quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Conflito Israelo-Árabe





Tenho andado a ler um livro muito interessante que irei partilhar aqui a seguir, "Judas", do escritor israelita Amos Oz.
Mas, antes de falar sobre o livro, irei recordar o conflito israelo-árabe para melhor perceber o livro.

Estou a achar o livro muito interessante porque nos dá a visão dos dois lados do conflito israelo-árabe. Este conflito,  é um longo conflito no Médio Oriente, que ocorre desde o fim do século XIX, tendo se tornado num assunto de importância a nível internacional a partir do colapso do Império Otomano em 1917. 
Marcos importantes para o desenrolar deste conflito foram a autodeterminação do Estado de Israel e o relacionamento deste último Estado com os seus vizinhos árabes, especialmente em relação ao povo palestino, por reivindicarem as mesmas terras. O conflito teve como resultado o começo de pelo menos cinco guerras de dimensões maiores e um número significante de conflitos armados de menores dimensões. Foi também fonte de duas Intifadas (levantamentos populares).

As tensões entre judeus e árabes começaram a emergir a partir da década de 1880 do século XIX, quando judeus provenientes da Europa começaram a emigrar, formando e aumentando comunidades judaicas na Palestina, quer por compra de terras aos otomanos, quer por compra direta a árabes proprietários de terrenos.
Estabeleceram-se assim comunidades agrícolas nas terras históricas da Judeia e de Israel, que eram então parte do Império Otomano. Historicamente, os antigos judeus desde os tempos bíblicos chamaram a sua terra de Israel, Canaã, Judeia, Samaria, Galileia e outros nomes há muito tempo. Judeus modernos, e alguns cristãos, acreditam que, de acordo com a Bíblia e a Torá, Deus deu esta terra para os antigos judeus (também conhecido como hebreus ou israelitas), liderada por homens como Abraão, Moisés, David, e outros.





Cerca de 2.000 anos atrás, o Império Romano dominou esta área, e, ao suprimir várias rebeliões judaicas, destruiu o templo judaico na cidade de Jerusalém, matou um grande número de judeus, e forçou muitos outros a deixar a sua terra natal num êxodo chamado Diáspora. Nesta ocasião, o Império Romano mudou o nome da Terra de Israel para Palestina. Alguns judeus permaneceram na área, mas um grande número de judeus não retornou até aos séculos XIX e XX.

No século VII, os árabes muçulmanos invadiram a Palestina. Este é o lugar onde o verdadeiro problema começou entre os judeus, que começaram a chamar a si mesmos "os israelenses", de acordo como o antigo nome de sua antiga pátria de Israel, e a população árabe da região que veio a ser conhecido como "palestinos", de acordo com o antigo nome romano e grego da área. Após a Diáspora, os muçulmanos de língua árabe, que invadiram a Palestina no século VII, durante a expansão do Islão, tornaram-se o grupo étnico dominante. De acordo com registos do Império Otomano, que governou a Palestina durante vários séculos, no ano de 1900, a população da Palestina era de 600.000, dos quais 94% eram árabes. Enquanto muitos árabes estavam dispostos a vender terras aos judeus que chegavam, muitos outros árabes palestinos estavam preocupados com a possibilidade de se tornarem minoria em seu próprio país.

Assinado em Janeiro de 1919, o Acordo Faiçal-Weizmann promovia a cooperação árabe e judaica para o desenvolvimento de uma Terra de Israel na Palestina e uma nação árabe numa larga parte do Médio Oriente. Em 1920, a Conferência de San Remo, suportada em grande medida pelo Acordo Sykes-Picot (acordo anglo-francês de 1916), alocava ao Reino Unido a área que presentemente constitui a Jordânia, a área entre o rio Jordão e o Mar Mediterrâneo e o Iraque. A França recebeu a Síria e o Líbano. Em 1922, a Liga das Nações estabeleceu formalmente o Mandato Britânico para a Palestina e Transjordânia, indo parcialmente ao encontro dos compromissos assumidos pelo Reino Unido estabelecidos na Correspondência Hussein-McMahon (1915-1916): todas as terras a leste do rio Jordão eram entregues ao Emirado da Jordânia (governado por Abdullah I da Jordânia, mas que estava em parte em dependência do Reino Unido), deixando a parte a oeste da Jordânia como o Mandato Britânico da Palestina.

O líder religioso muçulmano Mohammad Amin al-Husayni opôs-se à ideia de transformar parte da região da Palestina num Israel, objetando a qualquer forma de Terra de Israel. Durante a década de 1920 do Século XX, as tensões aumentaram dando lugar a episódios de violência tais como as Revoltas de Nebi Musa (1920) e as revoltas de Jaffa (1921). Para satisfazer os árabes e devido à inabilidade britânica para controlar a violência instalada no Mandato, foi criado, em todos os territórios a leste do rio Jordão, o Semiautónomo Emirado Árabe da Transjordânia (correspondente a cerca de 80% do território do Mandato). Apesar disso, a violência continuou a aumentar durante as décadas de 30 e 40, resultando em perdas de vidas em ambos os lados. Alguns dos fatos mais marcantes nesse período foram o Massacre de Hebron de 1929, as atividades da organização islâmica Mão Preta, a grande revolta árabe (1936-1939), os ataques realizados pelo grupo terrorista Irgun, os massacres como o de Ein al Zeitun e o atentado do Hotel Rei Davi em 1946.






