terça-feira, 20 de outubro de 2020

Análise da Estrutura de Carácter






 Abordagem terapêutica 
desenvolvida por 
Alexander Lowen 
a partir das teorias e técnicas de 
Wilhelm Reich.



São formadas em momentos específicos do desenvolvimento infantil, e reforçadas a partir de então. 
A formação obedece à seguinte ordem cronológica a partir da concepção:
 
  • Esquizóide – Durante a concepção e primeiros dias após o nascimento; 
  • Oral – após o nascimento até aos 2 anos de idade; 
  • Psicopático: durante a primeira infância; 
  • Masoquista: durante a segunda infância 
  • Rígido: fase genital.


FASES DA INFÂNCIA:
  1. Primeira Infância - 0 aos 3 anos
  2. Segunda Infância - 3 aos 6 anos, idade pré-escolar
  3. Terceira infância - 6 aos 12 anos, idade escolar


Na visão reichiana, o caráter é o jeito de ser de cada um e está relacionado à dinâmica emocional das fases do desenvolvimento, à utilização de certos mecanismos de defesa, à estruturação mental de crenças internas, enfim, a um funcionamento energético, emocional e corporal. 

Há cinco tipos principais de carácter: 
  1. esquizóide, 
  2. oral, 
  3. masoquista, 
  4. psicopata
  5. rígido (fálico-narcisista, histérico e passivo). 
Cada um deles relacionado principalmente a uma das fases do desenvolvimento afetivo-sexual: visual, oral, anal, genital e diafragmática respectivamente. 

Há uma relação muito próxima entre os traços corporais e o jeito de ser de uma pessoa, o que envolve a sua modalidade de relacionamentos, os seus afetos predominantes, suas crenças internas, a sensibilidade que essa pessoa tem de seu próprio corpo, sua imagem corporal, sua identidade, sua sexualidade, etc.

O corpo e a postura têm uma relação íntima com os mecanismos de defesa e com as fases de desenvolvimento emocional. 
É curioso como as modalidades relacionais que se estruturaram na infância passam a fazer parte do repertório automático no dia a dia do adulto, mostrando como ainda está ativa a criança nele. Naquele momento quem está reclamando, quem está se boicotando é esse outro eu que nos habita e que tem profundas relações com a vida emocional infantil, a criança em nós.

Se fizermos um corte apenas no momento presente podemos perceber que as pessoas apresentam uma sensibilidade corporal seletiva. Há partes do corpo que elas sentem mais, outras que sentem menos ou até partes que não sentem. Falo de sensação não apenas muscular, mas também visceral, de ondas de prazer e de emoção. 

Em toda a neurose há uma certa anestesia do corpo. 

Sentindo mais o corpo, sentimos mais a angústia, a dor. O que é próprio do encouraçamento é justamente a diminuição da sensibilidade e da motilidade corporal. Uma forma de reduzir a dor profunda e a angústia através da diminuição da sensibilidade geral.

Couraças são mecanismos de proteção necessários 
para a integridade do ego ou da vida. 

Trabalhamos para atenuar a utilização de soluções anacrónicas, de recursos defensivos e protetores que foram fundamentais num determinado momento da vida do sujeito, geralmente na sua infância, quando seu ego era mais frágil, mas que atualmente poderia ter sido superado, mas ainda restringem a vida da pessoa.

No geral as couraças apresentam as seguintes funções:
  • Diminuem a vitalidade: respirando menos, sentimos menos.
  • Limitam a mobilidade e a motilidade, levando a um agir e sentir controlado através da diminuição e contenção das reações emocionais no corpo.
  • Estruturando o pensamento: crenças internas que reforçam as defesas: “Eu não mereço”, “eu não pertenço a este mundo”, “eu não confio em você”.
  • Estruturando a percepção: não percebo em mim o que não posso sentir. “Isto não é meu, é dele”; projeção.
  • As couraças levam a uma restrição motora, sensorial e emocional. A restrição sensorial leva diretamente a uma restrição perceptiva. Como diz Reich: “o organismo pode sentir somente o que ele por si mesmo expressa”. Não podemos perceber o que não podemos sentir e expressar em nós mesmos, ou, se percebemos, não conseguimos compreender. Quando calamos uma voz dentro de nós, temos dificuldade em ouvir esta voz vindo de outra pessoa.

Assim a couraça vai construindo um campo de coisas percebidas pela pessoa, organizando valores, um jeito de ser e responder às situações, e principalmente, uma visão de mundo.

Há uma concepção dualista dominante na cultura ocidental, que separa o corpo da alma. 
No entanto, pesquisas sobre bioquímica, neurotransmissores e genética, demonstram que o chamado mundo psíquico tem fortes raízes no biológico. Avanços na Psicologia desvelam um corpo emocional, erógeno, simbólico que é constitutivo do psiquismo e fortemente ativo nos fenómenos biológicos. Portanto cada área está a começar a descobrir fenómenos que eram da outra área.
Valores como auto-conhecimento, desenvolvimento pessoal, desenvolvimento espiritual, estão a substituir na Psicologia o valor médico de cura das patologias.
Não é a abordagem psicológica ou biológica que está certa ou errada; o problema é de outra ordem. 
O que falta, isto sim, é uma abordagem que lide com a lógica interna da unidade psicossomática.

No entanto, uma perspectiva “de dentro”, “unitária” já foi desenvolvida. 
Talvez o melhor modelo disso que se chama lógica interna da unidade psicossomática nos tenha sido legada por Wilhelm Reich: a psicossomática.
Psique e soma não estão separados, pois apresentam um funcionamento integrado, uma inter-relação intrínseca. Derivam do mesmo princípio comum, são expressões da realidade energética. O corpo sem a psique, o corpo-objeto, desprovido de sua fenomenologia vivencial não é o corpo reichiano. A psique sem corpo, alma desencarnada, não é a psique reichiana.
Podemos afirmar que a neurose é um estado de ser comprometido em seus aspectos biológico, psicológico, social e espiritual.

