As pessoas frequentemente falam sobre
a espiritualidade e o materialismo,
mas o que esses termos significam realmente?
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Algumas pessoas pensam que a espiritualidade e o materialismo são completamente opostos, dois extremos inconciliáveis e que é impossível ser espiritualizado e materialista ao mesmo tempo.
Outros consideram que aqueles que buscam o caminho espiritual apenas o fazem porque estão infelizes com suas vidas, fracassaram no mundo material e não conseguem encontrar uma maneira de ser feliz, não conseguem enfrentar a vida na sociedade normal e, consequentemente, alucinam que em algum lugar lá em cima há um deus em quem podem acreditar.
Uma outra concepção errónea comum é que, se você for uma pessoa que busca o lado espiritual, deve abandonar todo o conforto material, não pode simplesmente apreciar ambos.
Esse tipo de contradição superficial é muito comum entre as pessoas desta Terra:
“Se for isto, não pode ser aquilo, se for aquilo, não pode ser isto”.
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Pessoas religiosas realmente sábias não possuem crenças extremas, como a alucinação de estar sob o controle de alguma força energética lá de cima. Portanto, não pense que aqueles que procuram o caminho espiritual estão todos alucinando, sendo crentes extremistas. O que eles são, depende de como compreendem a natureza do caminho que estão seguindo.
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Se você ouvir uma ideia que pareça fazer sentido, primeiramente veja se você pode prová-la através da experiência. Somente então você deveria adoptá-la como seu caminho espiritual.
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Mas abandonar sua natureza básica e tentar mudar a si mesmo de acordo com alguma ideia fantástica, como se estivesse mudando de roupa, isso é realmente alucinar. Isso é extremo demais.
Pessoas que fazem isso não tem nenhuma compreensão da natureza do caminho espiritual.
Isso é perigoso.
Verifique, nós temos a tendência de julgar as coisas muito superficialmente.
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Como eu disse, se nos perguntássemos qual é a natureza da espiritualidade e qual é a natureza do materialismo, cada um chegaria a uma resposta diferente.
Não haveria nenhuma conclusão unânime.
Isso é porque todos pensamos diferentemente e todos tivemos experiências diferentes na vida. Mesmo se você mostrar a um grupo de pessoas alguma substância material desconhecida e pedir que a identifiquem, elas o fazem baseadas em suas experiências precedentes e podem surgir muitas respostas diferentes. Por razões semelhantes, todos respondemos diferentemente quando nos pedem para definir a vida religiosa e materialista.
Meu ponto da vista é que seguir um caminho espiritual não significa, automaticamente, que você deve rejeitar as coisas materiais; e levar uma vida materialista não necessariamente o desqualifica do espiritual. De facto, mesmo se você for materialista, se realmente verificar a natureza da sua própria mente a fundo, encontrará uma parte dela que já é religiosa.
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Pode não ser intelectualizada, pode não ser sua filosofia consciente, mas há um córrego espiritual de energia que corre constantemente em sua consciência. Na verdade, mesmo os aspectos intelectuais e filosóficos da religião também estão na sua psique, mas não vieram dos livros ou dos papéis, sempre estiveram lá.
Então tenha cuidado. Suas percepções extremistas podem interpretar a espiritualidade e o materialismo como completamente contraditórios, mas eles não o são.
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Portanto, siga o caminho do meio o máximo que puder.
Evite o pensamento extremo: “Eu sou espiritual”, apegando-se firmemente a essa ideia, alucinando
sobre o que acha que deva ser uma vida espiritual e, assim, negligenciando a natureza básica da sua vida diária.
Se você realmente estivesse buscando uma vida espiritual, haveria mais harmonia e uma melhor cooperação entre as duas; em vez de uma barreira, haveria mais interesse e compreensão das
necessidades da vida diária. Uma barreira entre as duas significa que há algo de errado com o que você está chamando de caminho espiritual, em vez de estar aberto ao mundo ao seu redor, você está fechado. Consequentemente, a comunicação se torna difícil.
Se a religião que está praticando for um caminho verdadeiro e der respostas satisfatórias à sua mente descontente, você deveria estar melhor do que nunca ao lidar com a vida quotidiana e viver como um ser humano decente.
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Então, eu o incentivo a avaliar o todo.
