domingo, 19 de janeiro de 2014

1984

 




O livro 1984 foi publicado em 1949 por George Orwell. 

O escritor, nasceu em 1903 na Índia Britânica e teve o seu estilo marcado por estilo bem-humorado, contrário ao totalitarismo, e atento às injustiças sociais. 
Suas principais obras, além de "1984", são “O Triunfo dos Porcos”, “Dias da Birmânia” e “O Vil Metal”.
George Orwell foi o pseudónimo escolhido pelo jornalista, ensaísta e romancista Eric Arthur Blair. 
O autor nasceu em Montihari (uma pequena cidade em Bengala), no dia 25 de junho de 1903. 
Era filho de um funcionário colonial inglês agente do Departamento Britânico de Ópio. 
Orwell trabalhou na Polícia Imperial da Índia, mas acabou por abandonar o cargo porque já sabia que queria tornar-se escritor. 

No final do anos 20, decidido a tornar-se escritor, o jovem Eric Arthur Blair resolveu viver uma experiência pioneira e radical: submeter-se à pobreza extrema - e depois narrá-la. 
Em 1928, instalou-se em Paris com algumas economias, onde levou uma vida boémia, e começou a dar aulas de inglês - mas em pouco tempo perdeu os alunos e foi roubado. Sem dinheiro, passou fome, penhorou as próprias roupas, trabalhou em restaurantes sórdidos e por fim partiu para a Inglaterra. 
Enquanto esperava por um emprego incerto, radicalizou ainda mais a sua experiência convivendo intensamente com os mendigos de Londres, perambulando de albergue em albergue, atrás de dormida, comida e tabaco. 
É essa vivência miserável que Orwell relata com humor e indignação, distanciamento e participação no seu primeiro livro "Na Pior em Paris e Londres". 
Recusado por várias editoras inglesas, o livro só foi publicado em 1933, trazendo, pela primeira vez, o pseudónimo que consagraria um dos maiores escritores do século XX. 
Foi para a Espanha lutar contra o franquismo em 1936. 

Na vida pessoal, casou-se com Eileen e adoptou o pequeno Richard Horatio Blair. 
Em março de 1945, o escritor ficou viúvo após o falecimento da esposa  devido a problemas com a anestesia aplicada numa cirurgia. 
David Astor, um amigo dos tempos da edição, emprestou uma casa da família para que Orwell passasse algum tempo. A propriedade estava situada na ilha escocesa de Jura, perto de Islay, afastada do resto da sociedade. A casa não possuía sequer eletricidade e o rádio era a única forma de comunicação com o mundo exterior. 
Foi nesse contexto, e também severamente acometido por uma tuberculose, que o escritor escreveu o seu último livro, "1984", e morreu sete meses depois da publicação ter sido lançada. 
Após entregar o manuscrito, foi internado numa clínica em Cotswolds para tratar a tuberculose. 

O próprio autor confessou ao melhor amigo: 
“Eu deveria ter sido internado há dois meses, mas eu queria terminar aquele livro sangrento”. 
Naquela altura os acometidos pela tuberculose contavam com pouquíssimas possibilidades de cura. Orwell não resistiu à doença e faleceu precocemente, com apenas 46 anos. 
Seu funeral foi realizado nos jardins na igreja de Sutton Courtenay, em Oxfordshire, organizado pelo grande amigo David Astor.



A história passa-se no ano de 1984, num futuro distópico, e foi escrita em 1949.
Projeta como seria a vida no futuro distante de 1984, onde o Estado impõe um regime extremamente totalitário para a sociedade, através da vigilância do Big Brother, imposta pelo Partido (Ingsoc), onde ninguém escapa do seu poder. 
Assim, o local do romance, Oceania, é dominado pelo medo e pela repressão, pois quem pensava contra o regime era acusado de cometer um crime (no livro, crimideia, ou crime de ideia, na tradução de novilíngua, idioma do futuro).
O totalitarismo é o mote que embala a narrativa passada em Londres, no ano de 1984.

O que chamamos de governo no romance, é regido pelo Big Brother, um ditador e líder do Partido INGSOC. Apesar de nunca ter sido visto pessoalmente, vê e controla tudo. 
No Estado já não existem leis, impera uma única ordem categórica e absoluta: todos devem obedecer.

No enredo que tem Londres como cenário (na fictícia Oceânia) -, tudo gira em torno do Big Brother. “Quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições rudemente agradáveis”, o Big Brother é o líder máximo. Assumiu o poder depois de uma guerra de escala global (análoga à Segunda Guerra Mundial, porém com mais explosões atómicas), que eliminou as nações e criou três grandes estados transcontinentais totalitários.
A Oceânia reúne a ex-Inglaterra, as ex-Américas, ex-Austrália e Nova Zelândia e parte da África. 
É um mundo sombrio e opressivo. 
Cartazes espalhados pelas ruas mostram a figura da autoridade suprema e o slogan: 
“O Big Brother está de olho em ti”. 

E está mesmo, literalmente, graças às “teletelas”. 
Espalhadas nos lugares públicos e nos recantos mais íntimos dos lares, elas são uma espécie de televisor capaz de monitorar, gravar e espionar a população, como um espelho duplo. 
A intimidade era totalmente devassada. 
No mundo ficcional criado por Orwell, existem inúmeros televisores a monitorar e a controlar a população, e nenhum cidadão tem direito à privacidade.

