“O sofrimento é uma parte relevante do feminino subterrâneo.
Ele pode permanecer inconsciente até que o advento da Deusa da Luz o desperte para a percepção, o mova do entorpecimento silencioso em direcção à dor.
Ao nível mágico da consciência ele é suportado de forma amenizada numa aparente “insensibilidade”.
Desse modo como que não há percepção de sofrimento.(...)
Mas o sofrimento é uma parte do feminino .”
Isto quer dizer que quando a mulher tem consciência da Deusa da Luz, o sofrimento que a sua ausência - ou a falta de consciência de si mesma - provoca, é anulado pelo conhecimento de uma parte de si que lhe faltava e que serve de suporte à sua evolução e a uma nova postura na vida.
Enquanto a mulher não fizer essa descida ao abismo que ela mesma é, ela não consegue deixar de sofrer a sua divisão e fragmentação e viverá como vítima secular reduzida a um instrumento de procriação e prazer ao serviço da sociedade, manietada pelo estado e pela religião.
Pois “a vida da mulher tem sido uma realidade de partos repetidos e verdadeiramente presenciados pela morte, um ciclo natural que manteve a maior parte de sua vida centrada na áspera malignidade da realidade, na sensação de estar vivendo à beira de um abismo.
Assim a criatividade feminina se consumiu nos partos, nas artes e manutenções domésticas - coisas sujeitas ao desgaste e à destruição, coisas a ser devoradas - além de não ter muito valor num contexto cultural mais amplo, embora constituam a força civilizacional básica de qualquer cultura, imediata e pessoal, construída nos pequenos interstícios do processo de manter a sobrevivência da família.
Num contexto destes não é de espantar que o homem judeu agradeça a deus por não ter nascido mulher.(...)”
Sylvia B. Perera
“CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA”
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