quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Ladainha dos Póstumos Natais





Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que se veja à mesa o meu lugar vazio 
Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido 
Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que só uma voz me evoque a sós consigo 
Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que não viva já ninguém meu conhecido 

Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que nem vivo esteja um verso deste livro 
Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que terei de novo o Nada a sós comigo 

Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que nem o Natal terá qualquer sentido 
Há-de vir um Natal e será o primeiro 
em que o Nada retome a cor do Infinito 



David Mourão-Ferreira
in, 'Cancioneiro de Natal' 







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