sexta-feira, 2 de outubro de 2020

FILÓSOFO PELA VERDADE?

Giorgio Agamben


 

Giorgio Agamben, o mais considerado e traduzido filósofo italiano, conotado com a esquerda e ateu confesso, publicou, há pouco, um livro, A che punto siamo? – Lepidemia come politica (Em que ponto estamos? – A epidemia como política), Edições Quodibet, no qual aborda a pandemia de COVID-19 e seus desenvolvimentos politico sociais.


Uma vez que, ao contrário do que lhe era habitual, tem sido ignorado pelos meios de comunicação social e possivelmente não será traduzido em mais nenhuma língua, aqui se trazem algumas passagens, desta sua mais recente obra, para conhecimento do público português:


“Pretendo chamar a atenção para a transformação que estamos a testemunhar, na vida social e política, em que um aparelho ideológico explicitamente totalitário opera através da instalação de um terror sanitário puro e simples, duma espécie de religião da saúde, transformando o estado de excepção numa prática cada vez mais normal, que, a continuar assim, acabará por liquidar a democracia parlamentar”.

“Limitou-se, sem motivo, o primeiro dos direitos do homem, o direito à verdade, através duma gigantesca operação de falsificação da verdade: fornecer os números sobre a epidemia de maneira genérica e sem nenhum critério científico, dando o número de mortos sem os comparar com a mortalidade anual no mesmo período e sem precisar a causa real da morte não faz sentido nenhum. 
Um paciente que deu positivo (nos testes PCR para o SARS COV-2) e tenha morrido de causa cardíaca ou outra é registado como tendo morrido de covid-19; e, nunca se fala dos números anuais de mortes por outras patologias, muito superiores ao número de mortes por covid-19.”

“Instalou-se um estado de coisas no qual o poder decide quais as notícias que devem ser consideradas falsas e quais as que podem ser consideradas verdadeiras.”

“As autoridades desdizem-se repetidamente, como no caso do uso ou não uso de máscaras; e mantem-se um enorme ponto de interrogação sobre as terapias aplicadas ou a aplicar.”

“Os médicos e virologistas admitem não conhecer bem este vírus e nem saberem bem o que é um vírus, mas pretendem, em função dele, decidir como os seres humanos devem passar a viver.”

“Para decidir aplicar medidas tão radicais de suspensão dos direitos fundamentais, as autoridades deveriam primeiro ter explicado ao povo, com uma exactidão extrema, todos os dados do problema e só depois, com controlo democrático, aplicar determinadas medidas cuja eficácia deveria ser monitorizada e avaliada diária publicamente.”

“Como foi possível que países inteiros tenham sucumbido, ética e politicamente, em face duma simples doença?”

“ O mantra generalizado é agora o “distanciamento social” – e, não distanciamento pessoal ou físico, como faria sentido – preparando uma nova estrutura da relação entre os seres humanos, pois uma urgência perpétua gera uma necessidade de segurança perpétua.”

“Criou-se intencionalmente uma gigantesca vaga de medo, causada pelo ser mais pequeno que existe, vaga de medo, essa, que as potências do mundo guiam e orientam, em função dos seus fins. 
Assim, num círculo vicioso perverso, a limitação da liberdade imposta pelos governos é aceite em nome do desejo de segurança, desejo esse, criado pelos mesmos governos que agora intervêm para o satisfazer.”

“ Uma das consequências ético-políticas não negligenciável, do “estado de emergência” é a abolição pura e simples do espaço público, uma vez que as medidas decretadas nos obrigam de facto a viver num estado de guerra. 
Mas, uma guerra, onde o inimigo é invisível e pode estar escondidos em cada um dos outros seres humanos, é a mais absurda das guerras.”

“ Em nome, não duma prova científica partilhada por todos os especialistas, mas dum fideísmo científico que, negando todas as fés religiosas, se apresenta como uma verdade absoluta que exige dos homens que não acreditem em mais nada a não ser na sua existência biológica pura (separada da vida afectiva, cultural e espiritual), a qual deve ser salva a qualquer preço, assistimos, nos últimos meses a um paradoxo que consiste em suspender a vida, para a proteger.”

