quinta-feira, 31 de outubro de 2019
A vida na hora
A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.
Não sei o papel que desempenho.
Só sei que é meu, impermutável.
De que se trata a peça
devo adivinhar já em cena.
Despreparada para a honra de viver,
mal posso manter o ritmo que a peça impõe.
Improviso embora me repugne a improvisação.
Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.
Meu jeito de ser cheira a província.
Meus instintos são amadorismo.
O pavor do palco, me explicando, é tanto mais humilhante.
As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.
Não dá para retirar as palavras e os reflexos,
inacabada a contagem das estrelas,
o caráter como o casaco às pressas abotoado –
eis os efeitos deploráveis desta urgência.
Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes
ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!
Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.
Isto é justo – pergunto
(com a voz rouca
porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).
É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida
feita em acomodações provisórias. Não.
De pé em meio à cena vejo como é sólida.
Me impressiona a precisão de cada acessório.
O palco giratório já opera há muito tempo.
Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas.
Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia.
E o que quer que eu faça,
vai se transformar para sempre naquilo que fiz.
Wislawa Szymborska
in, Poemas
Cooperation...not competition
There's a theory that says that life is based on a competition and the struggle and the fight for survival, and it's interesting because when you look at the fractal character of evolution, it's totally different. It's based on cooperation among the elements in the geometry and not competition.
– Bruce Lipton
The Andromeda Galaxy viewed via various frequencies...
There is a fundamental field of information that is the source of our consciousness. Consciousness is not an epiphenomenon of your brain, it's actually something that your brain is tuned into like a radio is tuned to a set of information.
– Nassim Haramein
Visualizing your antenna & field interactions
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
Desiderata
Vá placidamente por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.
Tanto quanto possível, sem sacrificar seus princípios, conviva bem com todas as pessoas.
Diga a sua verdade calma e claramente e ouça os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes, pois eles também têm sua história. Evite as pessoas vulgares e agressivas, elas são um tormento para o espírito.
Se você se comparar aos outros, pode tornar-se vaidoso ou amargo, porque sempre existirão pessoas superiores e inferiores a você.
Usufrua suas conquistas, assim como seus planos. Manter-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde, é um bem verdadeiro na sorte incerta dos tempos.
Tenha cautela em seus negócios, pois o mundo é cheio de artifícios, mas não deixe isso te cegar à virtude que existe. Muitos lutam por ideais nobres e por toda parte a vida é cheia de heroísmo.
Seja você mesmo. Sobretudo, não finja afeições.
Não seja cínico sobre o amor, porque, apesar de toda aridez e desencantamento, ele é tão perene quanto a relva.
Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência às coisas da juventude.
Alimente a força do espírito para ter proteção em um súbito infortúnio. Mas não se torture com temores imaginários. Muitos medos nascem da solidão e do cansaço.
Adote uma disciplina sadia, mas não seja exigente demais. Seja gentil consigo mesmo.
Você é filho do Universo, assim como as árvores e as estrelas. Você tem o direito de estar aqui.
E mesmo que não lhe pareça claro, o Universo, com certeza, está evoluindo como deveria.
Portanto, esteja em paz com Deus, não importa como você O conceba.
E, quaisquer que sejam as suas lutas e aspirações no ruidoso tumulto da vida, mantenha a paz em sua alma. Apesar de todas as falsidades, maldades e sonhos desfeitos, este ainda é um belo mundo. Alegre-se. Empenhe-se em ser feliz!
Max Ehrmann
Como se faz para manter um amor ?
"Uma mãe e a sua filha estavam a caminhar pela praia. Num certo ponto, a menina perguntou:
- Como se faz para manter um amor ?
A mãe olhou para a filha e respondeu:
- Pega num pouco de areia e fecha a mão com força...
A menina assim fez e reparou que quanto mais forte apertava a areia com a mão com mais velocidade a areia se escapava.
- Mamãe, mas assim a areia cai !!!
- Eu sei, agora abre completamente a mão...
A menina assim fez mas veio um vento forte e levou consigo a areia que restava na sua mão.
- Assim também não consigo mantê-la na minha mão!
A mãe, sempre a sorrir disse-lhe:
- Agora pega outra vez num pouco de areia e deixe-a na mão semi-aberta como se fosse uma colher... bastante fechada para protegê-la e bastante aberta para lhe dar liberdade.
A menina experimenta e vê que a areia não se escapa da mão e está protegida do vento.
- É assim que se faz durar um amor..."
domingo, 27 de outubro de 2019
Saturno e a Lua Nova em Escorpião
Saturno leva pouco menos de 30 anos a cumprir uma volta completa ao nosso mapa.
Durante essa lenta e vagarosa viagem irá "conversar" com todos os os outros planetas do nosso mapa, relembrando a cada um que a nossa vida serve um propósito muito mais elevado e sagrado do que a simples rotina de sobrevivência social.
No entanto, esses trânsitos de Saturno podem ser difíceis por duas razões:
1ª porque é nessas alturas que a vida desperta o nosso propósito evolutivo e nos relembra na nossa vida, através de circunstâncias diárias onde no passado, (nesta ou normalmente em vidas anteriores) deixámos assuntos por resolver (ou por má resolução ou por imaturidade e desresponsabilização).