A Guerra árabe-israelense de 1948, também conhecida como a "guerra de independência" começou após a retirada britânica e com a declaração do Estado de Israel a 14 de Maio de 1948.
Os árabes rejeitaram o plano de partilha da Palestina (Resolução 181 de 29 de Novembro de 1947 da Assembleia Geral das Nações Unidas), que propunha o estabelecimento de um estado árabe e outro judaico na região da Palestina. Milícias árabes começaram campanhas com vista ao controle de territórios dentro e fora das fronteiras estabelecidas. Tropas da Transjordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque invadiram a Palestina, ao que Israel, Estados Unidos, União Soviética e Trygve Lie (Secretário-geral das Nações Unidas) consideraram como uma agressão ilegítima. A China deu o seu apoio às pretensões árabes. Os estados árabes declararam o propósito de proclamar um "Estado Unido da Palestina"  em detrimento de um estado árabe e de um estado judaico. Eles consideravam que o plano das Nações Unidas era ilegal porque vinha em oposição à vontade da população árabe da Palestina. Reclamaram também que a retirada britânica tinha deixado um vazio legal em termos de autoridade, tornando necessário a sua atuação com vista à proteção dos cidadãos árabes e das suas propriedades. Cerca de dois terços dos árabes da Palestina fugiram ou foram expulsos dos territórios que ficaram sob controle judaico; praticamente todos os judeus (em número muito menor) que habitavam territórios ocupados pelos árabes (como por exemplo na cidade de Jerusalém) também emigraram. As Nações Unidas estimam que cerca de 711 mil árabes tornaram-se refugiados como consequência do conflito. 

As lutas terminaram com a assinatura do Armistício de Rodes, que formalizou o controle israelita das áreas alocadas ao estado de Israel juntamente com mais de metade da área alocada ao estado árabe. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito e a Cisjordânia foi ocupada pela Transjordânia (que passou a se chamar simplesmente de Jordânia), até Junho de 1967, altura em que Israel voltou a tomar posse desses territórios durante a Guerra dos Seis Dias.
Aos palestinos que abandonaram ou foram expulsos das áreas ocupadas pelos israelitas não foi permitido o regresso às suas casas. Deslocaram-se para campos de refugiados localizados em países vizinhos tais como o Líbano, a Jordânia, a Síria e para a área que mais tarde se tornaria conhecida como a Faixa de Gaza. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente foi criada para melhorar as condições destes refugiados. Durante as décadas seguintes ao fim da guerra de 1948, entre 700 e 900 mil judeus abandonaram os países árabes onde viviam. Em muitos casos isto foi devido a um sentimento anti-judeu, ou devido a expulsão (no caso do Egito) ou ainda devido a opressões legais (no Iraque). Deste número, cerca de dois terços acabaram por se deslocar para campos de refugiados em Israel, enquanto que os restantes migraram para França, Estados Unidos da América e para outros países ocidentais (incluindo a América Latina).

Até a Guerra dos Seis Dias a Jordânia controlou a Cisjordânia e o Egito controlou a Faixa de Gaza. Em 1950, a Transjordânia anexou a Cisjordânia, mas tal facto foi reconhecido apenas pelo Reino Unido. Ambos os territórios foram conquistados (mas não anexados) por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Nem a Jordânia nem o Egito permitiram a criação de um estado palestino nestes territórios.

A Guerra do Suez, de 1956, foi uma operação conjunta de Israel, Reino Unido e França, na qual Israel invadiu a Península do Sinai e as forças francesas e britânicas ocuparam o porto de Suez para ostensivamente separar as partes conflituosas, apesar de a real motivação destes dois últimos países ter sido a de proteger os interesses dos investidores no Canal do Suez. Esses interesses tinham sido afetados devido à decisão do presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser de nacionalizar o canal. Israel justificou a invasão do Egito pela necessidade de se proteger de ataques à sua população civil pelos fedayin e de restaurar os direitos de navegabilidade pelo estreito de Tiro, que os egípcios reclamavam estar nas suas águas territoriais. As forças invasoras concordaram em se retirar, sob pressão internacional, particularmente dos Estados Unidos da América e da União Soviética. Israel retirou-se da Península do Sinai, que foi ocupada por uma força da Nações Unidas (UNEF), em troca de garantias de utilização e navegabilidade no canal, que afinal ficou sob o controle do Egito. Durante este período deu-se o surgimento do Nasserismo; a proclamação da República Árabe Unida em 1958 e o seu colapso em 1961; disputas entre Israel e Síria relacionadas com áreas fronteiriças terrestres e marítimas: a continuação dos ataques dos fedayin, principalmente a partir da Síria e da Jordânia e represálias israelitas; e o aumento do alinhamento dos estados árabes com a União Soviética, principal fornecedora de armas.

No início da década de 1960, os estados árabes estabeleceram a OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
O artigo 24º da carta (ou pacto) de fundação da OLP, de 1964 estabelecia:
"Esta Organização não exerce qualquer soberania territorial sobre a Cisjordânia, sobre a Faixa de Gaza e sobre a Área de Himmah."




A Guerra dos Seis Dias decorreu entre 5 e 10 de Junho de 1967. 
Foi desencadeada por Israel contra o Egito e a Jordânia nos termos de uma guerra preventiva, já que o estado israelita sentia-se ameaçado pela política pan-árabe do presidente egípcio Nasser (que se traduziu em alianças militares com a Síria e a Jordânia) e pela partida de forças das Nações Unidas presentes no Sinai desde 1956. Alegando um iminente ataque do Egito e da Jordânia, Israel antecipou-se, atacando preventivamente. Reconhece-se atualmente, entretanto, que não havia quaisquer intenções agressivas dos países árabes atacados antes da guerra.



