quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Estações





Gosto de te rever a silhueta
sob essa luz que revela
as cores quentes das folhas
que caem no Outono,
observando o desmaio suave
da tua saia no chão do quarto,
ou simples movimento descente
dos meus dedos pelo teu rosto.

Por detrás da horizonte das
memórias que construímos
repousa pergunta agreste que
sobrepuja o encantamento:
que pecado, silêncio ou grito
afugentou o Verão do nosso amor?

Sempre cuidaste as águas que navegas
plácidas como as de um lago
- avessas aos crepusculares arroubos de corsário velho de mil refregas! -
mas esquecidas do essencial:
até os barcos de água doce
pedem ventos e correntes que os animem,
como as cinzas suspiram pelo fogo
e as sementes pelo florir da árvore em nova Primavera.

Conjuro-te: em terra outrora fértil
ousemos ser jardineiros
podando velha árvore
ou dando à terra novas sementes.
Tanto faz! Mas não permaneças
na preguiçosa esperança de uma hibernação redentora. 
Lembra-te: o Inverno é longo, a vida breve, 
as recordações por si só mortais.

"Vem" e "adeus" esperam-nos:
abraço apaixonado ou costas voltadas,
decidamos nós sentença e destino, que
as estações seguem livre curso e
do juízo do tempo
não haverá apelação. 


Rui Amaral Mendes (RAM Maverick)
Júlio Machado Vaz 
in, Frágil




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