Aprecie sua vida material tanto quanto puder, mas, ao mesmo tempo, compreenda a natureza da sua apreciação: a natureza de ambos, do objecto que está apreciando e da mente que está vivenciando essa apreciação e como os dois se relacionam.
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Digamos que eu dedique minha vida a um objecto:
“Esta flor é tão bonita. Enquanto ela viver a minha vida vale a pena ser vivida. Se esta flor morrer, eu quero morrer também".
Se eu acreditar nisso eu sou estúpido, não sou?
Naturalmente, a flor é apenas um exemplo, mas tal é a visão extrema da mente materialista.
Uma abordagem mais realista seria:
“sim, a flor é bonita, mas não durará. Hoje está viva, amanhã estará morta. Entretanto, minha satisfação não vem somente dessa flor e eu não nasci humano apenas para apreciar flores”.
Consequentemente, o que quer que você entenda por religião, por Budismo ou por ideias simplesmente filosóficas, deve ser integrado aos princípios da sua vida.
Então você pode testar:
“O descontentamento vem da minha própria mente ou não?”.
Isso é o bastante.
Isso é o bastante.
Você não precisa fazer mudanças extremamente radicais à sua vida, fechar-se do mundo, a fim de aprender que o descontentamento vem da sua própria mente. Pode continuar a levar uma vida normal, mas, ao mesmo tempo, tentar observar a natureza da mente descontente.
Essa abordagem é tão realista, tão prática e dessa forma você certamente começará a ter todas as respostas pelas quais procura.
Caso contrário, se aceitar alguma ideia radical e tentar desistir das coisas apenas no âmbito intelectual, tudo o que fará será perturbar sua vida.
Para que o corpo humano exista você deve, pelo menos, conseguir almoçar ou tomar café da manhã ou algo assim. Então seja realista. Não é necessário fazer mudanças externas radicais.
Apenas deve mudar internamente, parar de alucinar e ver a realidade.
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Muitas vezes não temos certeza do que queremos realmente.
Nós somos radicais demais, doentes mentais.
Um pensamento instável surge em nossas mentes e já agarramos aquela ideia e agimos por ela. Uma outra ideia surge, nós a agarramos e agimos de alguma outra maneira.
Eu chamo isso de esquizofrenia, não fazer uma análise. As ideias vêm e vão. Em vez de agarrar-se a elas, verifique-as.
Algumas pessoas tem ideias fixas: “Isto é absolutamente bom. Isto, eu odeio”.
Ou alguém diz que algo é bom e você automaticamente contradiz: “Não. Não. Não. Não.
Não”. Em vez de apenas rejeitar o que as pessoas dizem, questione porque o dizem.
Tente compreender porque você não concorda.
Quanto mais nos amarramos com ideias fixas, tanto mais problemas criamos para nós mesmos e para os outros.
Alguém muda algo e nos apavoramos.
Em vez de se apavorar, verifique porque estão mudando aquilo. Quando compreender suas razões, não ficará tão contrariado. Ideias fixas do tipo: ”Minha vida deveria ser exactamente assim” apenas
causam problemas. É impossível estabelecer, decisivamente, a maneira como sua vida deve ser.
A mente de todos, a natureza básica de todos, está constantemente mudando, mudando, mudando. Você deve aceitar isso e trazer alguma flexibilidade às suas ideias de como as coisas deveriam ser. As ideias fixas tornam a vida difícil.
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A psicologia do Buda nos ensina a abandonar esse tipo de apego, mas não abandonar de uma forma emocional, de rejeição, mas para seguir o caminho do meio, entre os dois extremos. Se você puser sua mente, sabiamente, nesse espaço do meio, encontrará a felicidade e a alegria.
Você não precisa se esforçar muito:
Automaticamente descobrirá um ambiente calmo, sua mente estará equilibrada e você viverá na paz e na alegria.
Eu acredito que já é o suficiente por enquanto.
Talvez até demais.
in, The Peaceful Stillness of the Silent Mind
A solução não é suprimir os nossos pensamentos e desejos,
pois isso é impossível,
seria como manter uma panela de água a ferver
pressionando firmemente na tampa.
Lama Thubten Yeshe
Acabei hoje de ler este livro...adorei!
Partilho aqui alguns dos excertos que mais gostei.
Partilho aqui alguns dos excertos que mais gostei.
Uma visão muito prática e realista da vida, e da filosofia budista...
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