Em consequência da guerra, Israel expandiu-se territorialmente, ocupando a Cisjordânia (conquistada à Jordânia), a Faixa de Gaza e a Península do Sinai (conquistadas ao Egito) e os Montes Golã (conquistados à Síria). A parte da Cidade Antiga de Jerusalém (também chamada Jerusalém Oriental), tomada a 7 de Junho por Israel à Jordânia, seria reunificada por Israel com a Cidade Nova, formando um único município sob jurisdição israelita. Em 1980, uma lei israelita declarou Jerusalém como capital eterna e indivisível de Israel, mas a ocupação de Jerusalém Oriental é considerada ilegal do ponto de vista do direito internacional, tendo sido condenada por uma resolução das Nações Unidas.

A 6 de Outubro de 1973 os exércitos do Egito e da Síria atacaram de surpresa Israel durante a celebração do Yom Kippur, com o objectivo de reconquistarem os territórios que tinham perdido, permitindo-lhes reabrir o Canal de Suez e clamar a vitória.

A Guerra do Líbano de 1982 começou quando Israel atacou o Líbano, justificada por Israel como uma tentativa de remover os militantes Fatah liderados por Yasser Arafat do sul do Líbano, onde tinham estabelecido, durante a guerra civil do país, um enclave semi-independente utilizado para lançar ataques terroristas a civis israelenses. A invasão, que levou à morte de 20 mil libaneses, foi amplamente criticada tanto dentro como fora de Israel, especialmente após o ataque da milícia cristã a civis palestinos da região, no episódio que ficou conhecido como Massacre de Sabra e Shatila. A partir de 16 de junho de 2000, Israel tinha retirado completamente as suas tropas do Líbano, após uma eficiente campanha de resistência do Hezbollah.

A Primeira Intifada (1987-1993) começou como uma revolta dos palestinos, em particular os jovens, contra a ocupação militar israelense na Cisjordânia e Faixa de Gaza. Líderes da OLP exilados na Tunísia rapidamente assumiram o controle, mas a revolta também trouxe um aumento da importância dos movimentos nacionais palestinos e islâmicos. A Intifada iniciou-se por uma série de movimentos pacíficos. Tornou-se mais violenta depois que os protestos foram brutalmente reprimidos pelo aparato de segurança israelense. Tanto os protestos quanto os movimentos militantes tomaram como inspiração o levante xiita do Líbano que, 1985, provocou a retirada das tropas israelenses da maior parte dos territórios que ocupavam no Líbano.
A Intifada terminou com a assinatura dos Acordos de Oslo entre Israel e OLP.

A Guerra do Golfo (1990-1991) começou com a invasão iraquiana e anexação do Kuwait e não teve inicialmente envolvimento militar direto com Israel. Uma coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, que incluía forças árabes foi montada para retirar as forças iraquianas do Kuwait. Para chamar Israel para o confronto e dividir a coligação multinacional, o Iraque lançou mísseis Scud sobre cidades e instalações nucleares israelenses perto de Dimona. No entanto, sob forte pressão dos Estados Unidos, que temiam que o envolvimento direto de Israel pudesse ameaçar a unidade da coalizão, Israel não promoveu retaliações ao Iraque e a coalizão multinacional afastou as forças iraquianas do Kuwait. Durante a guerra, a liderança palestina e o Rei Hussein da Jordânia apoiaram a invasão iraquiana do Kuwait. O Kuwait e outras monarquias árabes do Golfo, em seguida, expulsaram pouco menos de 400 mil refugiados palestinos e retiraram o seu apoio à causa palestina, o que se tornaria um dos fatores que levaram a OLP a assinar os Acordos de Oslo.






A Intifada de Al-Aqsa começou no fim de setembro de 2000, na época em que o líder da oposição israelense Ariel Sharon e um grande contingente de guardas armados visitaram o complexo Monte do Templo/Al-Haram As-Sharif em Jerusalém e declararam a área território eterno israelita. Amplos motins e ataques eclodiram em Jerusalém e em muitas das grandes cidades israelenses, e se espalharam por toda a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Um grupo israelense de direitos humanos, B'Tselem, estimou o número de mortos em 3.396 palestinos e 994 israelenses, embora esse número seja criticado por não mostrar toda a imagem, e não distinguir entre combatentes e civis (terroristas suicidas, por exemplo, são contados entre os mortos). Em 2005, Israel evacuou de forma unilateral os assentamentos e os postos militares avançados da Faixa de Gaza e do norte da Cisjordânia.

O conflito israelo-libanês de 2006 teve início em 12 de julho de 2006, com um ataque pelo Hezbollah contra Israel. Três soldados israelenses foram mortos, e dois foram capturados e feitos prisioneiros no Líbano. Alegando como intenção a busca e o salvamento dos soldados capturados, uma operação de mais cinco soldados da Força de Defesa de Israel foram mortos. Isso marcou o início de uma nova onda de confrontos entre Israel e o Hezbollah, que viu a capital libanesa, o único aeroporto internacional libanês, e grande parte do sul do Líbano serem atacados por Israel enquanto milícias libanesas, provavelmente do Hezbollah, bombardeavam o norte de Israel, atingindo até a cidade israelense de Haifa, ao sul do país. Centenas de civis foram mortos, inclusive 90% das vítimas libanesas de ataques aéreos israelenses. Cresceram as preocupações de que a situação ficasse ainda pior, com a possibilidade da Síria ou Irão se envolverem. Mas um cessar-fogo foi assinado, entrando em vigor em 14 de agosto de 2006.