O Ser Humano apresenta uma complexidade grande na sua caracterização corporal e suas implicações psicodinâmicas. 
Normalmente, as pessoas apresentam mais do que um traço de carácter. 
Assim, uma pessoa com um caráter predominante rígido pode apresentar também traços visuais e orais. 
Ou seja, tipos puros são muito raros.

Todos temos traumas 
em mais do que uma fase na formação do nosso carácter.

Somos todos
 misturas 
das cinco estruturas de carácter.








ESTRUTURAS DE CARÁCTER:






O carácter Esquizóide 
Tem como fator primordial na sua formação o sentimento de abandono vivenciado pela criança durante a gestação ou logo após o nascimento. A referida sensação de abandono força a criança a buscar a dissociação, tendo em vista que ela não se considera bem-vinda a este mundo.
O adulto tende a ter tendência ao isolamento e encontra pouca satisfação na realidade corriqueira. 
Existe a tendência de buscar sempre refúgio dentro de si, tendo o comportamento do porco espinho quando se sente ameaçado.
Apresenta-se também hipersensível devido a um precário limite em torno do ego. Essa fraqueza reduz sua resistência a pressões externas, forçando a pessoa a fugir como mecanismo de legítima defesa do ego.
Sua energia primordial está concentrada no núcleo da psique e tem pouco acesso às regiões periféricas do corpo, o que cria no indivíduo com essa estrutura a tendência a evitar relacionamentos íntimos e afetuosos.
Sua energia tende a ser carreada para a intelectualização e para o mundo espiritual, como mais uma forma de dissociação.
O principal problema dessa estrutura é o medo (de não ter direito de existir), que força na pessoa a necessidade de fortalecer seus limites defensivos.

FACTORES HISTÓRICOS:
  1. Senso de si mesmo inadequado. 
  2. Dissociação; 
  3. Atitudes antagônicas. 
  4. Limite precário do ego. 
  5. Falta de carga periférica. 
  6. Resistência reduzida à pressão vinda de fora. 
  7. Evita relacionamentos íntimos e afetuosos. 
  8. Ações não baseadas em sentimentos: Comportamento “Como se”.


CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS:
  • Rejeição logo no início da vida, por parte da mãe. Com hostilidade encoberta ou não. Isto cria o medo no paciente de toda a busca, toda a tentativa de auto-afirmação, que conduz a este aniquilamento. 
  • Falta de um sentimento positivo cheio de segurança e alegria. 
  • Terrores noturnos na infância. 
  • Conduta não emocional, retraimento, crises de raiva, comportamento autista. 
  • Se um dos pais tiver protegido a criança em excesso no período edipico, por motivos sexuais, acrescenta-se um elemento paranóico à personalidade. Isto dá margem a “Acting out” (ato de chamar atenção exageradamente), no final da meninice e fase adulto. 
  • Intensa vida de fantasia a fim de sobreviver (dissociação da realidade e do corpo). 
  • Sentimentos predominantes: Terror e Fúria assassina. 
  • Encarcera os sentimentos para fugir de si mesma.


CARACTERÍSTICAS FÍSICAS:
  1. Corpo estreito e contraído. Com elementos paranóides na personalidade, o corpo fica mais cheio e mais atlético.
  2. Principais áreas de tensão: Base do crânio, articulações dos ombros, articulações pélvicas e ao redor do diafragma.
  3. Esta última é severa e tende a cindir o corpo em duas partes.
  4. Ou extrema inflexibilidade ou maleabilidade nas articulações.
  5. Face: Aparência de máscara. Olhos sem vivacidade.
  6. Braços pendem como apêndices.
  7. Pés contraídos e frios. Revirados. Peso do corpo nas bordas externas.
  8. Discrepância entre as duas metades do corpo. Parecem não pertencer à mesma pessoa. Exemplo: perna mais curta do que a outra, uma anca mais elevada do que a outra, uma orelha mais saída do que a outra, etc...
  9. Situações de tensão: Corpo assume posição recurvada.

DOENÇAS:

  • Doenças em tudo o que faz contacto com o exterior: olhos, boca, nariz, ouvidos, pele.
  • Alergias
  • Doenças nas articulações e ossos. 






O carácter Oral 
Tem como fator primordial na sua formação o sentimento de privação vivenciado pela criança no período após o nascimento até cerca de dois anos de idade. 
A ausência materna sentida confere à criança uma falta de satisfação que leva a psique infantil a se fixar nesse estágio de desenvolvimento. 
A fixação do adulto no estágio oral implica em pouca independência, tendência a grudar nos outros, agressividade precária e uma sensação interna de precisar ser carregado, cuidado ou apoiado. 
Em certas pessoas, esses traços são disfarçados por atitudes compensatórias, que resultam em independência exagerada que não se sustentam em momentos de tensão. 
A pessoa de caráter oral sofre de uma sensação de vazio
Procura constantemente os outros para que preencham essa lacuna, embora, por vezes, aja como se fosse autossuficiente. O vazio interno reflete a supressão de sentimentos intensos, de desejos que, caso fossem expressos, resultariam num choro profundo. Possui baixo nível de energia, em consequência, o indivíduo de caráter oral está sujeito a alternâncias de humor, indo da depressão à elação. A tendência à depressão é característica aos traços orais na personalidade. 
Outra característica típica da oralidade é achar que todos lhe deve alguma coisa, podendo manifestar-se pela ideia de que o mundo deve sustentá-lo e deriva diretamente da experiência inicial da privação. O principal problema dessa estrutura é a cobiça, posto que a sua experiência infantil de privação o desconectou da sua energia primordial. Assim, ele tende a querer apoiar-se na energia de outrem, como mecanismo compensatório de defesa.


