segunda-feira, 3 de maio de 2021

Poema Insone


 





Levanta-se a luz 
surpreendendo as coisas
em sua indolência desirmanada 
o calor principia a operar 
o seu motim 
com todo o vazio do espaço
pela frente

esse ruído de fundo
que passa ao lado da nossa fanfarra inútil
essa fábula da morte e da vida
que teimamos em ignorar
como se bastasse encher os pulmões
e ficar em apneia
para impeder a violência
de terminar

se habitamos
a explosão de algo que ruiu
assim seremos
nenhum escândalo
tomar o pulso ao prazo de tudo
e fruí-lo na imensa probabilidade
de ser essa a via
para o nosso real
duramos para sempre 
na medida da nossa revolta
contra o frio
ecoando no crânio
de um simples pensamento

toda a escuridão
é um braço esticado
para a margem
e a margem
esta carne à revelia
com que povoamos
um mesmo lugar
de falta.


Vasco Gato





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