A Operação Chumbo Fundido é uma grande ofensiva militar das Forças de Defesa de Israel, realizada na Faixa de Gaza, a partir do dia 27 de dezembro de 2008, sexto dia da festa judaica de Hanucá. Todavia, na maior parte do mundo árabe, a ação israelense é referida como Massacre de Gaza. O ataque israelense ocorreu dias após o fim de um cessar-fogo, que vigorou por seis meses, conforme havia sido acordado entre o governo de Israel e representantes do Hamas, partido majoritário no Conselho Legislativo da Palestina e que controla a Faixa de Gaza. O Exército de Israel declarou que retiraria as suas tropas da Faixa de Gaza até à posse de Barack Obama na presidência dos Estados Unidos, no dia 20 de janeiro, e assim foi.

Em 2 de setembro de 2010, sob a mediação do presidente norte-americano, Barack Obama, no meio de muito ceticismo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, concordaram em retomar negociações de paz diretas, após uma interrupção de 20 meses. Contudo, a irredutibilidade do governo Netanyahu e a proteção diplomática americana impedindo na ONU punições a Israel pela transgressão das normativas internacionais têm reduzindo as margens de manobra dos negociadores, colocando mais uma vez um impasse numa solução final.

Os últimos anos têm sido marcados por acentuados confrontos entre o Hamas e Israel, enquanto as negociações com a ANP estagnavam. Em 2012, um único conflito de uma semana na Faixa de Gaza terminou com a morte de mais de 200 pessoas (a maioria palestinos).

Em 2014, o governo israelense lançou uma nova ofensiva contra Gaza que deixou centenas de mortos. Os recentes conflitos são caracterizados por bombardeios aéreos maciços por parte de Israel a áreas palestinas residenciais densamente povoadas, que fazem várias vítimas inocentes, e pelo lançamento de foguetes Qassam, pelos militantes palestinos, que acabam por atingir primordialmente áreas desabitadas, embora foquem a população civil israelense.





Segundo o jornalista Pepe Escobar, especialista em questões geopolíticas, os últimos grandes ataques de Israel à Faixa de Gaza (Operação Chumbo Fundido, entre 2008 e 2009, e sobretudo a Operação Margem Protetora, em 2014) constituem uma espécie de mini solução final, que consiste em expulsar os palestinos de Gaza, despovoando gradativamente a zona e convertendo seus antigos residentes em refugiados. Para o jornalista, a vitória, definida pelos israelenses como 'destruição do Hamas', significa a inexistência de qualquer poder político capaz de impedir Israel de ter acesso à "terra económica prometida", a saber, os jazimentos de gás natural do território de Gaza. 

"Trata-se de uma guerra energética disfarçada de limpeza étnica em câmara lenta", diz Escobar.

Com a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos a 20 de janeiro de 2017, as coisas voltaram a piorar. O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelos Estados Unidos e a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para a cidade de Jerusalém em 2017, foram responsáveis pelos confrontos mais mortíferos registados entre israelenses e palestinos desde 2014. Jerusalém está no centro do conflito que já dura há mais de 70 anos entre israelenses e palestinos - ambos veem a cidade como sagrada e a reivindicam como capital.
Os recentes desdobramentos abrem mais um capítulo na história de animosidade entre os dois povos. A disputa pela cidade, sagrada não só para judeus e muçulmanos, mas também para cristãos, é quase tão antiga quanto a luta por territórios entre israelenses e palestinos - e a decisão tomada pelo presidente Trump foi vista como um risco às negociações de paz na região. 

A construção nos colonatos registou um 'boom' desde a chegada ao poder do presidente norte-americano, Donald Trump, em 2017. 
Os colonatos israelitas são assentamentos ilegais construídos a partir de 1968, no Egito, Jordânia, Líbano e Síria, em territórios ocupados por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967). Desde então esses territórios são controlados pelo estado judeu. A ocupação dos territórios não é reconhecida internacionalmente.
Esses assentamentos estão localizados em três áreas principais:
Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golan. 
Em novembro de 2009, cerca de 400.000 israelenses viviam na Cisjordânia, em 168 assentamentos oficialmente reconhecidos. Outros 280.000 viviam em Jerusalém Oriental. Esses assentamentos tanto podem ser fazendas comunitárias como vilarejos de fronteira, com algumas centenas de habitantes, ou verdadeiras cidades, como Ariel. No caso de Jerusalém Oriental, trata-se de bairros dentro da cidade.

Os três maiores colonatos - Modi'in Illit, Maale Adumim e Betar Illit - são cidades com população superior a 30.000 residentes. Todavia, segundo um relatório confidencial do Ministério da Defesa de Israel, publicado pelo jornal Haaretz, em cerca de 75% dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, construções foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses. Segundo o mesmo estudo, em 30 colónias foram construídos “prédios e infraestruturas, incluindo estradas, escolas e delegacias policiais, em terras privadas de palestinos”.

