“Hoje, mais do que nunca, vivem-se quase exclusivamente relações de interesse.
É triste, mas é a mais pura das verdades.
Já poucas pessoas seguem aquilo que sentem e cada vez mais optam unicamente por aquilo que na altura julgam precisar ou ser o melhor para elas.
Vivem-se momentos de uma carência afectiva quase abusiva de tão evidente e dir-se-ia que começa a ser permitido quase tudo para se ter a sensação de que algo pode finalmente valer a pena.
Além do mais, parece que hoje passou a ser mais proveitoso ser amado do que amar, porque ser amado traz teoricamente mais certezas e tranquilidade do que amar alguém.
No entanto, a verdade é que aquele que quer apenas ser amado é aquele que normalmente mais sofre, precisamente porque nunca obtém nada daquilo que deseja, mas apenas aquilo que lhe dão.
Além disso, já quase ninguém faz nada ou muito pouco para mudar a qualidade das relações.
A grande maioria queixa-se de tudo e de nada e sai de uma relação para outra, exactamente igual à anterior, justamente porque não pára para compreender e aceitar que o problema não está somente no outro, mas também nele próprio.
Enquanto esta ideia não mudar, a culpa será sempre apenas do companheiro e nada mudará de significativo na atitude de ambos.
Na verdade, para que uma relação seja saudável, o mais importante é entender que o verdadeiro segredo está em vivê-la sem expectativas, mágoas, comparações ou ressentimentos, e deixar que o tempo pare naquele ponto em que ele próprio se transforma num tempo onde os interesses perdem todo o sentido e dão finalmente liberdade e lugar ao afecto.”
José Micard Teixeira
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