terça-feira, 13 de novembro de 2018

O Louco





Perguntais-me como me tornei louco. 
Aconteceu assim: 
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, 
despertei de um sono profundo 
e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas. 

sim, as sete máscaras que para mim tinha fabricado 
e utilizado nas minhas sete vidas. 

corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: 
- Ladrões, ladrões, malditos ladrões! 

Homens e mulheres riram-se de mim 
e alguns fecharam-se em casa, 
com medo de mim. 

E quando cheguei à praça do mercado, 
um rapaz que estava de pé 
no telhado da casa, 
gritou apontando-me com o dedo: 
- É um louco! 

Ergui os olhos para o ver, 
O sol banhou o meu rosto despido 
e a minha alma 
encheu-se de amor ao sol, 
e desde então 
nunca mais quis usar máscara. 

Depois gritei 
como se estivesse em transe: 
- Benditos, benditos os ladrões 
que me roubaram máscaras!” 

Foi assim que me tornei louco. 

encontrei muita liberdade 
e segurança 
na minha loucura; 
a liberdade da solidão 
e a segurança de nunca ser compreendido, 
pois aqueles que nos compreendem 
fazem de nós escravos. 

mas não deixem que me orgulhe demasiado 
da minha segurança; 
nem sequer o ladrão encarcerado 
está livre de encontrar outro ladrão. 


Khalil Gibran 
in O Louco






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