Em Maio de 2018 o ministro da Defesa de Israel anunciou a intenção de aprovar mais 2.500 habitações para colonos na Cisjordânia ocupada. O ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano afirmou que os colonatos israelitas constituem a "ameaça mais perigosa para a vida dos palestinianos e para os seus meios de subsistência". Nestes colonatos vivem 400.000 israelitas, enquanto 200.000 estão a residir em Jerusalém Leste, ocupado e anexado pelo Estado hebreu. De acordo com a Manutenção de Paz, uma organização não-governamental opositora à colonização nos territórios ocupados por Israel desde 1967, 6.742 projetos de construção de habitações foram aprovados no ano passado, o maior número desde 2013, enquanto em 2016 o registo foi de 2.629.

A comunidade internacional considera ilegal os colonatos judaicos na Cisjordânia e um obstáculo maior para se encontrar a paz com os palestinianos.
Em Agosto de 2018 Israel autoriza a construção de mais de 1.000 casas em colonatos na Cisjordânia. Segundo a organização anticolonatos Shalom Achshav (Paz Agora),  uma Organização Não-Governamental (ONG) israelita, 96% dos fogos agora autorizados localizam-se em colonatos que teriam de ser evacuados num futuro acordo de paz. A organização afirma ainda que a construção nos colonatos registou um 'boom' desde a chegada ao poder do presidente norte-americano, Donald Trump, em 2017. Desde então, o governo israelita aprovou mais de 15.000 novas residências na Cisjordânia, território palestiniano ocupado há mais de 50 anos pelo exército israelita.

Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro israelita) quer sacrificar os interesses israelitas para as eleições de 9 de Abril de 2019, oferecendo aos colonos um presente para reforçar os votos da extrema-direita a seu favor.

A expansão dos colonatos na Cisjordânia retalhou este território, tornando difíceis as deslocações sobretudo desde que os israelitas construíram vedações e muros de separação, isolando os palestinos deixando-os sem fornecimentos fundamentais à sua sobrevivência. Qualquer perspectiva de resolução para aquela região implica que se encontre uma solução para os colonatos. Israel terá sempre de abandonar a maioria dos colonatos, e alguns são muito populosos, ao contrário do que sucedia no Sinai e na Faixa de Gaza.




Há também dificuldades políticas. 
Alguns dos partidos israelitas sem os quais não se consegue formar uma maioria de governo defendem a ideia de que a Cisjordânia – as terras bíblicas da Judeia e Samaria – são parte inalienável de Eretz-Israel, e por isso nunca deverão ser cedidas aos palestinianos. Os colonos também têm um partido político com representação parlamentar e são politicamente muito activos. Em contrapartida Israel está totalmente isolado na sua política face aos colonatos.
Já foi condenado duas vezes nas Nações Unidas e nem os seus aliados ocidentais apoiam a expansão desta forma de ocupação apesar de o lançamento de novas construções nunca ter verdadeiramente parado. 

Actualmente vivem mais de 300 mil judeus nos colonatos da Cisjordânia e mais 200 mil nos que foram construídos nos subúrbios Jerusalém Oriental. Cerca de 500 mil colonos israelitas vivem em coexistência, muitas vezes num ambiente tenso e conflituoso, com mais de 2,5 milhões de palestinianos na Cisjordânia, território ocupado desde 1967 por Israel.




Tudo isto começou com o Movimento Sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, que ganhou força por volta de 1920, em reação ao antissemitismo sofrido por eles na Europa.
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. As aspirações sionistas deram início a um forte movimento migratório judaico, que gerou resistência entre as comunidades locais. Após a desintegração do Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações, órgão internacional antecessor da Organização das Nações Unidas (ONU), para administrar o território da Palestina. Antes e durante a guerra, contudo, os britânicos fizeram, tanto aos árabes quanto aos judeus, uma série de promessas que não se cumpririam - entre outras razões, porque o Reino Unido já havia repartido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre os dois lados que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes. 

Após a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, aumentou a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. O plano original previa a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e palestinos.
A religião judaica diz que a área em que Israel foi fundado é a terra prometida por Deus ao primeiro patriarca, Abraão, e seus descendentes. A região foi invadida pelos antigos assírios, babilónicos, persas, macedónios e romanos. Roma foi o império que nomeou a região como Palestina e, sete décadas depois de Cristo, expulsou os judeus de suas terras depois de lutar contra os movimentos nacionalistas que buscavam independência.

Com o surgimento do islão, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e depois conquistada pelas cruzadas europeias. Em 1516, estabeleceu-se o domínio turco, que durou até a Primeira Guerra Mundial, quando o mandato britânico foi imposto.
A Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina disse em seu relatório à Assembleia Geral em 3 de setembro de 1947 que as razões para estabelecer um Estado judeu no Oriente Médio eram baseadas em "argumentos a partir de fontes bíblicas e históricas" e na Declaração de Balfour de 1917, em que o governo britânico se posicionou favoravelmente a um "lar nacional" para os judeus na Palestina. Reconheceu-se a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e as bases para a constituição de um Estado judeu na região.