A propaganda é uma das bases do regime, que garante a manutenção do poder. 
Há quem diga que o personagem ficcional foi inspirado em Stalin.
De facto, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas. George Orwell escreveu-o com um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e as gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. 

Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o estalinismo caminhava, e é aí que ele vai buscar a inspiração.
Ao ler Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, percebe-se que o Big Brother é baseado na visão de Orwell sobre os totalitarismos de várias índoles que dominavam a Europa e Ásia na época. 
Stalin, também Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram Orwell a escrever o romance.

Este romance, apesar de contar a história no futuro, foi inspirado em regimes totalitários das décadas de 1930 e 1940, trazendo uma profunda reflexão e crítica ao facto de cidadãos comuns serem reduzidos a peças para servir o estado, através do controle total. 
Muito mais do que o nazismo ou stalinismo, é possível traçar paralelos com diversas formas de controle do governo, e também do mercado sob a sociedade.
Orwell assume ter se inspirado na reunião dos líderes dos Aliados na Conferência de Tehran, em 1944, para construir a sua ficção.

O desejo original do autor era baptizar o livro com o título "The Last Man in Europe", mas, segundo o biógrafo Bernard Crick, o editor Frederic Warburg acabou por conseguir convencê-lo a adoptar como título somente o ano, 1984. O livro foi concluído em 1948, e o nome traz os dois dígitos finais invertidos. Era uma forma de dizer que a distopia descrita não era uma ameaça distante.

A obra do escritor é profética sobre a questão da quebra de privacidade. 
O avanço tecnológico permite um amplo monitoramento (dos satélites às microcâmeras). 
Em Nova York, a ONG New York Civil Liberties Union protesta hoje contra a existência de 40,76 câmeras instaladas por quilómetro quadrado em Manhattan. 

Uma coisa, porém, Orwell não pôde antever: o gosto atual pelo exibicionismo/voyeurismo (o que vale tanto para os mais jovens do do programa de TV, Big Brother, quanto para certos usuários do Youtube, Facebook e afins. 
“As pessoas agora detestam acima de tudo o anonimato. Explorar o privado virou uma forma de participação pública”, diz a especialista em comunicação Cosette Castro, da Universidade Pública de Barcelona. 

“Na obra de Orwell, é o governo que observa tudo através de câmeras – ele fala de autoritarismo, e não de voyeurismo, como é o nosso caso”, disse John de Mol, criador do Big Brother, numa entrevista. “Temos curiosidade de saber como o outro dorme, come, toma banho. O Big Brother propicia uma resposta a esse anseio”, diz Cosette. O fenómeno do reality show, que talvez tivesse escandalizado o escritor, é mundial.  “O reality show é um laboratório do qual a audiência também faz parte”, afirma Cosette Castro, referindo-se ao poder dos telespectadores de decidir o destino dos participantes dos programas. O Big Brother da ficção foi superado pelo Big Brother da realidade.

Mas Orwell faz questão de frisar que existe um nexo indissolúvel entre voyeurismo e totalitarismo. 
No livro, é evidente o prazer de O’Brien em imiscuir-se na vida dos outros. 
Em "As Sombras do Amanhã", de 1945, o historiador Johann Huizinga demonstrou que uma das chaves para o sucesso dos regimes autoritários é estimular a bisbilhotice alheia. Todos gostam de um pouco de fofoca, e muitos ditadores já usaram isso a seu favor, para recolher informações sobre os cidadãos.

Como ficção política literária e ficção científica distópica, Nineteen Eighty-Four é um romance clássico em conteúdo, trama e estilo. Muitos dos seus termos e conceitos, como Big Brother, duplipensar, crime de pensamento, novilíngua, buraco da memória, Quarto 101, teletela, e 2 + 2 = 5, entraram no uso comum desde a sua publicação em 1949. 
A obra popularizou o adjetivo orwelliano, que descreve o engano oficial, a vigilância secreta e a manipulação da história registada por um Estado totalitário ou autoritário.

No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. 
Segundo ele, o objectivo da guerra não é vencer o inimigo, nem lutar por uma causa. 
O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres, e para impedir que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos. Assim, um dos lemas do Partido, "guerra é paz", é explicado no livro de Emmanuel Goldstein: 
"Uma paz verdadeiramente permanente, seria o mesmo que a guerra permanente".

A elite dirigente do regime totalitarista descrito na obra literária 1984, de George Orwell (1903 -
1950), produz informações de massas a fim de manter o status quo e manipular pensamentos e ações, nas diferentes classes sociais apresentadas no livro. Os meios massivos de informação e entretenimento popular (mantidos pela instituição governamental de nome “Ministério da Verdade”) existem para manter sob seu jugo intelectual e cultural as camadas inferiores da estratificação social pré-estabelecida. 

Tudo isto nos faz indagar sobre a natureza humana, mas sobretudo como as diversas formas de discurso agem sobre a fragilidade do Ser Humano, alteram a sua visão crítica e percepção de mundo, a sua auto-estima, as suas escolhas. 
Este livro é um exercício profundo de reflexão sobre o poder, o processo e as nuances da comunicação, aqui revelada na sua forma mais despótica e cruel, tendo como base a ficção de Orwell, e que hoje nos faz pensar se era ficção ou previsão, embora com poucas semelhanças na forma, mas muitas no conteúdo.