2º porque normalmente quem mais nos desafia, representa precisamente o que precisamos curar em nós. Autoritarismo, agressividade, imaturidade, manipulação, apego, irresponsabilidade, arrogância, materialismo, egoísmo, crítica, etc. A proposta é aceitarmos o outro como um espelho do que em nós vive inconsciente, assumirmos essa sombra em nós e finalmente conscientes dessa parte, corrigirmos, superarmos e darmos agora resposta positiva.
Sem este conhecimento, não percebemos os movimentos do outro e caímos na tentação da projeção, tornamo-nos prisioneiros da vitimização e da sensação de injustiça, ignorantes da riqueza e oportunidade dessas movimentos, culpando sempre o outro pelas nossas circunstâncias.
Saturno é o Senhor do Karma, lei que defende que toda a ação gera ao próprio a sua respectiva reação. Não como castigo mas sim para que possamos aprender sobre as nossas próprias escolhas.
Representa também o principio da maturidade e da responsabilidade pelas nossas escolhas, ações e respostas. É por isso ele que garante a justiça divina, devolvendo-nos apenas as consequências de escolhas já feitas por nós algures no passado.
Tudo o que a nós chega, traz o carimbo Saturnino, entregue pelo carteiro que mais se ajusta à encomenda, sempre no tempo certo.
Quando não entendemos o princípio karmico, corremos o risco de chamar "sorte e azar" às circunstâncias, vendo injustiças onde elas afinal não existem.
Da mesma maneira que Saturno é implacável com as suas lições, mantendo-nos prisioneiros dos seus anéis quando nos recusamos a aceitar os seus ensinamentos e propostas de superação, é também ele que garante as maiores recompensas, sempre que humildemente aceitamos as consequências e as superamos positivamente.
Embora as dinâmicas karmicas sejam até relativamente fáceis de entender pois o seu princípio é simples, são realmente desafiantes de aceitar, principalmente porque não fomos educados nesse conceito. Por um lado a culpa, o julgamento e a falsa sensação de injustiça são ainda a resposta automática que apenas impedem que a superação seja conseguida. Por outro, o Ocidente está ainda a aprender a integrar a ideia de vidas passadas, ou seja, a nossa vida presente é um continuum de vidas passadas e é nela que vamos colher muitas das consequências do que foi já criado em vidas passadas.
Conhecermos a proposta do nosso Saturno Natal e sabermos onde ele se encontra em trânsito é essencial para que possamos perceber a nossa história karmica e aproveitar as oportunidades diárias, de forma a irmos libertando todos esses pesos Karmicos.
Vera Luz
Lua Nova em Escorpião
Hoje temos a lua nova no grau 5 de Escorpião.
Na lua nova, a Lua e o Sol ficam lado a lado, exactamente no mesmo grau .
A Lua "desaparece" no céu, pois não é capaz de reflectir a luz solar.
Um momento de escuridão com um potencial criativo extraordinário.
Na escuridão abre-se um espaço para a luz.
Esta lua nova é particularmente tensa.
Para além de ser num signo que nos conduz à regeneração constante, à morte do que em nós é sombrio para que possa emergir a luz, será em oposição a Urano em Touro e, os seus dispositores, Marte e Plutão, estão em quadratura.
As crises que os processos escorpiónicos nos trazem, levam em última análise, ao confronto connosco, à necessidade de sairmos da letargia do que sempre foi e precisa deixar de ser. A tirar da nossa lama emocional a hidra e cortar-lhe as cabeças.
A oposição de Úrano traz urgência ao processo e também ordem.
Não no sentido da arrumação mas, pelo contrário, de desarrumação.
A ordem é a do Céu. Enquanto acreditarmos que o controlo nos traz ordem... continuaremos pequeninos, presos nas areias movediças do nosso inconsciente.
Urano desarruma o que nos impede de encontrar O Caminho.
Muitas vezes, essa desarrumação traz insegurança através do aparente caos. O universo não é caótico e, por isso, por trás do aparente caos que as vezes se instala na vida, está a certeza de que uma nova ordem está pronta a manifestar-se.
A quadratura de Marte e Plutão, impele à acção, movimento.
Nem sempre a accao e o movimento são para fora.
Melhor do que levarmos um empurrão é tomarmos a decisão de começarmos a caminhar. Verdadeiramente caminhar. Se corres, Pára! Pergunta-te para onde e, mais importante ainda, para quê. Se o para quê não te vier da alma... Pára! Se calhar não é por aí.
Esta Lua Nova é um bom momento para contactar com medos escondidos, bloqueios, padrões que nos limitam – transmutar, alquimizar... consciencializar e largar o que nos assombra.
É sempre uma oportunidade para abrir uma porta para o inconsciente e encontrar tesouros escondidos pois, só assim, podemos viver o poder da verdadeira Vontade. Assumamos a responsabilidade pela limpeza e purificação das nossas águas. Um momento para criar a verdade de cada um na certeza que somos apenas uma parte de um Todo e, enquanto parte, temos a essência do Todo.
Vera Braz Mendes
Escorpião
“… E era de manhã quando Deus parou diante das suas doze crianças e em cada uma delas plantou a semente da vida humana. Uma por uma, dirigiram-se a Ele para receber a sua dádiva. (…)
A ti Escorpião, dou uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens mas não permito que fales sobre o que aprenderes. Muitas vezes serás magoado pelo que vês e em tua dor te afastarás de Mim, e te esquecerás de que não sou Eu, mas a perversão da Minha Ideia que causa a tua dor. Terás tanto do homem, que chegarás a conhecê-lo como animal, e lutarás tanto com o teu instinto animal dentro de ti, que perderás o teu caminho; mas quando tu finalmente voltares para Mim, Escorpião, eu terei para ti a suprema dádiva do Propósito. E Escorpião voltou ao seu lugar.”