Após o Holocausto nazista contra milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, cresceu a pressão internacional para o reconhecimento. Sem conseguir resolver a polarização entre o nacionalismo árabe e o sionismo, o governo britânico levou a questão à ONU. Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral aprovou um plano de partilha da Palestina, que recomendou a criação de um Estado árabe independente e de um Estado judeu, além de um regime especial para Jerusalém. O plano foi aceito pelos israelenses, mas não pelos árabes, que o viam como uma perda de seu território. Por isso, nunca foi implementado. Um dia antes do fim do mandato britânico da Palestina, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel, representante dos judeus durante o mandato, declarou a independência do Estado de Israel. No dia seguinte, Israel solicitou a adesão à ONU e foi aceito um ano depois. Hoje, parte dos membros da organização ainda não reconhece o Estado israelense - o mesmo vale para a Palestina.

A divisão do território foi definida pela linha de armistício de 1949, estabelecida após a primeira guerra árabe-israelense, criando assim dois territórios palestinos: a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) e a Faixa de Gaza. A distância entre eles é de cerca de 45 km. Têm uma área de 5.970 km2 e 365 km2, respectivamente.

Originalmente ocupada por Israel, que ainda mantém o controle de sua fronteira, Gaza foi tomada pelo Exército israelense na guerra de 1967 e desocupada apenas em 2005. Israel, no entanto, mantém um bloqueio por ar, mar e terra que restringe a circulação de mercadorias, serviços e pessoas, deixando os palestinos de Gaza completamente isolados. 

Em 2007, Gaza passou a ser governada pelo Hamas, grupo islâmico que nunca reconheceu os acordos assinados entre Israel e outros grupos palestinos. Em Outubro daquele ano, um acordo de reconciliação entre o Hamas e o laico Fatah - ambos grupos palestinos, porém rivais - deu à Autoridade Palestina o controle administrativo de Gaza.

Após a criação do Estado de Israel e o deslocamento de milhares de pessoas que perderam suas casas, o movimento nacionalista palestino começou a se reagrupar na Cisjordânia e em Gaza, controlados pela Jordânia e pelo Egito, respectivamente, e nos campos de refugiados criados em outros países árabes. Pouco antes da guerra de 1967, organizações palestinas como o Fatah, então liderado por Yasser Arafat, formaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e lançaram operações contra Israel - primeiro a partir da Jordânia e, depois, do Líbano. Os ataques também incluíram alvos israelenses em solo europeu.
Em 1987, teve início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense, a intifada. A violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a assinatura, entre a OLP e Israel em 1993, dos Acordos de Paz de Oslo, nos quais a organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de Israel "de existir em paz e segurança", algo que o Hamas nunca aceitou. 

Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele, por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades civis e de segurança controlam áreas urbanas (a chamada "zona A"). Somente representantes civis - e não militares - governam áreas rurais ("zonas B").

Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica pelos palestinos, não está incluída nesse acordo e é uma das questões mais polémicas entre as partes. Em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, quando teve início a segunda intifada palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito permanentes.

Os principais pontos de conflito: 
A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e o bloqueio de Israel a Gaza, condenada pelo Tribunal Internacional de Haia, complicam o andamento de um processo de paz.
Mas esses não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então presidente americano Bill Clinton não conseguiu mediar um acordo entre Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak.

As diferenças que parecem irreconciliáveis são:
- Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira e afirma que a cidade é sua capital "eterna e indivisível", após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital.
- Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria Jerusalém Oriental, algo rejeitado por Israel.
- Colonatos: ilegais sob a lei internacional, foram construídos pelo governo israelense nos territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, há mais de meio milhão de colonos judeus.
- Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com a OLP, dos quais cerca de metade são registados na ONU) têm o direito de voltar ao que é hoje Israel. Mas, para o governo israelense, permitir o seu retorno destruiria a sua identidade como um Estado Judeu.

A ONU reconheceu a Palestina como um "Estado observador não membro" no final de 2012, deixando de ser apenas uma "entidade" observadora. A mudança permitiu aos palestinos participar de debates da Assembleia Geral e melhorar as hipóteses de filiação a agências da ONU e outros organismos. Mas o voto não criou um Estado Palestino. Um ano antes, os palestinos tentaram, mas não conseguiram apoio suficiente no Conselho de Segurança.

A existência de um importante e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos e o fato de a opinião pública ser frequentemente favorável aos israelenses torna praticamente impossível a um presidente americano retirar o apoio a Israel.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela BBC em 2013 em 22 países, os Estados Unidos foram a única nação ocidental com opinião favorável a Israel e a única com uma maioria de avaliações positivas (51%).
Além disso, ambos os países são aliados militares: Israel é um dos maiores receptores de ajuda americana, em grande parte destinada a subsídios para a compra de armas.

Já os palestinos não têm apoio declarado de nenhuma potência. 
Na região, o Egito deixou de apoiar o Hamas, cujo apoio principal hoje vem do Catar.


O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura? Israelenses teriam de aceitar a criação de um Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas três áreas que formariam o Estado palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. 
Grupos palestinos precisariam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel.
Além disso, teriam de chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, colonatos e o retorno de refugiados. 

No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram, especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e israelenses. Para Israel, esses são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967. 

Além disso, enquanto no campo militar a tensão é constante na Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de colonatos israelenses, o que reduz, na prática, o território palestino nestas áreas.





Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém. 
Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o Hamas, em Gaza, reivindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel tê-la ocupado em 1967. Um pacto definitivo dificilmente será possível sem resolver esse ponto, questão agora ainda mais complexa após a decisão americana de reconhecer a cidade como capital de Israel e transferir a sua embaixada para lá. 
A decisão de Trump é a concretização de uma medida aprovada em 1995 pelo Congresso americano, prevendo a mudança da embaixada para Jerusalém. No entanto, isso nunca havia sido posto em prática, porque era necessária a aprovação da Presidência. Desde então, em todos os semestres, o ato do Congresso foi encaminhado aos presidentes americanos, mas a praxe sempre foi renunciar à mudança. Apesar de parecer contraditório, foi o que o próprio Trump fez inicialmente. O republicano também assinou a renúncia, para que houvesse tempo de iniciar a transferência da embaixada, mas anunciou publicamente o reconhecimento da cidade como capital israelense. Agora, a transferência da embaixada foi consumada, o que intensificou ainda mais a tensão na região na véspera da celebração da Nakba.

Atualmente, a maioria dos países mantém as suas embaixadas em Tel Aviv, justamente pela falta de consenso na comunidade internacional sobre o status de Jerusalém. A posição da maior parte da comunidade internacional,  é a de que o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.

No conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém, cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é uma das questões mais polémicas e ponto crucial nas negociações de paz.  
A Autoridade Palestina reclama toda Jerusalém Oriental, incluindo o Monte do Templo, como a capital do Estado da Palestina. A posição oficial dos palestinos é de que Jerusalém deveria ser uma cidade sem partição física e que a Palestina garantiria liberdade de culto, acesso e proteção dos locais de importância religiosa.







O Monte do Templo é a grande questão no que diz respeito a Jerusalém:



O Monte do Templo, Har Ha-Bayit em hebraico, em alusão ao antigo templo, conforme é conhecido pelos judeus e cristãos, também chamado Nobre Santuário pelos muçulmanos, é um lugar sagrado para judeus, cristãos e muçulmanos, sendo também um dos locais mais disputados do mundo.
Lá se encontram a Mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, construídos no século VII e que estão entre as mais antigas estruturas do mundo muçulmano. Por essa razão, o lugar é também referido pela imprensa como Esplanada das Mesquitas.

Trata-se do local mais sagrado do judaísmo, já que é no Monte Moriá que se situa a história bíblica do sacrifício de Isaac. O monte Moriá (em hebraico: Mōriyāh, que significa "ordenado/considerado por Deus") é o local onde, segundo o livro de Génesis, ocorreria o sacrifício de Isaque. Também seria o local onde Salomão construiu a casa do Senhor, em Jerusalém. No monte Moriá, Deus apareceu a Davi, pai de Salomão quando Davi preparou a eira (o lugar) que pertenceu a Araúna, o jebuseu, para a construção do Templo do Senhor a que Jeová prometeu que seria construído por seu filho Salomão. O rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888), no seu conhecido comentário sobre a Tora, comenta: "Se é verdade aquilo que os Mestres ensinam, que o nome Moriá indica a localidade da qual saiu o ensino, o esclarecimento; se foi nesse lugar que Caim e Abel ofertaram os primeiros sacrifícios; se foi nesse lugar que Noé, quando saiu da arca depois do Dilúvio, ofereceu a Deus o seu sacrifício de gratidão; se tudo isso é verdade, então devemos concluir que com a indicação do monte Moriá como lugar consagrado, foi dado a conhecer a Abrahão que este seu ato não seria importante e transcendental somente para ele, mas também para as gerações vindouras." Monte Moriá também é a designação dada a uma colina rochosa onde o rei Salomão construiu o templo para Deus. Foi o seu pai, o rei David, que adquiriu o terreno do jebuseu Araúna para erigir ali um altar.
A antiga tradição judaica associa o lugar onde o Templo de Salomão se erguia com o monte na "terra de Moriá", onde Abraão, às ordens de Deus, ofereceu o seu filho. Foi para a "terra de Moriá" que Abraão viajou e, no terceiro dia, ele viu à distância o lugar indicado por Deus. Parece evidente que o monte Moriá não era habitado no tempo de Abraão, sendo portanto um local isolado e adequado para a realização do sacrifício. Salém, o povoado que mais tarde deu origem à capital do Reino de Israel, Jerusalém, deveria situar-se a alguma distância daquele local. Que o lugar ainda se encontrava isolado séculos depois pode ser deduzido do facto de ali existir uma eira, nos dias de Davi, não se mencionando qualquer construção naquele local.

Actualmente, o santuário islâmico conhecido como Domo da Rocha ou Cúpula da Rocha fica no alto do Monte Moriá, Cúpula da Rocha ou Domo da Rocha são nomes atribuídos à Mesquita de Omar, situada no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém. O edifício, construído no século VII, é um dos sítios mais sagrados do islamismo e uma das grandes obras da arquitectura islâmica. Sua vistosa cúpula dourada é um dos pontos mais emblemáticos da cidade. A mesquita é parte integrante do centro histórico de Jerusalém, declarado Património da Humanidade pela UNESCO em 1981. O edifício é um santuário onde teria sido o altar de sacrifícios usado por Abraão, Jacó e outros profetas que introduziram o ritual nos cultos judaicos. Davi e Salomão também consideraram o local sagrado, mais tarde enquanto altar, a Cúpula da Rocha teria sido o lugar de partida da Al Miraaj (viagem aos céus realizada pelo profeta Maomé) permanece hoje como um templo da fé islâmica. A Cúpula da Rocha recebeu esse outro nome devido à grande rocha circunscrita a ela que foi usada em sacrifícios — atualmente protegida no interior da Mesquita de Omar — e constitui uma das razões pelas quais a cidade de Jerusalém é considerada Cidade Santa por várias religiões.