“Como é possível aceitar que, em nome dum risco nunca especificado, pessoas que nos são queridas, e seres humanos em geral, morram sós e os seus corpos sejam incinerados sem funerais – coisa que nunca tinha acontecido, ao longo da História, desde Antígona até hoje.”

“Para instalar um estado de alarme generalizado e, em seguida um pânico colectivo, que tornou todos os demandos aceitáveis, foi necessário espalhar o terror sanitário através de um aparelho mediático unânime e sem falhas; e, deste modo, foi possível verificar que, em razão do medo da morte, as populações estão dispostas a aceitar limitações da sua liberdade que jamais tinham sonhado tolerar, nem durante as duas guerras mundiais, nem debaixo de ditaduras totalitárias. Tratou-se da mais longa suspensão da legalidade de que há memória sem que os representantes do povo tenham objectado o que quer que fosse.”

“ A utilização inconsiderada de decretos de urgência através dos quais o poder executivo se substituiu ao poder legislativo, aboliu o princípio da separação de poderes, princípio que define a democracia.”

“Este período ficará na história do mundo como um dos períodos mais vergonhosos e os seus dirigentes e governantes como dos mais irresponsáveis e eticamente inescrupulosos.“

“Os poderes do mundo decidiram usar o pretexto duma pandemia – pouco importa se real ou simulada – para mudar de alto abaixo o paradigma da forma como governam os homens e as coisas.”

“ A paranóia bio securitária instalada, conseguiu apresentar a suspensão de todas as formas de actividade política e relação social, como a forma mais elevada de participação cívica.”

“ A pandemia demonstrou sem sombra de dúvida que, para o poder, o cidadão se reduz à sua existência biológica.”

“Agora que os cidadãos não têm um direito à saúde mas são juridicamente obrigados à saúde assiste-se à implementação de um novo paradigma de biossegurança. 
Fica a dúvida se uma tal sociedade ainda se poderá definir como humana, ou se a perda das relações sensíveis, - dos rostos, das amizades, do amor - pode ser compensada por uma segurança sanitária abstracta e muito provavelmente, completamente fictícia.”

“ O grau de confusão que atingiu os espíritos que se deveriam ter mantido mais lúcidos, levou ao paradoxo de vermos organizações de esquerda, que deveriam reivindicar direitos e denunciar violações das constituições, aceitar sem reservas a limitação de liberdades essenciais decidida por decreto ministerial, sem qualquer legalidade – coisa que jamais o fascismo sonhou poder impor -, e dirigentes de direita – Trump e Bolsonaro – serem os que mais se opuseram às medidas de confinamento; demonstrando-se, assim, que a diferença entre direita e esquerda se esvaziou de qualquer conteúdo político real; a verdade é a verdade, seja dita à direita ou à esquerda”.

 “Sob um Papa chamado Francisco, a Igreja esqueceu que Francisco (de Assis) abraçava os leprosos; esqueceu que uma das obras de misericórdia consiste em visitar os doentes; esqueceu que os sacramentos só podem ser ministrados presencialmente; esqueceu que os mártires ensinam que é necessário estar preparado para sacrificar a vida para não perder a fé e que renunciar ao próximo significa renunciar à fé.”


Traduzido por,
Dr João Faria de Morais 
Médico Dentista





Cerca de 75 anos atrás, Hermann Göring testemunhou no tribunal de Nuremberg, ele foi questionado: "Como você fez o povo alemão aceitar tudo isso ???" 
Respodeu :
 "Foi fácil, não tem nada a ver com o nazismo, tem a ver com a natureza humana. Você pode fazer isso em um regime nazista, socialista, comunista, em uma monarquia e até mesmo em uma democracia. Tudo o que você precisa fazer para escravizar as pessoas é assustá-las. Se você consegue imaginar uma maneira de assustar as pessoas, pode obrigá-las a fazer o que você quiser."






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