ORAL POR FALTA
Muito magros, comem muito mas não absorvem nada. 
Estão sempre insatisfeitos com tudo e com todos. Querem sempre mais. 
Pernas muito magras e sem força, perdem a energia toda pelas pernas.
Comem muito para preencher o vazio interior.
Falam muito para segurar os outros junto deles. Não se calam para os outros não se irem embora.

Doenças:
  • Boca 
  • Sistema Digestivo
  • Fraqueza muscular
  • Fadiga crónica


ORAL POR EXCESSO
Obesos, comem muito, tentam preencher o vazio interior com a comida, estão sempre com fome, e absorvem tudo e acumulam muito no organismo. 
Têm dificuldade em se movimentar.
São passivas, e esperam que os outros cuidem deles.
Reclamam o tempo todo.

Doenças:
  • Obesidade
  • Morbidez
  • Problemas digestivos



CARACTERÍSTICAS FÍSICAS:

  • Corpo estreito e esguio.
  • Falta de energia e de força na parte inferior do corpo.
  • Vista fraca. Tendência à miopia. Excitação genital reduzida.
  • Difere do esquizóide por não estar tão enrijecido.
  • Musculatura é subdesenvolvida, mas não fibrosa (esquizóide). Braços e pernas compridas e magricelas.
  • Pés estreitos e pequenos. Pernas parecem não sustentar o corpo.
  • Joelhos encolhidos.
  • Tendência a escorregar.
  • Sinais físicos de imaturidade. Pelve menor que o normal. Pelo do corpo é esparso.
  • Corpos de criança.
  • Respiração superficial (baixo nível energético). Impulso de sugar reduzido.  
  
  
CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS:

  1. Tendência a amparar-se em alguém.
  2. Incapacidade de ficar sozinho. Desejo exagerado de estar em companhia das pessoas para receber seu calor e seu apoio.
  3. Sensação de vazio. Os outros preenchem esta lacuna.
  4. Supressão de desejos e sentimentos intensos. Se fossem expressos, resultariam num choro muito profundo e numa respiração mais forte.
  5. Sujeito a alternâncias de humor entre a depressão e a elação (euforia, animação).
  6. Atitude de que as coisas lhe são devidas. O mundo deve sustenta-lo. Deriva das primeiras experiências de privação.  


FACTORES HISTÓRICOS:
  • Privação inicial: Morte da mãe, doença, ausência para trabalhar, mãe deprimida.
  • Desenvolvimento precoce: Aprender a falar e a andar mais cedo que o normal.
  • Amargura na personalidade (Frustração de contato e calor humano).
  • Depressão no final da infância e início da adolescência.
  • Não tem comportamento autista do esquizóide. Elementos esquizóides no oral e vice-versa.   






O Carácter Psicopata:
Se considerarmos as fases de desenvolvimento da libido que foram descritas pelo Freud, é na fase “anal” a partir dos 2 anos, em que a mãe manipula o filho, com maior ou menor consciência (a imagem da mãe já é mais completa e mais delineada); nas fases anteriores, tanto na fase visual (esquizóide) como na fase oral, a imagem da mãe ainda é fragmententada. Na fase anal, à qual se reporta o aparecimento deste carácter, sucede que as crianças que ficam fixadas neste estágio, são transformados pela sua mãe numa espécie de “príncipe encantado”. A relação da mãe com esse filho é extremamente sedutora, transformando o filho no seu “falo” (a mãe do masoquista tem mau humor). Disto sucedem traços de carácter em que a necessidade de afecto da pessoa e o seu medo de precisar deste mesmo afecto se ligam ao facto de ter sido manipulada pela mãe, interferindo em todas as suas relações. Tudo o que se passa na fase Anu-Uretral está ligado a um processo de retenção e expulsão (tanto físico como psicológico) – porque já existe uma vontade (na fase oral não existe vontade): 
O Psicopata é Expulsivo – expulsa os afectos e os contactos; 
O masoquista é o contrário, é Retentivo – retém os afectos e os contactos; 
O Psicopata tem a sua couraça no peito; 
O masoquista tem a sua couraça na pélvis. 
Quando a mãe valoriza demasiadamente a capacidade do filho “expulsar as suas fezes”, que psicologicamente se entende como a produção e as realizações da criança no mundo, temos um quadro que leva à psicopatia, caso contrário, quando a criança é desvalorizada continuamente, cria-se um quadro masoquista.


COMPORTAMENTO:
* Negação do sentimento. Atitude psicopática. Diferente do esquizóide que se dissocia do sentimento. 
* O ego/mente volta-se contra o corpo/sentimento, principalmente de natureza sexual. 
* Grande acumulo de energia na própria imagem. 
* Motivação de poder e necessidade de controlar e dominar. 
* Dois modos de ter domínio sobre o outro: 
      - Oprimindo diretamente. 
      - Sedução. 


CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: 
  • Parte superior do corpo “cheia de ar”. 
  • Parte inferior parecida com a da estrutura oral.  
  • Olhos atentos e desconfiados. Não abertos para os inter-relacionamentos. 
  • Necessidade de controle contra si mesmo: Cabeça muito erguida (não posso perder a cabeça) mantém o corpo rijo nos limites de seu controle. 
  • O corpo do sedutor é mais regular sem aparência inflada. 
  • Costas hiperflexiveis. 
  • 1º tipo: Pelve tem carga reduzida e é sustentada de maneira rígida. 
  • 2º tipo: Carga excessiva e desconectada. 
  • Ambos apresentam espasticidade acentuada do diafragma. 
  • Tensões no segmento ocular. 
  • Tensões musculares graves na base do crânio. 


CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS: 

  1. O psicopata “depende” de alguém para controlar. Dose de oralidade. 
  2. Medo de ser controlado/usado. 
  3. Disputa pelo domínio entre pais e filhos. 
  4. Não admite fracasso (necessidade de estar por cima). 
  5. Coloca-se na posição de vítima. 
  6. O prazer na atividade tem menos importância em relação ao desempenho próprio ou à conquista. 
  7. Estratégia: Fazer com que os outros precisem dele, para que ele não precise expressar essa necessidade. Deste modo está sempre acima dos demais. 


FACTORES HISTÓRICOS:
 
  • Dificuldade em elucidar experiências de vida, pois nega os sentimentos/experiências. 
  • Presença do pai sexualmente sedutor. Encoberta e realizada para satisfazer as necessidades narcisisticas do mesmo. 
  • O pai sedutor é alguém que rejeita a criança, em suas necessidades de apoio e de contato físico. (Traço oral). Nesta situação, qualquer tentativa de sair em busca de contato coloca a criança em posição de extrema vulnerabilidade. A criança desprezará a necessidade (deslocamento ascendente), passando por cima dela, ou a satisfará através da manipulação dos pais (tipo sedutor). Traço masoquista: Submissão ao progenitor sedutor. Ela não tinha como se revoltar ou sair da situação. 
  • Quanto mais abertamente a criança se submete, mais perto do progenitor conseguirá ficar. (Mais presente no tipo sedutor). Depois que tiver funcionado a sedução e estiver firme o vinculo com a outra pessoa, o papel se inverte e emerge o sadismo. 

DOENÇAS:
  • Problemas cardíacos
  • Problemas de coluna
  • Problemas cerebrais (AVC, Alzheimer, Parkinson, etc...)






O Carácter Masoquista 
Raramente surge antes do terceiro ou quarto ano de vida, não sendo, por isso, a manifestação de um instinto biológico primário, ou seja, o instinto da morte. Geralmente, o masoquista foi estruturado sob forte pressão ambiental onde a ambivalência dos pais (aprovação/desaprovação) marcou profundamente a sua vida infantil, sendo que o seu funcionamento estrutural baseia-se claramente na ambivalência. Trata-se de um indivíduo que tem permanentemente a noção que é inadequado e de que não tem valor; quando criança foi vítima de humilhações constantes, que desvalorizaram o seu ser, vendo-se forçado a exercer actividades ou funções para as quais não estava física e emocionalmente preparado. Possivelmente foi uma criança que sofreu com as invasões do seu corpo por um excesso de limpeza (exposição das nádegas para introdução de supositórios) ou palmadas; e a humilhação fez parte da vida dele, sendo que é ela que faz funcionar o seu Ego ou fazê-lo crer que não vale nada. 
Pais com desrespeito ou sentimentos de vergonha face às funções orgânicas naturais como defecar, urinar, vomitar, geram na criança sentimentos de nojo e repúdio. 
O masoquismo também pode surgir nos casos em que a mãe força a criança a comer; ou quando a mãe empurra a comida pela sua garganta adentro, e a reacção da criança é vomitar, fazendo com que a criança se sinta suja. A mãe, na verdade, actua de forma a influenciar os sentimentos da criança, fazendo chantagem emocional. Uma vez instalado este jogo, todas as futuras acções do indivíduo serão orientadas para a submissão gerada pela culpa instalada. 
As pessoas com carácter masoquista lutam para agradar na esperança que a aprovação lhes traga o amor desejado, levando-as a desapontamentos. 
É humilhante para uma pessoa sentir que a sua segurança e aceitação dependem do servilismo; e é isso que neste caso específico de carácter, a longo prazo, a pessoa se pode tornar: um servo. Enquanto criança ainda poderá ser rebelde e exibir alguns traços masoquistas, mas não existe ainda a sensação de sofrimento que caracteriza o adulto com traços masoquistas na sua personalidade. Apenas quando o desejo sexual na puberdade aumenta é que a armadilha masoquista se fecha. 
Nesta fase os conflitos entre ódio e necessidade e conformidade e conformismo e rebeldia intensificam-se de tal forma que parecem não existir soluções. Com esforço e trabalho tenta conquistar o amor das pessoas; nega a importância das coisas materiais, mas é apegado a elas, sempre duvidando que conseguirá satisfazer-se ou estando confuso em expressar os seus desejos e vontades. 
O masoquista cresceu num ambiente avesso à expressão de afecto, agindo com desconfiança à expressão de afectos dos outros em relação a si; afinal a mãe usou da sua simpatia e amor para submetê-lo à humilhação; o amor para ele é humilhação, culpa e subjugação. 
Na realidade, o masoquismo é o resultado de uma disfunção na capacidade de prazer e satisfação no indivíduo; isso leva-o a uma incapacidade para descarregar física e emocionalmente. 
No carácter masoquista em termos do padrão muscular, encontramos características referentes a uma contenção interna contra o medo de a pessoa se auto afirmar; em termos de estrutura, o indivíduo defende-se contra a ameaça de ser esmagado e de se tentar auto-afirmar, pelo que é importante ter em conta nos objectivos terapêuticos levá-lo a encarar o medo da auto-afirmação que ele mascara com atitude de rebeldia e desafio. 
O que mais sobressai na sua dinâmica é que o masoquista foi estruturado sob forte pressão ambiental, onde a ambivalência dos pais marcou a sua vida infantil, fazendo com que o seu funcionamento esteja também baseado nessa ambivalência. Reich afirma que o masoquismo não é uma expressão de um instinto biológico, mas sim o resultado de uma perturbação da díade dar/receber e de uma tentativa constantemente fracassada de superar essa perturbação; surge como resultado e não como causa da neurose. Podemos entender o problema do masoquismo e tratá-lo como sendo apenas um distúrbio caracteriológico, sendo a ambivalência e a incerteza as características da sua dinâmica comportamental; cada impulso agressivo, cada movimento, cada gesto, revelam essas caraterísticas. Não existe uma sensação de vazio interior no masoquista, pois dentro dele existe uma constante luta e ansiedade; sente que tem muito amor para dar e muito trabalho a fazer. 
Apesar de uma aparente falta de jeito para se expressar, ele é muito inteligente e sensível, e a sua compreensão dos outros é precisa e penetrante; por outro lado, ignora as forças que determinam a sua própria conduta, pondo a sua inteligência ao serviço da desorganização, fazendo com que ela desempenhe um papel sinistro na sua vida. 
Dadas as fortes tensões no seu corpo, o masoquista está mais predisposto a trabalhar com as “vísceras”, mas não com o coração e, consequentemente falta-lhe muitas vezes espontaneidade e criatividade nos seus projectos. É um trabalhador forçado que apenas procura aprovação constante; a longo prazo esse contínuo forçar prende-lhe as vísceras até ao ponto de ele colapsar. 


