Europa acidental.
Europa acidental.
Aqui nem mal nem bem.
Aqui nem bem nem mal.
Aqui se alguém não é ninguém
é porque a gente nasce
de um modo ocidental:
Vivem uns bem e outros mal.
E afinal
é natural
(naturalmente)
que haja também
gente que é gente de bem
e gente que é apenas gente.
Europa acidental.
Europa acidental.
O mal
é ter na nossa frente
um mar de sal.
Um mar de gente
que de repente
(é assim mesmo: de repente!)
fica vazio e sem ninguém
se um dia alguém
por mal ou bem
quiser ser gente.
Europa acidental.
Europa acidental.
Não andar para trás
nem para a frente.
Nascer morto ou vivo
é tão normal
que é indiferente.
E vai-se toda a vida
na corrente.
E a gente morre de repente.
Sempre de costas.
Nunca de frente.
De morte necessária e natural
(naturalmente).
Europa acidental.
Europa acidental.
O principal
não é viver:
é estar presente
nesta maneira ocidental
de apodrecer decentemente.
Esta é uma questão fundamental
(é evidente!).
JOAQUIM PESSOA
in, PORTUGUÊS SUAVE
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