quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Resposta à tua pergunta



Filippo Rizzi


Foi a aflição mais longa que eu já vi.
A primavera se espremeu em verão e o verão
já perdia seu vigor
e a mesma escuridão ainda cobria tudo.
Como um alpinista invertido
descobri que debaixo de cada fundo
abre-se outro. Não,
falar não dá grandes prazeres e
não há quase mais nada para descobrir:
 remas nos longos dias
como um autómato, reúnes toda a força
para a menor das demandas, percebes
que é teu somente teu, mais
do que tudo que já foi teu, sais
depois de três — ou quatro? — dias fechada
e te espantas com tanto ruído e luz.
Também te encaram espantados,
depois magoam. Ao meio-dia 
já te arrebatas pela ânsia da noite,
uma hora dura um ano, tu
pensas apenas em dormir, por fim
desabas agradecida sobre a cama:
a tua garganta amordaçada, mas
a pequena morte ainda se entrega,
sepulcro da vida quotidiana,
banho das lides dolorosas, bálsamo —
como acabou? Simples,
como começou. Num dia súbito
isso te joga de novo na praia.
Uma brisa leve, a cor ao teu redor
se aclara, tuas pernas tremelicam na areia,
a língua volta para ti. Não você não
esquece: esse olhar paciente
nunca te perde de vista.

Tal Nitzán





Tal Nitzan, poeta israelita nascida em Jafa em 1960, é uma ativista incansável, que luta pelos direitos humanos dos palestinianos e pela preservação da paz em Israel.
A poeta tem ainda um trabalho importante como ativista pela paz nos conflitos da região, tendo organizado em 2005, por exemplo, a antologia "Com Caneta de Ferro: Poesia de Protesto Israelita 1984 - 2004", reunindo o trabalho de poetas que têm erguido a sua voz contra a ocupação dos territórios palestinos por Israel.






Sem comentários:

Enviar um comentário