COMPORTAMENTOS:
  • Aquele que sofre e se lamenta. Que se queixa e permanece submisso. 
  • Tendência predominante é a submissão. 
  • Internamente, acontece o contrário. Emocionalmente, a pessoa acolhe sentimentos intensos de despeito, negatividade, de hostilidade e superioridade. 
  • Estes sentimentos estão fortemente aquém dos ataques de medo, que explodiria num violento comportamento social. 
  • O medo de explodir é contraposto a um padrão muscular de contenção. Músculos densos e poderosos restringem qualquer asserção direta de si, permitindo somente as queixas, os lamentos. 


CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: 
  1. Corpo curto, grosso, musculoso. 
  2. Pelos no corpo. 
  3. Pescoço curto e grosso (atarracamento da cabeça). 
  4. Cintura mais curta e mais grossa. 
  5. Projeção da pelve à frente. 
  6. Encurtamento para cima e achatamento das nádegas. 
  7. Cão com rabo entre as pernas. 
  8. Dobra na cintura (resulta das tensões na região). 
  9. Mulheres: Rigidez na metade superior e masoquismo na metade inferior (Nádegas e coxas pesadas, tonalidade escura da pele, da estagnação da carga energética). 


CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS:
  •  Agressão e auto-afirmação bastante reduzidas, substituídas por queixumes e lamentos. 
  • Conduta provocativa substitui a assertividade. O objetivo é receber uma resposta poderosa para que o masoquista tenha condições de reagir violenta e explosivamente (no sexo). 
  • Sentimento “de estar preso num atoleiro”. Incapaz de movimentar-se livremente. 
  • Submissão e cordialidade. No consciente, identificação com a tentativa de agradar. No inconsciente, esta atitude é negada por despeito, por negativismo e por hostilidade. 
  • Estes sentimentos reprimidos devem ser libertados antes que possa haver uma resposta descontraída frente à vida. 


FACTORES HISTÓRICOS:
  1. Amor e aceitação ao lado de uma repressão severa. 
  2. Mãe é dominadora e se sacrifica. Sufoca a criança, que é levada a se sentir culpada por qualquer tentativa de declarar a sua liberdade ou de afirmar a sua atitude, quando negativa. 
  3. Pai passivo e submisso. 
  4. Ênfase exagerada à alimentação e à defecação, fator que se soma à pressão já mencionada. 
  5. “Seja um bom menino. Coma toda a sua comida. Faça coco direitinho. Deixe a mamãe ver”. 
  6. Todas as tentativas de resistência, inclusive os acessos de birra, foram esmagadas. 
  7. Sentimento de ter sido ludibriado. Só é possível reagir com despeito, que, por sua vez acaba na autodestruição. Não há possibilidade de saída, do ponto de vista da criança. 
  8. O paciente quando criança lutava consigo mesmo, com um profundo sentimento de humilhação, toda vez que se deixava soltar livremente, na forma de vómitos, de desafios, de fazer xixi e coco nas calças ou na cama. 
  9. Tem medo de meter-se em situações delicadas (ficar sobre um pé só) ou de intrometer-se (espichar o pescoço – vale o mesmo para os genitais) por medo de ser rejeitado. A ansiedade de castração é muito acentuada. 
  10. Pior medo: Ser afastado dos relacionamentos familiares, provocadores de amor, embora sob certas circunstancias. 

DOENÇAS:
  • Pressão alta
  • Problemas no intestino grosso (obstipação, colite, etc...)
  • Problemas nas articulações e ossos
  • Problemas musculares
  • Problemas cardíaos