Este livro simboliza os discursos capazes de destruir as relações democráticas, como tantos que a história nos revela. Não somente a história de ontem, mas a imediata, essa que vamos assimilando subliminarmente nos diversos meios de comunicação, ancoradas pelos avanços tecnológicos, pelos apelos ao consumo, pela ditadura da estética, pela "numerização"do Ser Humano repleto de senhas, controlados por câmeras, e por algo chamado Sistema. 
Este livro faz-nos lembrar que precisamos estar bem atentos aos discursos. 
Eles quase nunca são literais.


Em 2005, o romance foi escolhido pela revista Time como um dos 100 melhores romances da língua inglesa de 1923 a 2005. 
Foi premiado com um lugar em ambas as listas da Modern Library de 100 melhores romances. 
Em 2003, o livro foi listado no número 8 na pesquisa da "The Big Read" da BBC.




SINOPSE

A história apresenta, a partir do quotidiano e da acção psicológica do protagonista Winston Smith, um universo social dominado por regimes de governo totalitaristas, em todos os três megablocos da então nova divisão mundial. A supressão das liberdades individuais atingem o ponto em que o cidadão é apenas uma engrenagem submissa de um sistema que ao final justifica-se por si só. Não que a população tenha consciência disso – nem poderia. O jugo silencioso sob o qual são mantidos procura sustentar-se, através de mecanismos psicológicos constantes, sobre falsas imagens, notícias e louvores, na tentativa de incutir no cidadão médio a certeza de que ele é livre dentro de sua escravidão.

O Socialismo Inglês, plantado em Londres, representa a crítica de Orwell ao Stalinismo corrente na União Soviética daqueles fins de anos 40 – como fizera o autor três anos antes, em 1945, na sua obra "O Triunfo dos Porcos". 
A Londres do futuro criado por Orwell mostra-se decadente e suja, como tudo o que é disponibilizado à população – péssimas condições de moradia, alimentação deficiente, horas de trabalho extenuantes.  A “ração” de suprimentos básicos como açúcar, lâminas de barbear, sabão, café, cigarros, gim,
chocolate, alimentos, roupas e calçados caracteriza-se pela quantidade miserável destes víveres, como pela baixa qualidade. 
A qualidade e a quantidade dos produtos de consumo diferenciam-se de acordo com as classes sociais - nas três classes da estratificação social, há gradual discrepância no conforto e qualidade de vida.

A obra 1984 apresenta-nos um universo onde a privacidade nas suas diversas formas de constituição foi suplantada. “O Big Brother Zela por Ti”, dizem as legendas sob a imagem do ditador em embalagens de alimentos, cartazes reproduzidos em todos os pontos, nas teletelas dentro de cada habitação. Este último termo refere-se às telas presentes no interior das salas de trabalho, apartamentos, ruas, praças e outras formas de lugares públicos. A função das teletelas, que são impossíveis de desligar, é a de
emitir propaganda política pró-Partido e pró-Big Brother, através de programas criados especialmente para confirmar e louvar a grandeza das instituições (líder e governo). Além de enviar mensagens, a teletela traz a particularidade de receber imagens e sons, controlando assim os ambientes domésticos, urbanos e de trabalho. 

Neste universo socialista, o personagem Winston vê-se tomado por um estímulo e uma dúvida. 
O primeiro, leva-o à arriscada atitude de comprar um caderno – objeto antigo, quase inexistente e muito comprometedor  numa loja de antiguidades. 
Já a dúvida, consiste num distante e calado incómodo; questiona-se até que ponto o mundo pós-revolução é realmente próspero e melhor que o mundo capitalista do passado. Como tudo o que se foi se apaga a cada dia nas mentes padronizadas e controladas da população, e o passado se reescreve nos departamentos de censura de jornais e livros, Winston tem, ao comprar o seu caderno, a esperança de escrever um pequeno pedaço de verdade, no contexto de contradições do Ingsoc. 
Num ponto do seu apartamento livre da teletela, abre a folha em branco da primeira página e permite, finalmente, deitar em letras seus sentimentos mais secretos, as dúvidas mais recônditas, a esperança de que no futuro, num universo onde a liberdade tornasse a existir, alguém o pudesse ler, e talvez compreender.

Winston não nasceu no regime socialista, mas no abolido e já obscuro capitalismo.
Quando dedica seu diário ao “futuro ou ao passado”, podemos entender que acredita o personagem que o futuro melhor e livre reflete o passado, distinto do tempo vivido por ele enquanto discorre a ação da narrativa. É através deste emaranhado de proibições, ortodoxias cegas e mídia manipulável que o personagem partirá em busca de uma resposta para o passado, presente e para si mesmo.

Separado e sem filhos, Winston tem 39 anos de idade e é um dos trabalhadores do Departamento de Registo (Regdep) no Ministério da Verdade. A sua função é a de adequar as notícias dos jornais e outros documentos do passado de acordo com os interesses do Partido. 
Winston trabalha no seu cubículo, recebendo instruções escritas que caem de um tubo pneumático na parede, “retificando” via falascreve (microfone que redige notas com modificações ditadas) e enviando o trabalho efetuado via outro tubo pneumático. As versões submetidas a “correção” dos documentos que a ele chegam são destruídas depois de lançadas noutro orifício aberto na parede, o “buraco da memória” de onde são tragadas por uma corrente de ar para devida incineração.

