... se houvesse alguma coisa mais valiosa de dizer ou escrever, neste momento
do que a incomunicável cumplicidade silenciosa, em comunhão,
enquanto tudo se desfaz, ainda assim permanecendo fidelissimamente aberto
o Delicado Coração, o Coração Inocêncio,
o Ser observando o sem fim que aparentemente termina,
o Ser sem mente: o Ser Inocêncio
observando o sem fim que aparente termina
- muda de forma, e se refina - mistério imenso
ondas de choque
e silêncio.
observando a Vida como fases da maré:
na vazante, a despedida
e na cheia, um novo início.
a cada viagem, que é um Regresso,
uma partida, um recomeço
neste tremendo mistério, o indício
em cada morte, de toda a Vida
e se cada viagem é Regresso
e cada partida, recomeço
agradeço à Vida por cada fase, cada onda, e lhe peço
- enquanto nos leva, eleva a todos em sua asa -
que seja leve para quem parte, e para quem fica,
a viagem de regresso a Casa
e alegre a chegada, que é despedida,
enquanto regressamos todos a Casa
e chegados ao fim do sem fim
acabamos todos por regressar
de malas feitas, sem bagagem,
à Casa da Partida
... se houvesse pois, neste momento, alguma coisa mais valiosa de dizer ou escrever,
do que a incomunicável cumplicidade silenciosa, em comunhão,
enquanto tudo se desfaz, e refaz, e flui, e dilui,
o Delicado Coração, enquanto puder Inocêncio,
aberto ao que há de mais terno, e ainda assim fugaz,
di-lo ia por escrito - mas assim sendo fica dito
tudo
o que há para dizer neste momento
só pode ser dito em silêncio
só pode ser dito o que pode ser dito pelo não dito
que a Vida move-se para a frente e para trás num movimento infinito
como maré que enche, como maré que vaza
Vida que vai e vem e chega e parte, e nos leva na sua asa,
Vida real ou sonhada, abraçada ou sofrida
celebrada ou adiada,
nem sempre aceite, ou compreendida,
Vida que sempre regressa a casa
a preparar nova partida...
Nuno Michaels
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