Escuta, mãe (consegues ouvir-me na alquimia
da tinta?):
Não me esperes para além da poesia.
Ganharei coragem…
Não resumas a tua vida a um acumular constante
de infernos no corpo,
a este fel repetido, arremessado à sede como lança
capaz de matar o enlevo dos dias.
Mãe, as nossas vidas são pés de roseira…
Sinto falta dos almoços felizes de domingo,
da tua voz prostrada em fado a beijar-me
os ouvidos,
dos sorrisos mãe, que outrora, um ao outro
devolvíamos.
Perdoa-me, querida mãe.
Atravesso um deserto longe dos teus olhos,
mas no silêncio, mãe, no silêncio, ainda habito
contigo.
Quis o destino que o amor e a morte
se fundissem em poesia.
JOSÉ ALBERTO POSTIGA
in, A LITANIA DA CINZA
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