Segundo a tradição judaica, foi nessa rocha que Abraão preparou o sacrifício do seu filho Isaac a Deus e onde, mil anos antes de Cristo, o rei Salomão construiu o primeiro templo.
Para os muçulmanos, lá teria ocorrido o sacrifício de Ismael. O lugar da "pedra do sacrifício" (a Sagrada Pedra de Abraão) foi eleito pelo rei David para construir um santuário que albergasse o objeto mais sagrado do judaísmo, a Arca da Aliança. As obras foram terminadas por Salomão no que se conhece como Primeiro Templo ou Templo de Salomão e cuja descrição só conhecemos através da Bíblia, já que foi profanado e destruído por Nabucodonosor II em 587 a.C., dando início ao exílio judaico na Babilónia.

Uns anos depois foi reconstruído o Segundo Templo, que voltou a ser destruído em 70 d.C. pelos romanos, com a exceção do muro ocidental, conhecido como Muro das Lamentações, que ainda se conserva e que constitui o lugar de peregrinação mais importante para os judeus. Segundo a tradição judaica, é o sítio onde deverá construir-se o terceiro e último templo nos tempos do Messias.
É o terceiro lugar mais sagrado do islamismo, por se referir à jornada de Muhammad de Meca a Jerusalém e sua ascensão ao paraíso. O local é também associado a vários outros profetas - assim considerados tanto por judeus quanto por muçulmanos.

Actualmente, o acesso aos templos é bloqueado por questões de segurança (o que algumas organizações vêem como violações aos direitos humanos), porém em determinadas ocasiões do ano o acesso de fiéis oriundos da Cisjordânia é liberado pelo exército israelense; durante o Ramadão de 2008, por exemplo, o então ministro da defesa do país, Ehud Barak, permitiu o acesso, durante as reuniões de sexta-feira, apenas de homens entre 45 e 50 casados, mulheres de 30 e 45 anos, além de homens com mais de 50 e mulheres com mais de 45 anos.

A ONU não reconhece a anexação de Jerusalém Oriental, considerada como território ocupado. Ela declarou a lei israelense de 1980 como uma violação Direito Internacional. Para o organismo, o status final de Jerusalém deve ser negociado entre as partes.

O governo russo, no qual Moscovo disse considerar "Jerusalém Ocidental como a capital de Israel". A nota também reconhecia "Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado palestino". "Confirmamos lealdade às decisões da ONU sobre os princípios de resolução, incluindo o estatuto de Jerusalém Oriental como capital do futuro estado palestiniano. Entretanto, achamos necessário acrescentar que, neste contexto, classificamos Jerusalém Ocidental como a capital de Israel", diz o comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, citado pela imprensa estatal.

Não há consenso sobre o status de Jerusalém. 
Há sete décadas, a cidade é disputada por Israel e Palestina como capital de seus respectivos estados. 
Para a comunidade internacional, a cidade deveria ser partilhada entre israelenses (porção ocidental) e palestinos (porção oriental), enquanto Israel diz que a cidade toda, unificada, é sua.

Encravada entre Israel e a Cisjordânia (território palestino ocupado por Israel onde tem feito bastantes colonatos para aumentar aí a sua influência), Jerusalém funciona como um microcosmo do conflito israelense-palestino.

Argumentos a favor e contra o reconhecimento da cidade berço das três religiões monoteístas (cristã, muçulmana e judaica) como capital de Israel:

  •  Para a maior parte da comunidade internacional, incluindo a maioria dos países membros ONU, a capital de Israel não é Jerusalém. Todas as embaixadas - excetuando-se, agora, a dos Estados Unidos - estão em Tel Aviv, a 90 quilómetros dali. Isso porque foi em Tel Aviv onde, em 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência e começou a organizar o governo do novo país.

"A posição quase consensual internacional é: enquanto não for definido o status de Jerusalém, são reconhecidas como capitais as sedes provisórias de seus governos. No caso da Palestina, o governo de fato está em Ramala, a alguns quilómetros de Jerusalém. E o mesmo vale para Israel. Israel, no entanto, declarou Jerusalém como sua capital "completa e unificada" em 1980, anexando formalmente a porção oriental da cidade e contrariando compromissos firmados em 1949. Na época, após a guerra árabe-israelense, criou-se a chamada "linha verde", que definiu as fronteiras internacionalmente reconhecidas para Israel até hoje, dividindo Jerusalém entre Palestina e Israel.


  •  O governo de Israel evoca diversos argumentos. Um deles é a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Após o conflito, para defender-se de uma coalizão de países árabes, Israel tomou territórios até então sob controle palestino - incluindo a parte leste de Jerusalém. Na sequência, Israel passou a ampliar os assentamentos judeus na região, de maneira a reforçar sua presença na área. Argumentos religiosos também estão presentes nos discursos oficiais. "Jerusalém é mencionada no Novo Testamento 220 vezes. Na Bíblia judaica, aparece 260 vezes. Não aparece uma vez no Alcorão.
  •  A população de Jerusalém é hoje de maioria judaica devido aos colonatos. Na parte oriental, prevalecem palestinos, que vivem lá com uma permissão de residência concedida pelo governo de Israel - são os palestinos jerusalemitas. Embora eles tenham liberdade de circulação no território, não são considerados cidadãos israelenses e, portanto, não gozam dos mesmos direitos que os israelenses.







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