terça-feira, 7 de julho de 2015
Nenhum Olhar
“Nenhum olhar”, o romance de José Luís Peixoto, foi publicado pela primeira vez em 2000.
Com ele, o escritor venceu o Prémio Literário José Saramago, 2001.
Com ele alcançou o reconhecimento internacional.
Foi o primeiro livro dele que li...está todo sublinhado, cheio de notas...
O romance acontece numa vila alentejana, onde ouvimos homens e mulheres a falar sobre a vida, a morte e a passagem do tempo. E ali, as vidas são duras.
Na altura, uma amiga ficou chocada com o estado do livro.
Disse-me que tinha profanado o livro.
Opiniões...
Tenho outros livros dele no mesmo estado, como é o caso do livro "Uma casa na escuridão".
Eu não consigo ler de outra forma...excepto a poesia...essa não faço nem um risco, só dobro a ponta da folha para reler mais tarde.
O livro começa assim:
Hoje o tempo não me enganou.
Não se conhece uma aragem na tarde.
O ar queima, como se fosse um bafo quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor.
Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfiados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso:
Talvez o céu seja um mar de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu…
E termina assim:
O mundo acabou.
E não ficou nada.
Nem as certezas. Nem as sombras. Nem as cinzas. Nem os gestos. Nem as palavras. Nem o amor. Nem o lume. Nem o céu. Nem os caminhos. Nem o passado. Nem as ideias. Nem o fumo.
O mundo acabou. E não ficou nada.
Nenhum sorriso. Nenhum pensamento. Nenhuma esperança. Nem consolo. Nenhum olhar.
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