O Carácter Rígido 
Esta estrutura se forma entre 3 e 6 anos de idade. 
Normalmente acontece quando há uma rejeição do progenitor do sexo oposto (da mãe se for um filho e do pai se for uma filha). Um medo de ter o coração partido surge. O mecanismo de defesa separa liberdade da entrega ao amor e coloca ambas em categorias mutualmente exclusivas. 
Corporalmente há uma separação no nível da cintura entre a parte de cima e a parte de baixo. 
Também há uma separação entre amor e sexo. 
Uma determinação surge onde a pessoa toma a decisão de não deixar ninguém partir o coração dela, e com isso surge o mecanismo de defesa.
Trauma relevante na infância, uma frustração na busca de gratificação erótica, principalmente a nível genital. Essa frustração acontece através da proibição da masturbação infantil e também em relação ao pai do sexo oposto. A rejeição das suas buscas de prazer erótico e sexual é considerada pela criança como traição de sua ânsia de amar. O prazer erótico, a sexualidade e o amor são termos sinónimos na sua mentalidade infantil. 
 O individuo de caráter rígido tem medo de ceder, pois iguala o ato de submeter-se a perder-se completamente. A rigidez torna-se uma defesa contra uma tendência masoquista subjacente. A pessoa de caráter rígido esta sempre alerta contra situações onde possam se aproveitar dele, onde possa ser usado ou enganado. 
Suas estratégias defensivas assumem a forma de uma contenção. A capacidade de se conter deriva de uma forte posição do ego ao lado de um elevado teor de controle comportamental. Essa retenção é também defendida por uma posição genital igualmente forte, que consegue não encarar a personalidade em ambas as extremidades do corpo, permitindo-lhe um bom contato com a realidade. A ênfase na realidade é empregada como meio de defesa contra os impulsos que buscam o prazer – ceder- e este é justamente o conflito básico de sua personalidade. 
A contenção é periférica; sendo assim, os sentimentos podem fluir, mas sua manifestação é limitada. 
Os indivíduos com esta estrutura de caráter são geralmente mundanos, ambiciosos, competitivos e agressivos. A passividade é experienciada como vulnerabilidade. Tem medo que a submissão acarrete uma perda de sua liberdade. O trauma relevante deste caso é a experiência de uma frustração na busca de gratificação erótica, principalmente a nível genital.  
A rejeição do seu amor sexual é um ataque ao seu orgulho e, da mesma forma, a rejeição de seu amor insulta seu orgulho.

COMPORTAMENTO:
  • Tendência a se manterem eretas, de orgulho. 
  • Cabeça bem erguida, coluna reta. 
  • Medo de ceder. Ato de submeter-se é como perder-se completamente. 
  • Rigidez: defesa contra uma tendência masoquista subjacente. 
  • Está sempre alerta contra situações onde possam aproveitar-se dele, onde possa ser usado ou enganado. 
  • Defesa: Contenção de todos os impulsos de sair em busca exterior, de abrir-se. 
  • Rigidez é segurar-se nas costas. Capacidade de conter: Forte controle do ego e elevado teor de controle comportamental. 
  • Posição genital forte. Bom contato com a realidade, que é empregado como meio de defesa contra os impulsos que buscam o prazer/ceder. Este é o conflito básico de sua personalidade.


CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: 
  1. Proporcional. Harmonia entre as partes. 
  2. Pessoa se sente integrada e conectada. 
  3. Vivacidade do corpo. 
  4. Olhos brilhantes, boa cor da pele, leveza de gestos e movimentos. 
  5. Se a rigidez for grave: Diminuição das características descritas. Menos graça e leveza. 


CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS: 
  • Mundanos, ambiciosos, competitivos, agressivos. A passividade é experimentada como vulnerabilidade.
  • Orgulho/teimosia, mas não despeitada. 
  • Ceder é parecer imbecil. Então se contém. Acha que a submissão acarretará na perda de sua liberdade.
  • Carácter rígido descreve vários tipos de personalidade. 
  • Tipos fálicos, narcisistas (masculinos), cujo elemento central é a potencia eretiva. 
  • Tipo vitoriano da mulher histérica (Reich). Usa o sexo como defesa contra a sexualidade. 
  • Carácter compulsivo também faz parte. 

FACTORES HISTÓRICOS:
  1. Sem situações severamente traumáticas com posições defensivas mais complexas. 
  2. Experiência de frustração na busca da gratificação erótica, no nível genital. 
  3. Proibição da masturbação infantil e em relação ao progenitor do sexo oposto. 
  4. Rejeição das buscas de prazer erótico é considerada pela criança como uma traição de sua ânsia de amar (sexualidade é amor, nessa fase). 
  5. O rígido não abandona a sua consciência. Ele age com o coração, com restrições e sob o controle do ego.
  6. Estado desejável: Render o controle. 
  7. Move-se de modo indireto e dentro dos limites de sua guarda no sexo. Não é manipulador como o psicopata. As manobras buscam a proximidade. 
  8. A rejeição de seu amor sexual é um ataque ao seu orgulho, insulta o seu orgulho.


DOENÇAS:

  • Doenças no sistema reprodutor ( infertilidade, endometriose, impotência, etc...)
  • Problemas musculares
  • Problemas cerebrais e neurologicos ( enxaquecas, dores de cabeça, etc...)
  • Problemas de coluna







Conflitos inerentes às estruturas de caráter: 

Esquizóide: Se eu expressar minha necessidade de estar próximo de alguém, minha existência entra em perigo. Só posso existir se não tiver necessidade de intimidade. 
Portanto, tenta permanecer em isolamento. 

Oral: Se eu sou independente, devo desistir de toda a necessidade de apoio e calor humano. Posso exprimir minhas necessidades na medida em que não sou independente. 
Se esta pessoa abandonar a sua necessidade de aproximação e amor, cairá na esquizofrenia. 

Psicopata: Posso aproximar-me se eu te deixar controlares-me ou usares-me. 
A criança é forçada a inverter os papéis nos relacionamentos posteriores e torna-se a parte controladora e sedutora (principalmente com orais). Mantendo então o controle sobre o outro, pode permitir-se certa intimidade. “Podes ficar ao meu lado enquanto me olhares de baixo para cima”, em vez de “Eu preciso estar perto de ti”.

Masoquista: “Se eu for livre, tu não me amarás. “Serei teu menininho bem comportado e então tu me amarás”. 