In, Os Nódulos Lunares – Martin Schulman
Escorpião, signo de água, é o oitavo do zodíaco.
Signo fixo, concentra através da água o ar libertado em Balança e cuja distribuição será feita pelo fogo de Sagitário. Depois da relação, do equilíbrio, do “casamento” em Balança, é necessário aprofundar, “entrar na intimidade do quarto” onde as paixões, os jogos de poder, o que está oculto é vivido intensamente e nos levam ao confronto connosco. É necessário entrar nas águas emocionais e integrá-las. Escorpião simboliza o lado profundo, transformador, regenerador da vida. O que está reprimido, escondido, oculto – o tabu. Escorpião é penetrante, magnético, procura fusão e, por isso, a sua ligação com o sexo - o canal perfeito para libertar energia reprimida, estagnada, primitiva… mas também simbolizando transcendência... do Eu. A fusão implica entrega.
Como dizem os franceses “petite mort” – experiência de transcendência pouco depois do pico do orgasmo.
Escorpião é regido por Marte e Plutão.
“Plutão, co-regente de Escorpião, é o deus do infra mundo, a carga subterrânea das origens ainda presente em cada um de nós. Força animal, cega, irracional, traduz-se em luta pela posse e pela sobrevivência. Marte, co-regente de Escorpião, mostra-nos o impulso activo, o desejo, tendencialmente obstinado, intenso, de uma agressividade introvertida, elevada à máxima potência pelo poder abissal de signo.
A Casa 8 pertence a Escorpião e é a 2ª Casa cármica, em que o Eu se confronta com a prisão obscura do seu próprio passado. Obriga a exorcizar antigos medos. É a carga psíquica e instintiva condicionada pelo desejo. É a vida sentida como obsessão de sobrevivência. O Signo e os Planetas que se situam na Casa VIII agem pressionados por memórias irracionais de mal-estar inconsciente. Afirmam-se frente aos outros através de uma qualquer forma de poder: material, sexual, ou psíquico. A Casa 8 é uma área de regeneração, de transformação interior, por isso é chamada a Casa da Morte".
António Rosa - in, Cova do Urso
Mal fadado, incompreendido, certamente mal amado, não simbolizasse ele, o Escorpião, a Hidra, monstro de nove cabeças que vive escondido nas águas escuras, nas areias movediças do nosso inconsciente. Á espreita, sempre à espreita… Na sombra alimenta-se do medo, dos dejectos psíquicos, da nossa própria imperfeita natureza humana. Hidra, monstro, Ego, corpo de desejo, corpo de dor… tantos nomes que afinal correspondem tão só e apenas a uma ilusória necessidade humana - luta pela sobrevivência que nos impele a fugir das sombras ou a viver nelas.
Luta contra a inevitabilidade da rendição ao poder da vontade da Alma. Rendição que, simbolicamente, acontece no oitavo signo, na oitava casa, na Porta Oculta do Escorpião. Depois da morte, há sempre renascimento. Como Fénix, o Ego morre e, como tudo na vida, renasce das cinzas para se colocar ao serviço da Alma. Até lá, tarefa difícil a de trazer à consciência, iluminar um inimigo tão poderoso.
Como na história de Hércules, cortamos uma cabeça à Hidra e no seu lugar nascem duas. Enquanto Hércules lutou com a Hidra dentro de água não a dominou. Foi então que se lembrou das palavras do seu mestre: elevamo-nos quando nos ajoelhamos e triunfamos quando nos rendemos. Hércules ajoelhou-se, tirou o monstro da água e ergueu-o no ar. Retirou-lhe a força e venceu. Uma das cabeças da Hidra era imortal e continha uma jóia que Hércules enterrou. Nenhum problema, nenhuma sombra é integrada no nível em que aparece, é preciso subir de nível.
O reconhecimento da nossa Hidra, a sua transmutação, são a verdadeira alquimia - a jóia – Poder da Vontade centrada, canalizada conscientemente na construção do Caminho.
O processo de Escorpião é a própria vida, está sempre a acontecer.
Todos temos no caminho este processo, metamorfose constante, morte e renascimento.
A casa 8 de um Mapa Natal, os planetas que trazemos em Escorpião e a casa que abre com Escorpião é o que em nós tem de morrer para renascer.
No Ser Humano, nas plantas, nos animais, é a permanência da impermanência, e como dizia Lavoizier “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Vera Braz Mendes
Opinião sobre a pornografia
Não há devassidão maior que o pensamento.
Essa diabrura prolifera como erva daninha
num canteiro demarcado para margaridas.
Para aqueles que pensam nada é sagrado.
O topete de chamar as coisas pelos nomes,
a dissolução da análise, a impudicícia da síntese,
a perseguição selvagem e debochada dos fatos nus,
o tatear indecente de temas delicados,
a desova das ideias – é disso que eles gostam.
À luz do dia ou na escuridão da noite
se juntam aos pares, triângulos e círculos.
Pouco importa ali o sexo e a idade dos parceiros.
Seus olhos brilham, as faces queimam.
Um amigo desvirtua o outro.
Filhas depravadas degeneram o pai.
O irmão leva a irmã mais nova para o mau caminho.
