terça-feira, 13 de setembro de 2016

A VERDADEIRA NATUREZA DO ESPAÇO E DO TEMPO





Agora considere o seguinte: se não houvesse mais nada a não ser o silêncio, ele não existiria para si; você não saberia o que ele é. Somente quando aparece o som é que o silêncio passa a existir. 
De modo idêntico, se houvesse apenas espaço sem quaisquer objectos no espaço, ele não existiria para si.

Imagine-se como um ponto de consciência flutuando na vastidão do espaço – nenhuma estrela, nenhuma galáxia, apenas o vácuo. 
De repente, o espaço deixaria de ser vasto; deixaria pura e simplesmente de existir.
Não haveria nenhuma velocidade, nenhum movimento daqui para ali.
São precisos pelo menos dois pontos de referência para a distância e para o espaço existirem. 
O espaço passa a existir no momento em que o Um se torna dois e quando o "dois" se torna nas "dez mil coisas", como Lao Tsé chama ao mundo manifesto; então o espaço torna-se cada vez mais vasto. Portanto, o mundo e o espaço surgem ao mesmo tempo.

Nada existiria sem espaço e, no entanto, o espaço nada é. 
Antes de o Universo ter surgido, antes do big bang se preferir, não havia um vasto espaço vazio à espera de ser preenchido. Havia apenas o Não-Manifesto – o Um. Quando o Um se tornou nas "dez mil coisas", foi como se de repente o espaço permitisse a existência da multiplicidade.
De onde veio o espaço?
Terá sido criado por Deus para alojar o Universo? É claro que não.
O espaço é coisa nenhuma, portanto nunca foi criado.

Saia à rua numa noite límpida e olhe para o céu. Os milhares de estrelas que consegue ver a olho nu não passam de uma ínfima fracção de tudo o que existe nele. Mil milhões de galáxias já podem ser detectadas por meio dos mais poderosos telescópios, cada galáxia é um "universo-ilha", contendo milhares de milhões de estrelas. E, no entanto, o que é ainda mais assombroso é a infinidade do próprio espaço, a profundidade e a quietude que permite que toda essa magnificência seja. Nada é mais assombroso e majestoso do que a vastidão e a quietude inconcebível do espaço e, no entanto, o que é ele? 
Vacuidade, uma vasta vacuidade.

O que nos aparece como espaço no nosso Universo percebido através da mente e dos sentidos é o próprio Não-Manifesto exteriorizado. É o "corpo" de Deus. E o maior milagre é este: essa quietude e vastidão que permitem ao Universo ser não estão apenas lá fora no espaço – estão também dentro de si. Quando você se encontra absoluta e totalmente presente, descobre-o sob a forma do sereno espaço interior da ausência da mente. Dentro de si, o espaço é vasto em profundidade, não em extensão.
A extensão espacial é afinal de contas uma percepção errónea da profundidade infinita – um atributo da realidade transcendental única.

Segundo Einstein, o espaço e o tempo não estão separados. Na verdade nãocompreendo muito bem, mas penso que ele quererá dizer que o tempo é a quartadimensão do espaço. Chama-lhe ele o "contínuo espácio-temporal".

Sim. Aquilo que você apreende exteriormente como espaço e tempo é, em última análise, uma ilusão, mas contém em si um núcleo de verdade. São os dois atributos essenciais de Deus, a infinidade e a eternidade, percebidos como se tivessem uma exis- tência externa, fora de si. Dentro de si, tanto o espaço como o tempo têm um equivalente interior que lhe revela a sua verdadeira natureza ao manifestar a natureza dele. Enquanto que o espaço é o reino infinitamente profundo e sereno da ausência da mente, o equivalente interior do tempo é a presença, a consciência do Agora eterno. Lembre-se de que não há distinção entre eles. Quando você se apercebe no seu interior do espaço e do tempo como sendo o Não-Manifesto – ausência da mente e presença – o espaço e o tempo exteriores continuam a existir para si, mas tornam--se muito menos importantes. O mundo também continua a existir para si, mas deixa de o prender.

Daí que o objectivo final do mundo resida não no próprio mundo, mas numa transcendência do mundo. Tal como você não estaria consciente do espaço se não houvesse objectos no espaço, também o mundo é necessário para se compreender o NãoManifesto.

Talvez já tenha ouvido o ditado budista:
"Se não houvesse ilusão, não haveria iluminação" 

É através do mundo e, em última análise, através de si que o Não-Manifesto se conhece a si próprio. Você está aqui para permitir que o objectivo divino do Universo se revele! 

Compreende agora como você é importante?


Eckhart Tolle
in, Poder do Agora
Portais para o Não-Manifesto (cap 7)


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