Rígido: Posso ser livre se não perder a minha cabeça e se não me entregar totalmente ao amor.




Dualidades: 

  1. Esquizóide: existência x necessidades. 
  2. Oral: Necessidades x independência. 
  3. Psicopatico: Independência x intimidade. 
  4. Masoquista: Intimidade/proximidade x liberdade. 
  5. Rígido: Liberdade x Ceder ao amor. 

A cura está em fazer desaparecer o antagonismo aparente das proposições. 
Podemos ter as duas coisas. 




Declaração de direitos: 

  1. Direito de existir. 
  2. Direito de ter segurança nas próprias necessidades. 
  3. Direito de ser autônomo e independente. 
  4. Direito a auto-afirmação. 
  5. Direito de ter desejos e de fazer esforços no sentido de satisfazê-los direta e abertamente.



CONCLUSÃO:

O corpo se revela em todas as suas manifestações: por meio da postura, gestos, tônus muscular, atitudes de interação, domínio do espaço, fala. 
A ciência afirma que ele guarda a explicação do funcionamento da mente. 
A constituição física e suas características externas definiriam, portanto, a performance da psique das pessoas. Os padrões de postura e atitudes corporais revelam quem a pessoa é. Esses traços são previamente esculpidos pelo sistema nervoso e correspondem às imagens de quem a pessoa é, e de como o seu corpo se parece. 

Portanto, aquilo que o indivíduo acredita que ele é torna-se uma imagem retida no sistema nervoso e que mais tarde se expressará no corpo, por meio da ação. Logo, os traços de caráter são exatamente os papéis que o indivíduo aprende a assumir desde criança e permanecem, em sua maior parte, na vida adulta.

  • Todas as experiências vividas, o impacto das relações da primeira infância e os traumas físicos e emocionais são armazenados e contidos no corpo na forma de padrões de tensão muscular crônica. 
  • Tudo o que está como conteúdo inconsciente e recalcado, fora do alcance na consciência, está inscrito na forma e expressão do corpo. 
  • A manifestação do que nos é latente – pode ser verbal ou corporal –, quando identificamos, podemos nos reconhecer, antever ou prever reações. 
  • Ainda que não possamos alterar quem somos, é possível desenvolver autorregulação por meio do autoconhecimento. Tendo, portando, uma vida mais equilibrada. 
  • Equilíbrio é sempre sinónimo de saúde. 






O renomado estudioso reichiano Dr. David Boadella, diretor do sistema de Biossíntese (e ex-presidente da Associação Europeia de Psicoterapia Corporal – EABP), refere-se a Lisbeth Marcher como o legado escandinavo de Wilhelm Reich e descreve o modelo Bodydinamic de análise de Estruturas de Caráter como um dos mais avançados modelos criados pela nova geração de psicoterapias corporais emergentes na Europa, uma vez que vai significativamente além daqueles de Wilhelm Reich, Frank Lake, Alexander Lowen e outros teóricos do ramo.

Segundo David Boadella, o desenvolvimento de uma criança move-se através de uma série de fases etárias específicas e sobrepostas que abrangem do 2º trimestre no útero até a idade de 12 anos.
Também consideramos a adolescência como um período significativo de desenvolvimento pessoal, e sabemos que, mais tarde na vida, a personalidade é remodelada por uma série de fases desenvolvimentais do adulto, que se sobrepõem e interagem com as Estruturas de Caráter estabelecidas durante a infância e adolescência.

Boadella distingue três possíveis Posições (sadia, precoce e tardia) para cada Estrutura de Caráter e seu tema principal, mediante a forma como elas ocorrem nas interações entre pais e filhos:

Para que a criança seja capaz de ser seu verdadeiro eu, a atuação da paternidade deve ser adequadamente boa o suficiente, nos termos de Winnicott, nas estruturas mais iniciais da infância; enquanto que, nas estruturas mais tardias, o ambiente social desempenha um papel quase tão importante quanto a paternidade. 
Isto é, uma boa paternidade e um bom ambiente garantem que a criança seja capaz de manter uma profunda conexão consigo mesma, enquanto desenvolve as habilidades necessárias para cada fase de desenvolvimento, tornando-se o que chamamos de recursada, ou seja, saudável. Esta é a posição sadia.

Caso ocorram distúrbios graves ou no início de um estágio específico, é muito provável que a criança desista de realizar os impulsos para agir e sentir segundo o que seria apropriado para essa fase. 
Nesse sentido, habilidades, capacidades e conhecimentos tenderão a não serem expressos, não aprendidos ou resignados. No adulto, eles aparecerão de forma pré-consciente ou inconsciente. Esta é a origem da resignação psicológica. Esta é a posição precoce.

Se os distúrbios num estágio particular são menos graves ou caso ocorram num momento posterior, a pessoa terá uma tendência a segurar e reter impulsos para agir ou sentir, ou esses impulsos podem ser executados rigidamente. Esta é a origem da blindagem psicológica (muitas vezes chamada de couraça). Esta é a posição tardia.


Tanto as posições precoce e tardia resultam em distorções do Self e nos relacionamentos. 
Por exemplo, 
na estrutura da Necessidade
a posição precoce ou colapsada é denominada Desencorajada
a rígida ou tardia é denominada Desconfiada
e a posição saudável ou equilibrada, Auto Gratificante.


Imagine uma criança pequena cuja própria sobrevivência depende totalmente de ter as suas necessidades básicas atendidas. Se o bebé não experimenta a segurança de ser provido, ele vai cair em profundo desespero. Outra criança pode, por vezes, ter as suas necessidades básicas atendidas, e, noutras vezes, não. Esse bebé pode tornar-se desconfiado de seus cuidadores. 
Já a criança cujas necessidades são atendidas por uma mãe suficientemente boa, provavelmente, irá experimentar a sensação de estar satisfeita consigo mesma; tanto no contacto, comida, segurança, amor, jogo, quanto com uma fralda limpa.