Preferem o sabor de outros frutos
da árvore proibida do conhecimento
do que os traseiros rosados das revistas ilustradas,
toda essa pornografia na verdade simplória.
Os livros que os divertem não têm figuras.
A única variedade são certas frases
marcadas com a unha ou com o lápis.
É chocante em que posições,
com que escandalosa simplicidade
um intelecto emprenha o outro!
Tais posições nem o Kamasutra conhece.
Durante esses encontros só o chá ferve.
As pessoas sentam nas cadeiras, movem os lábios.
Cada qual coloca sua própria perna uma sobre a outra.
Dessa maneira um pé toca o chão,
o outro balança livremente no ar.
Só de vez em quando alguém se levanta,
se aproxima da janela
e pela fresta da cortina
espia a rua.
Wislawa Szymborska
in, Poesia
O amor também congela!
Será que o Amor também “tira férias”, “congela” ou “hiberna” quando não é visto, valorizado, apreciado, cuidado, mimado?
Acontece!
Essas histórias de vida, que mais não são do que uma pequenina ponta do gigantesco “icebergue” do que se passa em milhões de relações amorosas por esse mundo fora...
As histórias são todas diferentes, mas têm muitos pontos em comum, como o cansaço e desgaste emocional e psicológico, a angústia, a ansiedade e o desespero de não saber o que mais fazer, mas pior, de não saber o que aconteceu com todo o Amor que sentia.
Mulheres e homens juram a pés juntos terem falado tudo, em todas as línguas que conheciam, terem dado tudo, terem feito tudo, sem qualquer sucesso, terem “frustrado tudo” na ausência de respostas, no silêncio, na passividade, na “incumplicidade”, no desamor.
Restou-lhes, a alguns, o Amor próprio, e a certeza de que aquela não era vida para o seu Amor. Então, um dia, olharam para ele, o Amor, e disseram-lhe: Vem cá! Vou proteger-te! Vou cuidar de ti! Vou defender-te! Vou congelar-te, hibernar-te, fazer com que vás de férias, sem saber quando voltas, mas a saber que, assim, eu sobreviverei, e tu sobreviverás. E tudo isto pode passar-se, e passa-se, a maioria das vezes, a nível inconsciente.
E assim foi! E assim é! Até que o outro, começa a sentir que algo de estranho se passa. Deixam de falar, deixam de dar, deixam de fazer… e passam a viver à espera de um cartão postal de um lugar longínquo que diga: “Sou o teu Amor! Estou bem! Foi o melhor que te, e me, fizeste! Um dia volto! Bronzeado e pronto para Amar de novo!”
E os dias vão passando, as semanas vão voando e os meses correndo. Na ausência do Amor, a vida corre num corropio entre as mais diversas rotinas, e à noite, cada um deita-se do seu lado da cama, e finge que já dorme.
Também acontece, vezes sem fim, se existir uma coisa que se chama capacidade empática e de Amar, que perante a ausência de qualquer afeto, o outro comece a falar, a dar, a fazer, a colocar o Amor que pensa existir dentro do microondas para o descongelar, a tentar despertá-lo de um sono profundo, a procurá-lo por toda a parte.
Nada parece resultar!
Sabe porquê?
Porque o Amor não quer a mesma conversa que conhece de cor, nem afetos, nem passeios, nem jantares, nem flores, nem caixinhas de bombons, nem férias, nem casas novas, nem fazer bebés…
O Amor precisa de algo que nada tem a ver com isso.
Nesta fase, nada disso resulta mais, porque ele, o Amor, não acredita mais em nada disso.
Aliás, isso até o irrita, enfurece e revolta ainda mais, pois pensa que poderia ter tudo isso, vivido tudo isso, e não teve nem o viveu. E a/o dona/o desse Amor ao pensar sobre isso, zanga-se ainda mais, com quem não teve olhos para a/o ver, mas especialmente, com ela/ele própria/o.
Nesta espécie de labirinto emocional, acredito que o caminho começa no reconhecimento e aceitação de que ao “congelar”, “hibernar” ou meter o seu Amor pelo outro, dentro de um avião e mandá-lo para longe, fê-lo no sentido de se proteger, passa por o aceitar, isto é, aceitar que neste momento não tem a capacidade de amar essa pessoa e pela expressão das suas emoções, dor e sofrimento.
Quanto mais se obrigar a sentir e se culpar por não sentir, menos sentirá e mais se zangará consigo. A aceitação de que não consegue amar essa pessoa neste momento, e a expressão de todas as emoções, vai fazer com que sinta menos pressão e tensão emocionais, maior leveza e maior capacidade de análise.
O facto de neste momento não sentir Amor, não lhe garante que não venha a poder senti-lo de novo. Em muitas situações que acompanhei a verbalização de toda a dor e sofrimento, aliada à capacidade empática e de reconhecimento do outro em perceber todo o esforço, empenho, investimento, dedicação e Amor, resultaram no despertar de um sentimento há muito ou pouco tempo adormecido, no “aquecer de um coração congelado” e no regresso de um Amor há muito não vivido.
E agora pergunta-me: “E o Amor pode não voltar, despertar ou “descongelar”?” Sim, acontece! Mas acredito que, ainda assim, vale sempre a pena tentar. O Amor “hiberna” para o proteger de se magoar. De alguma forma existe uma representação na sua mente que lhe diz: “Dar Amor igual a dor!”. Algumas pessoas podem ficar presas a esta ideia uma vida inteira!