Winston não acredita no Partido. 
Dentro de si, odeia o Big Brother, assim como o estilo de vida miserável imposto pelo Socialismo Inglês.
Winston vive o desespero do oprimido. 
Por todas as partes, devido ao sistema social, o que vê é a doutrinação mental em nome da submissão. Ele, que em seu trabalho adultera o passado, procura ao iniciar o seu diário, concretizar algum pensamento coerente e linear; teorizar alguma realidade sã, como numa forma de resistência contra os cânones do duplipensar. 

Winston é um dos membros do Partido, como todos os que trabalham em qualquer departamento de qualquer ministério. Pertence, portanto, à classe média, fatia da população mais controlada, posta sob jugo comportamental e de pensamento.
Depois de iniciar o seu diário, tem a certeza de que será punido, pois seria impossível não ser descoberto.
Winston ousa procurar uma amante, Júlia, em busca de prazer sexual, desafiando o crimesexo, além de considerar entre os colegas de trabalho outros possíveis dissidentes em relação ao Ingsoc e iniciar uma
pesquisa nos bairros pobres sobre o período anterior ao advento socialista.
Bebe e fuma, alimenta-se mal com a comida que lhe é oferecida pelo Sistema, e refugia-se no intrincado trabalho intelectual das suas funções para suprimir os dissabores e angústias da sua vida pessoal.

Em determinado ponto do romance, Winston acredita ter encontrado a organização de nome “Fraternidade”, que consistiria num grupo secreto de inimigos do Partido. Foi-lhe entregue então, por seu futuro torturador, que era na verdade membro do Partido Interno, o livro intitulado Teoria Prática do Coletivismo Oligárquico, assinado como obra de Emmanuel Goldstein – figura quase tão mítica quanto o Big Brother, antagónico a ele, representante da traição, inimigo, herege a ser odiado a todo custo. 
Neste livro, Winston encontra teorias coerentes com o pensamento real, tomando por pensamento real algo distinto do duplipensar. 

O protagonista, Winston Smith, representa o contraponto ao regime. 
Logo começa a questionar o modo como age o Estado. 
Winston faz parte do Ministério da Verdade, tendo como função alterar dados para que toda a história, comunicado e documento estivesse de acordo com o que o partido pregava. A crimideia acontecia justamente quando alguma pessoa era denunciada por questionar esses documentos. A punição era aplicada pela Polícia do Pensamento, que eliminava a pessoa. 
“Crimideia não acarreta a morte: crimideia é a morte.”
 
Funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro ministérios que governam Oceânia, a sua função é falsificar registros históricos, a fim de moldar o passado à luz dos interesses do presente tirânico (prática, aliás, comum na União Soviética). 
A opressão era física e mental. 
A Polícia das Ideias atuava como uma ferrenha patrulha do pensamento. 
Relações amorosas estavam entre as muitas proibições. 

Nesse cenário de submissão onde não há mais leis, mas sim inúmeras regras determinadas pelo Partido, ninguém nunca viu o Big Brother em pessoa. Uma ideia genial do autor: o tirano mais amedrontador é também aquele mais abstrato. Winston detesta o sistema, porém evita desafiá-lo além das páginas do seu diário. 

Isso muda quando se apaixona por Júlia, funcionária do Departamento de Ficção.
Julia, é inspirada na segunda esposa de Orwell, Sonia Orwell.
O sentimento transgressor o faz acreditar que uma rebelião é possível. Mas combater o regime não é nada fácil. Enredada numa trama política, a “reeducação” dos amantes será brutal.
Julia é a heroína da história, uma mulher bem humorada que tem o mesmo espírito contestador de Winston. Quando se encontram imediatamente se identificam e começa a brotar o amor. O casal pede transferência dos respectivos postos de trabalho e conseguem trabalhar juntos.
A alegria, no entanto, dura pouco. 
Winston e Julia são desmascarados e presos. 
Ambos não resistem às pressões dos interrogatórios, e denunciam-se um ao outro.
Poucos descreveram tão bem a tortura política. 
Nas páginas de 1984, O’Brien, um figurão do Partido, usa um método especialmente cruel: o flagelo com ratos. “Eles saltarão para o teu rosto e começarão a devorá-lo. Às vezes atacam primeiro os olhos. Às vezes abrem caminho pelas bochechas e devoram a língua”, diz a Winston.

O romance acontece na "Pista de Pouso Número 1" (anteriormente conhecida como Grã-Bretanha), uma província do superestado da Oceania, num mundo de guerra perpétua, vigilância governamental omnipresente e manipulação pública e histórica. 
Os habitantes deste superestado são ditados por um regime político totalitário eufemisticamente chamado de "Socialismo Inglês", encurtado para "Ingsoc" na novilíngua, a linguagem inventada pelo governo. O superestado está sob o controle da elite privilegiada do Partido Interno, um partido e um governo que persegue o individualismo e a liberdade de expressão como "crime de pensamento", que é aplicado pela "Polícia do Pensamento".
A tirania é ostensivamente supervisionada pelo Big Brother, o líder do Partido que goza de um intenso culto de personalidade, mas que talvez nem sequer exista. O Partido "busca o poder por seu próprio bem. Não está interessado no bem dos outros, está interessado unicamente no poder". 

