sexta-feira, 15 de junho de 2018

Noite Apressada





Era uma noite apressada 
depois de um dia tão lento. 
Era uma rosa encarnada 
aberta nesse momento. 
Era uma boca fechada 
sob a mordaça de um lenço. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso!

Imensa, a casa perdida 
no meio do vendaval; 
imensa, a linha da vida 
no seu desenho mortal; 
imensa, na despedida, 
a certeza do final.

Era uma haste inclinada 
sob o capricho do vento. 
Era a minh'alma, dobrada, 
dentro do teu pensamento. 
Era uma igreja assaltada, 
mas que cheirava a incenso. 
Era afinal quase nada, 
e tudo parecia imenso!

Imensa, a luz proibida 
no centro da catedral; 
imensa, a voz diluída 
além do bem e do mal; 
imensa, por toda a vida, 
uma descrença total!


David Mourão-Ferreira
in, "À Guitarra e à Viola"







Sem comentários:

Enviar um comentário