sábado, 9 de junho de 2018

7 motivos que fizeram os alemães embarcar na loucura de Hitler




Como uma sociedade tão sofisticada quanto a alemã 
foi capaz de dar suporte 
às barbaridades cometidas pelo regime nazista?


Não é possível isentar o povo de responsabilidade, alegando que ninguém sabia o que estava acontecendo. A maioria sabia, sim, e provas disso não faltam. Por exemplo: a inauguração de Dachau, primeiro campo de concentração construído pelos nazistas, foi anunciada em 1933 numa entrevista coletiva. Ou seja: não dá para dizer que o regime ocultava os fatos e tentava manter a sociedade alheia aos crimes que estavam sendo cometidos.

“Só no estado de Hessen, havia mais de 600 campos, média de um a cada 15 quilómetros quadrados”, diz o historiador americano Daniel J. Goldhagen, autor do livro Os Carrascos Voluntários de Hitler. “E Berlim, a capital do Reich, tinha 645 campos dedicados exclusivamente aos trabalhos forçados.” Uma rede dessa magnitude não existiria sem a conivência da sociedade – do burocrata que carimbava sentenças de morte ao maquinista do trem que transportava prisioneiros ou à manicure que delatava clientes “suspeitos” à Gestapo – a polícia secreta do Reich.

A explicação para esse fenómeno passa por 7 fatores:

1. Tratado de Versalhes
O acordo de paz que encerrou oficialmente a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) forçou a Alemanha a assumir todos os custos do conflito. Ao assiná-lo, em 1919, o país perdeu 13% de seu território, 75% de suas reservas de ferro e 26% das de carvão, além de todas as colônias. Os alemães não esperavam um acordo tão rigoroso e se sentiram humilhados.

“A incapacidade psicológica alemã para aceitar a derrota e as reparações criou um terreno extremamente fértil para o crescimento de um nacionalismo radical, do qual o nazismo seria a expressão mais extrema”, diz o historiador argentino Andrés Reggiani, especialista em nazismo.


2. Sentimento nacional
Desde o século 19, sucessivos líderes alemães haviam insuflado um ardente nacionalismo entre o povo. O primeiro deles foi o chanceler prussiano Otto von Bismarck, que inventou a identidade germânica, unificou a Alemanha e fundou o 2º Reich.

Adolf Hitler seguiu sua cartilha, convencendo a massa de que a Alemanha era ameaçada por inimigos internacionais poderosos. “O Führer evocava a figura mística de Frederico Barbarossa, líder do Sacro Império Romano-Germânico [o 1° Reich, de 962 ª 1806]”, diz a historiadora alemã Marlis Steinert, biógrafa de Hitler. “Ele queria expandir o território e prometia que o 3º Reich traria de volta o passado de grande potência.”


3. Aversão à democracia
O povo alemão nunca engoliu a República de Weimar (1919-1933), regime democrático que substituiu o império após a 1ª Guerra. Logo de cara, seus representantes foram responsabilizados pelas condições humilhantes impostas à Alemanha no Tratado de Versalhes. O Partido Social-Democrata tentou sustentar a democracia, mas não tinha apoio. “Todas as outras forças políticas eram favoráveis a um Estado autoritário”, diz Steinert.

Os nazistas se aproveitaram disso para convencer a população de que a democracia era desestabilizadora. “Muitos alemães sonhavam com a volta de um líder da estatura de Bismarck”, afirma o historiador canadense Robert Gellarely. “Viram em Hitler um sujeito capaz de tomar as rédeas do país e restabelecer a ordem.”


4. Política económica
As reparações impostas pelo Tratado de Versalhes e a Grande Depressão criaram um cenário explosivo na Alemanha. O índice de desemprego chegava a quase 30%. Hitler viu nessa situação uma oportunidade. Assim que chegou ao poder, em 1933, adotou uma política de incentivo à indústria baseada na produção de bens de consumo e na melhoria do padrão de vida das classes mais baixas.

Assim surgiu, por exemplo, o Volkswagen (“carro do povo”), mais conhecido por aqui como Fusca. “Quando olhavam para trás, os alemães só viam crise”, diz Gellately. “Hitler lhes devolveu o emprego e fez as coisas voltarem a funcionar.”


5. Carisma de Hitler
O nazismo nunca teria chegado tão longe sem a liderança carismática de Hitler, um sujeito que hipnotizava multidões em seus comícios e tinha um poder de convencimento difícil de ser igualado. “No palanque, ele encarnava o mito do ‘corpo’ da Alemanha, cujo sistema circulatório era a massa que o aplaudia com devoção”, filosofa o cineasta sueco Peter Cohen no documentário Arquitetura da Destruição.

O caráter messiânico de Hitler foi bem explorado por seu ministro de Propaganda, Joseph Goebbels, que controlava os meios de comunicação alemães. Tudo girava em torno da forte personalidade do Führer.


6. Terror
O medo dos órgãos de repressão ajuda a compreender o silêncio da sociedade alemã diante das atrocidades cometidas pelo regime nazista. Mas o clima de terror nem sempre foi generalizado. No início, a maioria dos cidadãos não se sentia ameaçada e até colaborava com a perseguição a judeus e comunistas. “A Gestapo não seria tão eficiente sem a ajuda de cidadãos comuns”, diz o historiador Eric A. Johnson, autor de Nazi Terror (“Terror Nazista”, sem tradução para o português). “Entre 1933 e 1939, 41% dos processos contra judeus na cidade de Krefeld foram iniciados por denúncias de civis.

Em outras cidades não foi diferente.” Ou seja: nos primeiros anos, o controle nazista não inspirou medo, mas confiança. Hitler estava preocupado com o apoio popular e construiu uma ditadura baseada no consenso. Tanto que recuou quando a população saiu às ruas para protestar contra a retirada de crucifixos das escolas e contra o programa de eutanásia. O terror só se generalizou com o início da guerra, quando o nazismo assumiu sua face mais cruel.


7. Racismo
Hitler se valeu de um antissemitismo arraigado havia séculos na Europa. A cristandade medieval tinha alentado o mito de que judeus eram aliados do diabo, não tinham pátria e queriam dominar do mundo. Mas essa discriminação foi adaptada aos propósitos do Führer durante a vigência do regime nazista: deixou de ter base religiosa para assumir um caráter racial. Assim, a natureza “degradante” dos judeus passava a ser entendida como imutável, não adiantava tentar convertê-los.

As propagandas do regime ensinavam que confinar e matar judeus, assim como ciganos e outras “raças parasitárias”, era uma medida de saneamento, como exterminar ratos e bactérias. A população comprou essa ideia. “Movidos pelo antissemitismo”, diz o historiador Daniel J. Goldhagen, “os perpetradores do nazismo acreditavam que acabar com os judeus era justo, correto e necessário”.




Eduardo Szklarz





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