sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Felizes com o Presente





A falta de esperança, a concentração no presente é uma forma de felicidade, claro, mas não podemos ignorar tudo aquilo que a esperança nos dá. Há um sentido de crescimento na esperança. Queremos mais. Devemos é perceber se esse mais é vantajoso ou apenas um engodo ridículo. 

Há uma diferença em 
nos tornarmos melhores pessoas, 
mais sábias, ou 
termos um novo computador. 
São dois tipos de esperança, mas 
o resultado é muito diferente. 

Ser mais é radicalmente diferente de possuir mais. 
Mas para ser mais é preciso desejá-lo, não estar contente com a condição actual, ter esperança e lutar. 

Ao amar o presente e ignorar o futuro, desprezando-o, como uma ilusão, um nada, uma preocupação, um tempo em que não vivemos, paramos a evolução que depende da nossa esperança, dos nossos desejos. 

A ideia de que podemos ser felizes somente no presente e com o presente é redutora e limitada. 
Prefiro funcionar com o passado, desejar repetir, não do mesmo modo, mas na sua essência, felicidades passadas, assim como, evidentemente, espero evitar as infelicidades. 

O medo e a causa são úteis para que o caminho não seja suicida, desde que, claro, não sejam factor de paralisia nem conservadorismo nem vitimização ou miserabilismo. 
E neste sentido, a esperança é também importante. 
É o que nos faz agir e mudar, tendo também em conta que nem todas as mudanças são boas. 

As filosofias que nos tentam fazer viver presos exclusivamente ao presente, rejeito-as, mas não rejeito o presente, jamais seria tão tolo. O presente precisa de ser vivido sem medos nem nostalgias do passado nem sem preocupações nem ilusões relativas ao futuro. 

Mas não pode ser uma vivência exclusiva, 
e, creio, para uma vida boa, 
devemos saber equilibrar estes três tempos 
que constroem o nosso mundo, 
passado, presente e futuro. 
Memória, entrega e esperança. 




Afonso Cruz
in,  'Jalan Jalan'




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