A história narrada é a de Winston Smith, um homem com uma vida aparentemente insignificante, que recebe a tarefa de perpetuar a propaganda do regime através da falsificação de documentos públicos e da literatura a fim de que o governo sempre esteja correto no que faz. Smith fica cada vez mais desiludido com sua existência miserável e assim começa uma rebelião contra o sistema. 
Winston, um apagado funcionário do Ministério da Verdade da Oceania, parte da indiferença perante a sociedade totalitária em que vive, passa à revolta, levado pelo amor por Júlia e incentivado por O'Brien, um membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza; e acaba por descobrir que a própria revolta é fomentada pelo Partido no poder. E descobre também, que no Quarto 101, o chamado "pior lugar do mundo", todo o Ser Humano tem os seus limites.

Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e dedicarem-se a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Big Bother. 
Smith não tem muita memória da sua infância ou dos anos anteriores à mudança política. Estranhamente, ele começa a interessar-se pela sua colega de trabalho Julia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Ao mesmo tempo, Winston é abordado por O'Brien, um burocrata do círculo interno do IngSoc que tenta cnvencê-lo a não abandonar a fé no Big Brother.

O Estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Os especialistas do Ministério da Verdade criaram a Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quando estivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Uma das mais curiosas palavras da Novilíngua é a palavra duplipensar que corresponde a um conceito segundo o qual é possível ao indivíduo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmente opostas e aceitar ambas. Os nomes dos Ministérios em 1984 são exemplos do duplipensar. O Ministério da Verdade, ao rectificar as notícias, na verdade estava a mentir. Porém, para o Partido, aquela era a verdade. Assim, o conceito de duplipensar é plausível para um cidadão da Oceania.
Outra palavra da Novilíngua era Teletela, nome dado a um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. Nele, o "papel de parede" (ou seja, quando nenhum programa estava a ser exibido) era a figura inanimada do líder máximo, o Big Brother.




Personagens

  1. Winston Smith - protagonista do romance, um homem comum fleumático.
  2. Júlia - Amante de Winston, uma secreta " rebelde da cintura para baixo", que elogia as doutrinas, é militante do Partido, enquanto vive secretamente em contradição com elas.
  3. O'Brien - Um agente do governo que engana Winston e Julia, fazendo-os acreditar que ele é um membro da Resistência Fraternidade, e convencendo-os a aderir a esta, e depois usa isso contra eles para torturá-los. Ele convence-os de que eles não devem apenas obedecer, mas amar o Big Brother. O'Brien pode ser visto como o principal antagonista da história.
  4. Big Brother - Autocrata da Oceânia. Actua de modo semelhante a "Joseph Stalin". Winston Smith relata que ele nunca foi visto, nem ninguém se lembra de ver o Big Brother, e sugere que ele pode não existir. Declaração de O'Brien que o Big Brother "nunca vai morrer" também contribui para esta teoria, sugerindo que o Big Brother pode ser apenas uma representação simbólica do partido como um todo. Sua imagem está em toda a parte, principalmente nos cartazes omnipresentes que advertem: "Big Brother is Watching You".
  5. Emmanuel Goldstein - Um ex-membro de topo e agora opositor do partido. Actua de modo semelhante a Leon Trotsky. Assim como o Big Brother, Goldstein, se alguma vez foi real, está provavelmente morto, ambos podem ter sido criados para fins de propaganda.




O Partido

É o grupo que se mantém no poder através de métodos totalitários, de forma explícita. O objetivo do partido não é nada menos do que o poder. O Partido é marcado pela omnipresença do Big Brother, que ao país governa e a todos vigia. O partido chama-se INGSOC (Socialismo Inglês).


Ministérios

Os Ministérios são as principais representações do Partido, e encarregados, cada um, de manter a harmonia da ideologia do Partido.
O Ministério da Paz ocupa-se da guerra, o da Verdade com as mentiras, o do Amor com a tortura e o da Fartura com a fome.
Essas contradições não são acidentais nem resultam da hipocrisia ordinária: são exercícios inconscientes de duplipensar. Pois é só reconciliando contradições que se pode reter indefinidamente o poder.

Ministério da Verdade (em Novilíngua: Miniver ou Minivero)
Prédio do Senado, é a suposta inspiração para o Ministério da Verdade
É responsável pela falsificação de documentos e literatura que possam servir de referência ao passado, de forma que ele sempre condiga com o que o Partido diz ser verdade atualmente. Seguindo essa lógica, o Partido é infalível, pois nunca errou.

Ministério da Paz (em Novilíngua: Minipaz ou Minipax)
É responsável pela Guerra. Mantendo a Guerra contra os inimigos da Oceânia, no caso Lestásia ou Eurásia. A Guerra no contexto do livro é usada de forma permanente para manutenção dos ânimos da população num ponto ideal. Uma forma de domínio também.

Ministério da Fartura (em Novilíngua: Minifarto) ou Ministério da Riqueza (em Novilíngua: Minirrico)
É responsável pela fome. Em termos práticos, a economia da Oceânia é responsabilidade deste. Divulgando seus boletins de produção exagerados fazendo toda a população achar que o país vai muito bem. Entretanto, seus números faraónicos de nada adiantam para o bem-estar da camada mais baixa da população de Oceânia, a prole.