Considerando que várias psicoterapias corporais aderiram ao conceito reichiano de blindagem ou couraça, o sistema Bodynamic o estabelece como limitado na prática. 
Muito frequentemente, os clientes que foram postos para somente trabalhar as suas blindagens pareceram regredir em termos de desempenho de vida. Notando isso, os pioneiros Bodynamic pesquisaram padrões de resposta muscular em profundidade e, mais tarde, formularam os conceitos de resposta muscular neutra ou hipotónica.

Considerando que as abordagens anteriores pareceram ignorar a possibilidade de resignação hipotónica, a equipa Bodynamic foi uma das primeiras a passar para uma abordagem de corpo-dinâmico que procurou apoiar músculos hipotónicos de uma forma que hoje chamamos Recursante, assim que os músculos hiper-responsivos possam relaxar de uma maneira mais natural
A abordagem Bodynamic permite mais integração, em vez da fragmentação que às vezes ocorre em abordagens estritamente reichianas.

O conceito de hipo-responsividade é exclusivo do sistema Bodynamic. 
Músculos que são hipo-responsivos precisam de suporte e contato para se desenvolverem. 
Resposta muscular neutra é também um conceito único do sistema Bodynamic
Resposta muscular Neutra apoia o desenvolvimento de novos recursos psicológicos ou o acesso a mais opções na vida.


A nova habilidade de reconhecer e trabalhar diretamente com a resignação psicológica e de construir novos recursos do ego tem transformado a natureza da psicoterapia. 
Trabalhando no contexto de uma relação terapêutica, os clientes podem aprender a despertar impulsos e habilidades não desenvolvidas. A aquisição destes novos recursos motores e egóicos, que é justamente o que falta e o que é mais necessário, facilita muito o trabalho de questões desenvolvimentais com segurança interna e empoderamento.

O trabalho com resignação somática transforma a natureza da psicoterapia corporal, permitindo o terapeuta a entender quando é necessário trabalhar de uma forma gentil e solidária, a fim de desenvolver ou restaurar os recursos que se resignaram. 
A terapia não visa quebrar a resistência ou forçar a libertação emocional, e sim, transformar os clientes através do despertar de estados profundos de consciência corporal. Isso desperta recursos profundos dentro de si, que são encorajados a emergir.



TRANSFERÊNCIA E CONTRA-TRANSFERÊNCIA

Transferência e contra-transferência são ferramentas importantes para a cura de arraigados padrões desenvolvimentais. Segundo Boadella (e outros antes dele), transferência reflete a história de padrões psicológicos anteriores nos músculos, que então se projetam sobre o terapeuta / instrutor / membros do grupo.

Muitos anos de experiência no ensino e treinamento de psicoterapeutas que trabalham com outras abordagens (não-Bodynamic) mostraram que o modelo de Estruturas de Caráter pode ser aplicado como uma ferramenta poderosa para descrever diferentes padrões de transferência e contra-transferência. O modelo de Estruturas de Caráter descreve os padrões de resposta muscular em conjunto com os padrões individuais de contato, interação social e comportamento.

O terapeuta em treinamento Bodynamic pode envolver padrões de transferência especificamente em relação à estrutura de caráter ou padrões de desenvolvimento, utilizando exercícios específicos, as mensagens de paternidade saudável, padrões de contato, trabalho psicomotor e de linguagem. Ao estabelecer este novo padrão de contato na transferência, ou ressonância como Boadella descreve, um novo imprint é criado e integrado na vida diária do cliente.


O êxito do tratamento psicanalítico depende, em grande medida, da capacidade do psicoterapeuta em lidar com fenómenos inconscientes que surgem na relação psíquica com o paciente, nomeadamente os fenómenos da transferência e da contratransferência.
Na psicanálise, designa-se por transferência o processo pelo qual o paciente reexperiencia, no setting terapêutico da psicanálise, as representações do Self e do objeto, as relações objetais do seu passado, os desejos e as fantasias a elas associados pela sua projeção inconsciente na pessoa do psicanalista. 
Por outras palavras, este fenómeno inconsciente traduz a projeção na pessoa do analista de sentimentos e desejos inconscientes dirigidos originalmente a pessoas que, por motivos diversos e de diversa polaridade afetiva e libidinal, foram importantes no decorrer da infância. 
Apesar de vinculada aos eventos do passado, a transferência é um fenómeno que se manifesta, não raro subtilmente, no “aqui e agora” da sessão terapêutica. 

A contra-transferência é entendida como o modo de sentir do analista em relação ao material trazido pelo paciente à sessão e implica o processamento psíquico destes sentimentos pelo analista e o seu reenvio ao paciente devidamente elaborados e transformados. 
Para além disso, a possibilidade de o terapeuta conter e analisar os sentimentos, afetos e fantasias transferidos pelo paciente enriquece a sua capacidade interpretativa, já que os terapeutas que ignoram ou iludem os sentimentos contratransferenciais acabam por interpretar de um modo pobre e superficial o material trazido pelo paciente a sessão. 

Para que tal não aconteça, é preciso aceitar os sentimentos em relação ao paciente por mais perturbadores que possam apresentar-se na mente do analista.







Fontes:
Alexander Lowen, livro "O Corpo em Terapia"
Wilhelm Reich, livro " A Análise do Carácter"
André Barreto, Instituto de Análise Bioenergética
Artur Scarpato, Psicólogo, Revista Catharsis
Leninha Wagner, Neuropsicóloga
Somatic Experiencing



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