Só quando percebem que não precisam mais proteger-se e podem voltar a amar em segurança com reciprocidade, ele, o Amor, volta!
O perdão a si próprio, por ter dado o seu Amor sem ser visto, o perdoar o outro de coração e o visualizar desta experiência como uma grandiosa aprendizagem a dois, é mais do que uma nova perspetiva, é o que permite a transformação, desenvolvimento pessoal e o crescimento em Amor!
Margarida Vieitez
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Editor Whedon
To be able to see every side of every question;
To be on every side, to be everything, to be nothing long;
To pervert truth, to ride it for a purpose,
To use great feelings and passions of the human family
For base designs, for cunning ends,
To wear a mask like the Greek actors—
Your eight-page paper—behind which you huddle,
Bawling through the megaphone of big type:
“This is I, the giant.”
Thereby also living the life of a sneak-thief,
Poisoned with the anonymous words
Of your clandestine soul.
To scratch dirt over scandal for money,
And exhume it to the winds for revenge,
Or to sell papers
Crushing reputations, or bodies, if need be,
To win at any cost, save your own life.
To glory in demoniac power, ditching civilization,
As a paranoiac boy puts a log on the track
And derails the express train.
To be an editor, as I was—
Then to lie here close by the river over the place
Where the sewage flows from the village,
And the empty cans and garbage are dumped,
And abortions are hidden.
Edgar Lee Masters
Alice No País Das Maravilhas
— Amas-me? Perguntou a Alice.
— Não, não te amo! Respondeu o Coelho Branco.
Alice franziu a testa e juntou as mãos como fazia sempre que se sentia ferida.
—Vês? Retorquiu o Coelho Branco.
Agora vais começar a perguntar-te o que te torna tão imperfeita e o que fizeste de mal para que eu não consiga amar-te pelo menos um pouco.
Sabes, é por esta razão que não te posso amar. Nem sempre serás amada Alice, haverá dias em que os outros estarão cansados e aborrecidos com a vida, terão a cabeça nas nuvens e irão magoar-te.
Porque as pessoas são assim, de algum modo acabam sempre por ferir os sentimentos uns dos outros, seja por descuido, incompreensão ou conflitos consigo mesmos.
Se tu não te amares, ao menos um pouco, se não criares uma couraça de amor próprio e de felicidade ao redor do teu Coração, os débeis dissabores causados pelos outros tornar-se-ão letais e destruir-te-ão.
A primeira vez que te vi fiz um pacto comigo mesmo:
"Evitarei amar-te até aprenderes a amar-te a ti mesma!"
C.S.Lewis
in, Alice No País Das Maravilhas
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
AMOR ELECTRO - No teu poema (Simone de Oliveira)
NO TEU POEMA
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.
José Luis Tinoco
As Coisas
Semeiam
lembranças de um fogo antigo,
as coisas,
e agarram-se a nós
com desmedida violência,
ou nós a elas, tanto faz.
As coisas voltam-se para nós
e participam encantadamente
dos nossos gestos,
os que determinam
a nossa vida
por exclusão
dos que, em suspenso,
ficaram na nossa vontade.
Entregues ao que nos consome,
desenham-se e alongam-se
as coisas sobre a terra.
Luís Quintais
Astrologia, a poesia esquecida
Vivemos numa era encantadora – mas desencantada. Encantadora pelo mundo de possibilidades à nossa frente e à nossa volta: graças aos avanços tecnológicos, industriais, científicos, médicos, materiais, computacionais, comunicacionais, etc, dos últimos séculos, temos o mundo material praticamente dominado e vergado à nossa inteligência e vontade. Prolongámos os nossos sentidos e estendemos a esperança média de vida.
Temos em regra melhores condições de vida e saúde, melhores abrigos, mais e melhores alimentos, aprendemos a manipular o fogo, a electricidade, os materiais físicos, os elementos da tabela periódica e até a psicologia humana. Mas não sabemos viver.
Dominamos o planeta e a terra, os ares, os mares, o espaço sideral, os cumes e as calotas polares. Mas não parecemos ter grande respeito, reverência ou sequer noção da sacralidade da vida ao relacionarmo-nos com ela – comportamo-nos como conquistadores, “donos”, ou piratas que saqueiam, violam, abusam, roubam e colonizam… a própria casa. Sem noção, parece, do delicado equilíbrio, interdependência, e unidade essencial de toda a vida.
Temos cremes e cosméticos para cuidar da aparência, do aspeto, da pele – mas não temos o mesmo hábito, genericamente falando, de cuidar também do interior. Lidamos mal com o envelhecimento porque estamos demasiado identificados com o lado exterior, material, da vida: e como não sabemos viver, não vivemos a favor do tempo, também não sabemos envelhecer.
É o drama resultante da ausência de vida interior – porque o exterior, evidentemente, está condenado à corrupção, à degradação, e ao colapso.
É como diz o outro: temos doutoramentos mas não cumprimentamos o vizinho. Partilhamos a casa (o Planeta) e o destino (coletivo da humanidade), mas erguemos fronteiras artificiais, autoproclamamo-nos donos de pedaços do planeta, mantemos os estrangeiros fora dos nossos quintais, separamo-nos por títulos, cor de pele, credo, geografia, estatuto sócio-económico (é só uma questão do critério escolhido para basear uma atitude fundamental).