Ministério do Amor (em Novilíngua: Miniamo ou Miniamor)
É responsável pela espionagem e controle da população. O Ministério do Amor lida com quem se vira contra o Partido, julgando, torturando e fazendo constantes lavagens cerebrais. Para o Ministério, não basta eliminar a oposição, é preciso convertê-la. O prédio onde está localizado é uma verdadeira fortaleza, sem janelas. Seus "habitantes" não têm a menor noção de tempo e espaço, sendo este mais um instrumento para a lavagem cerebral dos dissidentes do regime. 
O sítio mais temido é o Quarto 101.



Novilíngua

No continente fictício de nome Oceania, traz como língua oficial no ano de 1984 a Novilíngua, criada para atender as necessidades do sistema político vigente, o Socialismo Inglês. 
O novo idioma é baseado na antiga língua inglesa, chamada de Anticlíngua, uma vez que a história dos protagonistas se passa na Inglaterra, mais especificamente em Londres. 
No ano de 1984 ainda não havia ninguém que utilizasse exclusivamente a Novilíngua como meio de comunicação, escrita ou falada. Os editoriais do Times eram escritos em Novilíngua, mas isso exigia um esforço sobre-humano que somente um especialista seria capaz de empreender. 
Esperava-se que a Novilíngua tivesse substituído definitivamente a Anticlíngua (ou inglês comum, como deveríamos chamá-la) por volta de 2050. Entretanto, ela ia ganhando terreno de maneira segura e todos os membros do Partido tendiam, cada vez mais, a usar palavras e construções gramaticais da Novilíngua na sua linguagem coloquial. 
Editada constantemente por intelectuais pertencentes ao partido dominante, o objetivo da Novilíngua era, reduzindo seu número de vocábulos a cada ano, tornar-se uma língua extremamente objetiva, ortodoxa, que não permitiria, pela ausência de vocábulos, o logro de determinados pensamentos, visando a longo prazo à obediência e ao amor cegos pela autoridade, não pela concordância, mas pelo condicionamento mental, pela incapacidade cognitiva de questionamento. 
Isso era obtido, em parte, pela invenção de novas palavras, mas principalmente pela eliminação de palavras indesejáveis e pelo esvaziamento, das palavras restantes. Ao contrário das outras línguas, onde cada vez mais são anexadas novas gírias e conceitos, a novilíngua retira termos, como antónimos e sinónimos. 
Uma das características da novilíngua é o facto de ela ser a primeira língua a reduzir seus termos.
Por exemplo: a palavra livre ainda existia na Novinlíngua, mas só poderia ser utilizada em frases como “este cachorro está livre de pulgas”, ou “este jardim está livre de ervas daninhas”. Não podia ser utilizada no seu antigo sentido de “politicamente livre” ou “intelectualmente livre”, uma vez que a liberdade política ou intelectual já não existiam mais como conceitos e, portanto, não tinham necessidade de ser nomeadas.
Somente assuntos estritamente ligados e favoráveis ao Partido permitiriam alguma paixão no tom da fala, qualquer outra empolgação poderia denunciar o cidadão por algum crime de pensamento.

Entre os exemplos citados no livro, se algo é "bom", não é necessário existir a palavra "mau", simplesmente seria "imbom", sendo o prefixo "im-" (ou "in-") característica antonímia da palavra. Também não é necessário existir "óptimo" ou melhor que bom, seria simplesmente "plusbom". Se fosse melhor ainda, seria "dupliplusbom".

Outra característica básica da novilíngua é o facto de não representar pensamentos errados ou como chamadas "crimideias", afinal, se não era possível definir algo, seria como se esse algo não existisse.

  1. Duplipensar - Duplo pensamento, duplicidade de pensamentos, saber que está errado e se convencer que esta certo. "Inconsciência é ortodoxia".
  2. Crimideia - Crime ideológico, pensamentos ilegais[30]
  3. Impessoa - Uma pessoa que não existe mais, e todas as referências a ela devem ser apagadas dos registros históricos
  4. Bempensante - Pessoa naturalmente ortodoxa
  5. Crimideter - "Faculdade de deter, de paralisar, como por instinto, no limiar, qualquer pensamento perigoso. Inclui o poder de não perceber analogias, de não conseguir observar erros de lógica, de não compreender os argumentos mais simples e hostis ao Ingsoc, e de se aborrecer ou enojar por qualquer trem de pensamentos que possa tomar rumo herético." - Como citado pelo próprio autor no livro.
  6. Negrobranco - Como muitas outras palavras em Novilíngua, esta tem dois sentidos mutuamente contraditórios. Quando é aplicada a um adversário, é o hábito de se afirmar que o negro é branco, apesar dos fatos evidentes. Quando aplicada a um membro do Partido, simboliza a lealdade de afirmar que preto é branco, se isso for exigido pelo Partido. Também significa acreditar que o preto é branco, ou até mais, saber que o preto é branco, e acreditar que jamais foi o contrário.




