quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Janela





Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa.
Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal.
Quero comer devagar e gravemente 
como aquele que sabe o contorno carnudo 
e o peso grave das coisas.

Não quero possuir a terra mas ser um com ela.
Não quero possuir nem dominar 
porque quero ser: esta é a necessidade.

Com veemência e fúria 
defendo a fidelidade ao estar terrestre.
O mundo do ter perturba e paralisa 
e desvia em seus circuitos 
o estar, o viver, o ser.

Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário.
Dai-me a limpeza de que não haja lucro.
Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo.
Chegou o tempo da nova aliança com a vida.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN








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