terça-feira, 15 de abril de 2014
O Copo
Há a metade vazia.
Na metade vazia caem as lágrimas e os suores frios do tempo perdido.
Caem os pensamentos das noites de amor perdidas, porque é nas noites e madrugadas que o amor melhor se faz.
Na metade vazia moram espectros de mundos obscuros, porque afinal é ali, no mundo, nos quartos de hotéis, nas estradas, nos aviões, carros e caminhos que estão as afinidades, a diástole, o sossego para contemplar o outro e o mundo.
No copo vazio está tudo o que se deixou por viver.
Há a metade cheia.
Na metade cheia estão as recordações.
Estão os poemas do êxtase, estão as cartas íntimas, está um livro de amor interminável.
Estão ostras, vinho, amor com todo o tempo para ser amor por nunca haver ali as palavras cansaço e limitado.
Estão os passeios de mão dada, as intermináveis conversas (de mão dada), conversas que não se quer que terminem.
Está o mundo e as viagens, está a coragem de ser e dizer, está a utopia da ilha do amor, afinal um lugar possível.
Estão as noites e os acordares, estão os filhos no quarto ao lado, estão os filhos a verem-se crescer, estão as noites de paz e de todos os sonhos possíveis.
Na metade cheia está a esperança do fim da dicotomia, da reforma da dualidade, da noite que conta ao dia que há maneiras de ser feliz todos os dias e de voltar sempre a casa, ao único lugar a que pode verdadeiramente chamar-se casa, onde sempre se chega cantando e rindo.
Um dia, muito mais tarde, saberemos dos porquês de todos os sacrifícios, o que restou, a que metade corresponde o cheio e o vazio.
Em duas metades de vida mergulhadas no amor.
Tiago Salazar
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