacífica, e foi por essa razão que muitos judeus sefarditas, provenientes de Espanha e Portugal, depois de serem perseguidos e expulsos, se refugiaram no Imperio Otomano.
Nos dias de hoje, é o contrário…a Turquia é um dos países mais intolerantes e que mais persegue as minorias, como é o caso dos Curdos.

Os Persas e os Otomanos eram os povos mais desenvolvidos, mais tolerantes e mais evoluídos do planeta.
E nos últimos séculos, ficaram o oposto.
Tudo por causa das religiões…






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