Estrutura social no livro

A divisão de classes sociais no ano de 1984 do livro apresenta três esferas bem definidas no continente de nome Oceania, no qual se passa a ação da história: 
  1. Alta - Grande Irmão e Partido Interno (2%)
  2. Média - Partido Externo (13%)
  3. Baixa - Proles (85%)
A elite é chamada de Partido Interno e contém grupos de intelectuais e dirigentes, pequena em número e detentora de conforto, fartura e poder. São os doutrinadores, que possibilitam as urdiduras sociais. A princípio, o único líder seria o Grande Irmão, sempre justo, correto e amável. Todavia, os membros da elite compõem a cúpula que sustenta a imagem do líder, tornando possível a manutenção e idolatria desta figura mítica.
A classe média, por sua vez, abarca as famílias dos membros do Partido Externo, participantes de qualquer função em todas as ligas e departamentos dos ministérios, assim como demais associações do governo. Recebem moradia e alimentação, são controlados no interior de seus lares e educados consoante a História reescrita dos livros didáticos do Partido. 
As crianças da classe média aprendem a denunciar os pais, com orgulho, para a Polícia do Pensamento, tornando-se pequenos espiões dentro das famílias, apaixonados pela tarefa de servir o Big Brother.
Às jovens do sexo feminino, por sua vez, cabe a Liga Juvenil Anti-Sexo, grupo de ativistas contra o prazer sexual. 
A classe média não é a maior faixa da população da Oceania em número, mas é o grupo ao qual interessa à elite dominar. Desde a educação até aos seus hábitos sexuais, são ensinados a obedecer cegamente e amar o que o Partido considera nobre, odiar o que o Partido considera repulsivo e inferior.
O fito do Partido, revelado ao fim de 1984 como sendo o poder pelo poder, não estaria, pois, em dominar a população baixa e ignóbil, mas sim a classe média, criada por si somente para ser mantida sob o seu controle, vivendo conforme as regras do Ingsoc.
A classe baixa, última camada da pirâmide social, a seu tempo, recebe a denominação de “proles”. Em número, englobam 85% da população da Oceania, mantidos nas áreas periféricas, miseráveis, têm liberdade sexual e não são controlados por teletelas. Ao contrário dos membros do Partido Externo – classe média – não possuem deveres cívicos nem participam de desfiles e passeatas. São como animais, mantidos para servirem de exemplo à classe média; para que a mesma se orgulhe do posto “privilegiado” que ocupa, amando seus deveres cívicos para diferenciar-se da camada dos proles; rejeitando o sexo livre, animalesco, comum entre tais indivíduos, além da sua alienação política. É aqui, na periferia dos proles, que Winston e Julia se encontram clandestinamente.

Alguma liberdade sexual para os homens era permitida, com a pornografia criada pelo Partido Interno e com as prostitutas, e seria a compensação para a submissão em todos os outros âmbitos do comportamento. Ao aliviar-se sexualmente de maneira furtiva, o homem contentar-se-ia de momento. 
O sexo, entrementes, deveria ocorrer, entre um homem do Partido Externo e uma “mulher prole”. Evitar-se-ia de antemão, assim, qualquer forma de prolongamento ou relação entre os envolvidos, uma vez que pertencem a universos incongruentes.

Em 1984, através de material pornográfico criado pelo Partido, saciava-se o instinto sexual humano, e também a prostituição é tolerada, parcialmente, em nome de determinados objetivos.
Andar com prostitutas era proibido, naturalmente, mas era dessas regras que às vezes os militantes tinham coragem de quebrar. Era perigoso, mas não caso de vida ou morte. Ser apanhado com uma prostituta poderia significar cinco anos num acampamento de trabalhos forçados; apenas isso, se não houvesse outra infração. E era fácil, contanto que se evitasse ser surpreendido no acto. Os bairros pobres pululavam de mulheres prontas a se entregarem. 
Tacitamente, o Partido se inclinava até a incentivar a prostituição, para dar saída a instintos que não podiam ser totalmente suprimidos. Mera luxúria não tinha maior importância, contanto que fosse furtiva e sem alegria, e só envolvesse mulheres de uma classe submersa e desprezada. 

O crime imperdoável era a promiscuidade entre membros do Partido, como era o caso do romance entre Winston e Júlia, e por isso se encontravam sempre na periferia dos Proles.
O controle sexual sublimaria as diferenças sociais entre a classe média e a baixa, depositando nesta última, a pejorativa permissividade a ser repelida pelos indivíduos considerados “mais civilizados”.
Não só o amor como o erotismo eram o inimigo, tanto dentro como fora do casamento. 
Todos os casamentos entre membros do Partido tinham de ser aprovados por um comitê nomeado para este fim e – embora o princípio jamais fosse claramente declarado – a permissão era sempre recusada se o casal desse a impressão de haver qualquer atração física. 
O único fim reconhecido do casamento era procriar filhos para o serviço do Partido.
A cópula devia ser considerada uma pequena operação ligeiramente repugnante, como um clister. Isto tampouco era dito em voz alta, mas de modo indireto era ensinado a cada membro do Partido, desde a infância.


A elite domina a classe média em toda a sua liberdade, inclusive mental, para que esta não tenha oportunidade de no futuro inverter posições com a classe dominante. 
O nojo incutido na mentalidade da classe média em relação à baixa, em 1984, seria a garantia de que a aliança entre ambas não se concretizaria. 
A classe baixa, por sua vez, era animalizada e mantida em deliberada imbecilidade com o intuito de jamais reconhecer a realidade do universo social em que se enquadra, narcotizada pela cultura barata e massiva do prolealimento.