Competimos, preocupamo-nos basicamente connosco próprios e com os “nossos”. Queremos “ser alguém”, dedicamos vidas inteiras à persecução dessa coisa ilusória chamada “felicidade” (sucesso, reconhecimento, amor, validação, significância, poder, autoproteção). E assim tentamos lidar com a nossa ansiedade existencial básica – e o nosso profundo vazio interior.
Não fazemos ideia do que andamos a fazer com as nossas vidas, além de “conseguir”, “obter”, “conquistar”, “atingir”, “provar”, “chegar”, “parecer”, fazendo, forçando, empurrando, impondo, lutando, aguentando, evitando a dor, buscando o prazer a todo o custo e as compensações da falta de prazer autêntico – às voltas e às voltas, com objetivos exteriores e mais objetivos, que nem quando atingidos parecem trazer preenchimento, paz, sabedoria, liberdade ou realização. E essas, sendo qualidades do Espírito, são, afinal as essenciais – só não se obtêm com coisas exteriores; e é com elas que estamos, lamentavelmente, programados.
Ensinamos às crianças na escola os nomes dos rios e dos reis, mas não competências humanas básicas, que não fazem parte do “programa” – é natural, as escolas, sendo reflexo e sustento da sociedade, são fábricas de “cidadãos” produtivos, obedientes, dóceis, consumidores, e imbecis. Preparam as pessoas para a indústria, mas não para a vida.
É natural que esteja em crise, não só a educação, mas toda a sociedade. Estamos infelizes, solitários, e assustados. É claro! Estamos desconetados. Desenraizados. Desencantados. Desligados.
Perdemos o senso de reverência, atenção, escuta e admiração do mistério da vida, da alma do mundo – e a meio do frenesim e ruído do nosso envolvimento com o mundo material, concreto e exterior, perdemos também a sensibilidade, a disponibilidade, o vagar para nos comovermos e encantarmos com a voz no silêncio.
A poesia não se compreende com a mentalidade de um engenheiro. O subtil não se deixa apanhar pela mentalidade de invasor. Não há fórmulas matemáticas para o essencial do espírito: nem para o amor, nem para o sentido da vida, nem para o heroísmo. Essas são empreitadas do espírito humano, e não objetivos do ego; e é essa a grande doença do nosso tempo. Não a depressão, não a violência, não o alcoolismo, não a psicopatia social, nem a injustiça, a desigualdade, nem as doenças mentais, emocionais e psíquicas; mas o esquecimento. A vida desalmada. Aquelas, são apenas manifestações e sintomas do nosso mal-estar colectivo.
Ora, a Astrologia é uma linguagem poética. Observa o grande cosmos e a perfeição da inter-relação entre todos os seus componentes, vivos e moventes. Faz a sua tradução em termos simbólicos que ajudam o Homem a reconhecer o Universo dentro e fora de si, e a encontrar nele o seu lugar. Mas uma linguagem que só faz sentido dentro de uma visão encantada, mística, mágica, da vida, em que “o que está em cima (céu) é como o que está em baixo (terra), e o que está fora (circunstância) é como o que está dentro (psique, alma)”.
De onde vem “cosmético”? Vem de kosmos que significa, simultaneamente, “beleza” e “ordem” – então a Astrologia é o estudo da beleza e da ordem no Universo, um Universo do qual não somos separados, do qual estamos inconscientemente separados há tempo demais, cheio de simbolismo e poesia, subtil invisível e essencial como tudo o que é espírito, metade da vida é para engenheiros e outra metade para poetas.
Mas acima de tudo, é chegado o tempo de reencantar as nossas mentes e vidas e de nos descobrirmos poemas.
“O essencial é invisível aos olhos”: só se vê bem com o coração.
E tudo o que o coração vê é poesia.
NUNO MICHAELS
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
The vector equilibrium
The vector equilibrium is the true zero reference of the energetic mathematics… the zerophase of conceptual integrity inherent in the positive and negative asymmetries that propagate the differentials of consciousness.Buckminster Fuller
Janela
Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa.
Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal.
Quero comer devagar e gravemente
como aquele que sabe o contorno carnudo
e o peso grave das coisas.
Não quero possuir a terra mas ser um com ela.
Não quero possuir nem dominar
porque quero ser: esta é a necessidade.
Com veemência e fúria
defendo a fidelidade ao estar terrestre.
O mundo do ter perturba e paralisa
e desvia em seus circuitos
o estar, o viver, o ser.
Dai-me a claridade daquilo que é exactamente o necessário.
Dai-me a limpeza de que não haja lucro.
Que a vida seja limpa de todo o luxo e de todo o lixo.
Chegou o tempo da nova aliança com a vida.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
The Golden Ratio
The golden ratio is a reminder of the relatedness of the created world to the perfection of its source and of its potential future evolution.
Robert Lawlor
in, Sacred Geometry: Philosophy & Practice
The Golden Ratio (Phi, or φ = 1.618. . .) is a unifying quantity of structure and function in nature as it underlies morphogenesis in living organisms as well as in many other naturally occurring phenomena. The ratio can be observed by taking a line and dividing it into two unequal parts, with the length of the longer part divided by the shorter length being equal to the entire length divided by the longer part. This will always yield the Golden Ratio, and structures that obey this partitioning are ordered based on the Phi proportion.
The unification of quantity of structure with function in the Phi ratio is most evident by its reoccurrence in human anatomy and physiology. Now in a new comprehensive study performed at John Hopkins, researchers have found that the human skull dimensions follow the Golden Ratio, and what is most remarkable is that in other related mammalian species the skull morphologies diverge from Phi.
