quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Porque esperaste?



Passo a minha mão pela tua cabeça,
Quero tanto saber o que tu pensas.

O que tu pensas, mas apenas como,
e quando e o porquê, e não
que estejas pensando ou não que a minha mão,
atenta e recurvada, passa brandamente.

Quero saber aquilo que nem sabes.

Aquilo que nem sabes- como saberias
o que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
mas não na expectativa de arrepio prévio.

Por que esperaste, ciente, a pele da minha mão?



Jorge de Sena




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