O mundo do livro

No mundo dominado pelo socialismo, os cinco continentes seriam divididos em apenas três: 
  1. Oceania, 
  2. Eurásia,
  3. Lestásia. 
Além destes megablocos, Orwell também descreve a existência de determinada faixa intermediária
entre Oceania, Eurásia e Lestásia, o chamado “quadrilátero em disputa”, cuja conquista territorial seria, na fala dos governantes, um dos motivos das incessantes guerras entre continentes.
Para criar os dois primeiros “superestados” Orwell se valeu dos antagónicos Estados Unidos e Rússia, que no contexto do fim dos anos 40 viviam o período de Guerra Fria. 
Definidos os territórios dos três megablocos podemos teorizar o quadrilátero em disputa como a junção do norte da África e o Oriente Médio.

No livro, as nações dividem-se em três grandes impérios modernos, que são grandes potências:

  1. Oceania - o maior dos impérios, governa toda a Oceania, América, Islândia, Reino Unido, Irlanda e grande parte do sul da África.
  2. Eurásia - o segundo maior império, governa toda a Europa (exceto Islândia, Reino Unido e Irlanda), quase toda a Rússia e pequena parte do resto da Ásia.
  3. Lestásia - o menor império, governa países orientais como China, Japão, Coreia, parte da Índia e algumas nações vizinhas.
  4. Territórios sob disputa: Outros territórios, como o norte da África, o centro e o Sudeste da Ásia (quadrilátero formado entre as cidades de Brazzaville, Darwin, Hong Kong e Tânger), além de todo o território da Antártica.

No ano de 1984 a Oceania está em guerra contra a Eurásia, o que significa historicamente que o continente sempre estivera em conflito contra o exército eurasiano, e tem como aliado o continente de nome Lestásia.

O Big Brother, figura de liderança ideológica utilizada pelo Partido Interno como forma de personificação do poder, tem como inimigo a figura de Emmanuel Goldstein, sendo a população atiçada contra este inimigo durante as atividades de dever cívico, préstitos de prisioneiros eurasianos, ou nos “Dois minutos de Ódio” – atividade obrigatória e frequente, na qual os cidadãos são colocados diante de telas com imagens de Goldstein e impelidos a revoltarem-se.

A guerra contra a Eurásia não possui fundamentos concretos, daí a necessidade do duplipensar para a aceitação nas contradições históricas; isso porque, no ano de 1984, durante um discurso, o inimigo deixa de ser a Eurásia para ser a antiga aliada, Lestásia; a História tinha mudado, era desnecessário dizer. A guerra, a partir daquele momento, nunca tinha sido contra a Eurásia, e sim, sempre contra a Lestásia.

Duplipensar é um estado mental; um comportamento a favor do contexto dominante para evitar conflito. 
É a hipocrisia aliada à inescrutabilidade, a união paradoxal que torna verdade qualquer impropério, desde que o pensamento condicionado julgue fiel e cívico tal “contorno da realidade”.
Duplipensar quer dizer a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas. É a forma “inconsciente” e “automática” de considerar-se uma situação para a interpretação dual da realidade exigida pelo duplipensar. 
Este último seria uma preparação infligida pelos termos sociais, pela língua criada pelo Partido e pelo instinto de conservação – uma vez que as crimideias resultariam na vaporização do indivíduo. 
A submissão ao duplipensar enquadrar-se-ia, pois, num requisito necessário para a manutenção do indivíduo dentro do meio, selecionando os mais aptos para a sociedade oligárquica. 
É previsível que o duplipensar ofereça toda a comodidade para a aceitação passiva, como numa religião, dos paradigmas superiores e privações decorrentes da classe social a que se pertença. Em 1984 tal teoria – literalmente positivista e organicista, note-se – aplicar-se-ia, pois, somente às duas camadas superiores do sistema social.

A alienação dos proles é tanta, que a eles é dispensado o uso do duplipensar, já aos membros do Partido Interno tal alternativa é essencial para a manutenção dos próprios interesses, tanto quanto à classe média, que se capaz de sorver os conceitos da ideologia de pensamento criada pelo Ingsoc, poderá de facto acreditar-se parte integrante do meio, e justificar os seus esforços como sendo em direcção ao bem do seu “colectivismo oligárquico”, justificando um dos três lemas principais do Partido: 
“Liberdade é escravidão”.

Escravidão é liberdade. 
Sozinho, livre, o ser humano é sempre derrotado. 
Assim deve ser, porque todo o ser humano está condenado a morrer, que é o maior dos fracassos. Mas se puder realizar uma submissão completa, total, se puder fugir à sua identidade, se puder fundir-se no Partido, então ele é o Partido, e é omnipotente e imortal.

A revolução do Ingsoc ocorreu entre as décadas de 1950 e 1960 – nascia e criava-se uma nova geração de indivíduos que nunca viveram noutro tempo, recebendo portanto a ideologia do Partido como verdade única dentro das novas formas de pensar.
Através do duplipensar, para os novos cidadãos tudo é possível. 
O passado não existiu, e não há outra verdade senão a do Socialismo Inglês. 
“Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”.






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