The Universe is not random.
Numerous studies have now shown that underlying the morphogenesis, architectural organization and functional synergy of structures and systems across scale in the universe, there are natural dynamics that give rise to precise mathematical and geometric ordering parameters.
From the double logarithmic and helical spirals found in galaxies, seashells and DNA to the φ proportions of the human anatomy, remarkable functionality and organizational synergy emerge from simple physical and mathematical relationships at the heart of nature.
When we identify these mathematical constants at the genesis of form and function in nature, we call them Sacred Geometry—like the Phi spiral, the Flower of Life, and the Platonic and Archimedean Solids.
The Symmetry and precise proportionality of these ratios and geometries are stunning, but they are not just aesthetic wonders of nature. They encode deep functionality that can give us insight into the greater nature of the inner operations of our universe.
William Brown
O ( Pi ) π e o ( Phi ) Φ
O Pi - π. É o irracional mais famoso da história, com o qual se representa a razão constante entre o perímetro de qualquer circunferência e o seu diâmetro.
Equivale a: 3,141592653589793238462643383279502884197169399375... e é conhecido vulgarmente como: 3,1416.
Não confundir com o número Phi Φ que corresponde a 1,618.
O número Phi Φ (letra grega que se pronuncia "fi") apesar de não ser tão conhecido, tem um significado muito mais interessante. Durante anos o homem procurou a beleza perfeita, a proporção ideal. Os gregos criaram então o retângulo de ouro. Era um retângulo, do qual extraiu-se uma proporção: o lado maior dividido pelo lado menor. E a partir dessa proporção tudo era construído. Assim eles fizeram o Parthenon: a proporção nos rectângulos que formam a face central e a lateral; a profundidade dividida pelo comprimento ou altura; tudo seguia uma proporção ideal de 1,618.
Os Egípcios fizeram o mesmo com as pirâmides: cada pedra era 1,618 menor do que a pedra de baixo, ou seja, a de baixo era 1,618 maior que a de cima, que era 1,618 maior que a da 3ª fileira e assim por diante.
Durante milénios, a arquitectura clássica grega prevaleceu.
O rectângulo de ouro era padrão. Mas, depois de muito tempo veio a construção gótica com formas arredondadas, que não utilizavam o rectângulo de ouro grego.
No ano 1200, contudo, Leonardo Fibonacci um matemático que estudava o crescimento das populações de coelhos, criou aquela que é provavelmente a mais famosa sequência matemática, a Série Fibonacci. A partir de 2 coelhos, Fibonacci foi contando como eles aumentavam.
A partir da reprodução de várias gerações chegou a uma sequência onde um número é igual a soma dos dois números anteriores: 1 2 3 5 8 13 21 34 55 89 ..
1+1=2
2+1=3
3+2=5
5+3=8
8+5=13
13+8=21
21+13...
e assim por diante.
Aí entra a 1ª "coincidência": a proporção de crescimento média da série é...1,618 (o número Phi Φ ).
Os números variam, um pouco acima às vezes, em outras um pouco abaixo, mas a média é 1,618, exatamente a proporção das pirâmides do Egito e do retângulo de ouro dos gregos.
Então, essa descoberta de Fibonacci abriu uma nova ideia de tal proporção, a ponto de os cientistas começaram a estudar a natureza em termos matemáticos e começaram a descobrir coisas fantásticas.
- A proporção de abelhas fêmeas em comparação com abelhas machos numa colmeia é de 1,618;
- A proporção que aumenta o tamanho das espirais de um caracol é de 1,618;
- A proporção em que aumenta o diâmetro das espirais sementes de um girassol é de 1,618;
- A proporção em que se diminuem as folhas de uma árvore à medida que subimos de altura é de 1,618;
E não só na Terra se encontra tal proporção. Nas galáxias, as estrelas se distribuem em torno de um astro principal numa espiral obedecendo à proporção de 1,618.
Por isso, o número Phi Φ ficou conhecido como .... A PROPORÇÃO ÁUREA...
GOLDEN RATIO!
Por volta de 1500, com o retorno do Renascimento, a cultura clássica voltou à moda.
Michelangelo e, principalmente, Leonardo da Vinci, grandes amantes da cultura pagã, colocaram esta proporção natural nas suas obras.
Mas Da Vinci foi ainda mais longe: ele, como cientista, usava cadáveres para medir as proporções do corpo humano e descobriu que nada obedece tanto à PROPORÇÃO ÁUREA como o corpo humano...
- A nossa altura divida pela altura do nosso umbigo até ao chão: o resultado é 1,618;
- O nosso braço inteiro e divido pelo tamanho do nosso cotovelo até ao dedo: o resultado é 1,618;
- O nosso dedo inteiro dividido pela distância da dobra central até à ponta, ou da dobra central até à ponta dividido pela segunda dobra: o resultado é 1,618;
- A nossa perna inteira divida pelo tamanho do nosso joelho até ao chão. O resultado é 1,618;
- A altura do nosso crânio dividido pelo distância da nossa mandíbula até ao alto da cabeça dá 1,618; Da nossa cintura até à cabeça e depois só o tórax: o resultado é 1,618;
Coelhos, abelhas, caramujos, constelações, girassóis, árvores, arte e o homem, coisas teoricamente diferentes, são todas ligadas numa proporção em comum.
Até hoje essa é considerada a mais perfeita das proporções.
Encontramos ainda o número Phi Φ em famosas sinfonias como a 9ª de Beethoven, e em muitas outras obras.
TO IMAGINATION
Ewa Cwikla
When weary with the long day's care,
And earthly change from pain to pain ,
And lost, and ready to despair,
Thy kind voice calls me back again:
Oh, my true friend! I am not lone,
While then canst speak with such a tone!
So hopeless is the world without;
The world within I doubly prize;
Thy world, where guile, and bate, and doubt,
And cold suspicion never rise;
Where thou, and 1, and Liberty,
Have undisputed sovereignty.
What matters it, that all around,
Danger, and guilt, and darkness lie,
lf but within our bosom's bound
We hold a bright, untroubled sky,
Warm with ten thousand mingled rays
Of suns that know no winter days?
Reason, indeed, may oft complain
For Nature's sad reality,
And tell the suffering heart, how vain
lts cherished dreams must always be;
And Truth may rudely trample down
The flowers of Fancy, newly-blown:
But, thou art ever there, to bring
The hovering vision back, and breathe
New glories o'er the blighted spring,
And call a lovelier Life from Death.
And whisper, with a voice divine,
Of real worlds, as bright as thine.
I trust no to thy phantom bliss,
Yet, still, in evening's quiet hour
With never-failing thankfullness,
I welcome thee, Benignant Power;
Sure solacer of human cares,
And sweeter hope, when hope despairs!
À IMAGINAÇÃO
Quando da labuta diária estou cansada,
E do terreno devir de dor em dor,
E perdida me sinto, quase desesperada,
Tua voz terna chama-me ao labor:
Ah, fiel amiga! Não estou só,
Enquanto puderes falar-me nessa voz!
Nada espero do mundo exterior;
O mundo interior, prezo-o a dobrar;
O teu mundo, onde dúvida, ódio, desamor
E fria suspeição jamais hão-de medrar;
Onde tu, e eu, e a Liberdade,
Temos incontestada e suprema autoridade.
Que importa, se à nossa volta
Paira o perigo, a culpa, o breu,
Se há em nossa alma à solta
Um radioso e sereno céu,
Aquecido por dez mil raios luminosos
De sóis que não conhecem dias invernosos?
Na verdade, pode queixar-se a Razão
Da triste realidade da própria Natureza,
E dizer ao amargurado coração
Que são vãos os sonhos que ela tanto preza;
E pode a Verdade espezinhar rudemente,
Da Fantasia, as flores imanescentes:
Mas, atenta, tu refreias sempre
Meus voos delirantes e, enquanto
Derramas novas glórias sobre a nefanda nascente,
Extrais da Morte uma Vida de maior encanto.
E com voz divina me falas, ciciante,
De mundos reais, como o teu tão fascinantes.
Não me rendo à tua fátua bênção;
Porém, no silêncio do entardecer,
Com indefecível gratidão,
Eu te acolho, Benigno Poder;
Consolo, se a vida nos exaspera,
Esperança mais doce, quando a esperança desespera!
EMILY BRONTË (ELLIS BELL)
in, POEMAS ESCOLHIDOS DAS IRMÃS BRONTË
tradução de ANA MARIA CHAVES
A LIBERDADE
Tenho-vos visto prostrados junto às portas da cidade e junto de vossas lareiras para adorar vossa própria liberdade, como escravos que se humilham diante de um tirano louvando-o, embora ele os destrua.
Sim, no arvoredo do templo e à sombra da cidadela, tenho visto os mais livres entre vós carregar sua liberdade como um jugo e uma algema. E meu coração sangrou dentro de mim; pois só podereis libertar-vos quando até mesmo o desejo de procurar a liberdade se tornar um jugo para vós, e quando cessardes de falar em liberdade como uma meta e um fim.
Sereis, na verdade, livres, não quando vossos dias estiverem sem preocupação e vossas noites sem necessidades e aflição. Mas, antes, quando essas coisas apertarem vossa vida e, entretanto, conseguirdes elevar-vos acima delas, desnudos e sem amarras.
E como vos elevareis acima de vossos dias e de vossas noites se não quebrardes as cadeias com que, na madrugada de vosso entendimento, prendeste vossa hora meridiana?
Em verdade, aquilo que chamais liberdade é a mais forte destas cadeias, embora seus elos cintilem ao sol e vos deslumbrem.
E do que é que quereis livrar-vos para serdes livres, senão de pedaços de vós mesmos?
Se é uma lei injusta que quereis abolir, lembrai-vos de que esta lei foi escrita por vossa própria mão em vossa própria testa. Não podeis apagá-la queimando vossos códigos de Leis, nem lavando as faces de vossos juízes, embora despejeis o mar sobre elas.
E se quiserdes destronar um déspota, cuidai primeiro que seja destruído seu trono erguido dentro de vós.
Pois, como poderia um tirano dominar os livres e altivos, se não pela tirania que está em sua própria liberdade e a vergonha em sua própria altivez?
E se é uma preocupação que quereis vos livrar, essa preocupação foi escolhida por vós mais do que a vós imposta.
E se é um temor que precisais dissipar, o assento desse temor está em vosso coração, e não nas mãos do temido.
Na verdade, todas as coisas movem-se dentro de vós num constante meio-aperto, as coisas desejadas e as temidas, aquelas que vos repugnam e aquelas que vos atraem, aquelas de que fugis e aquelas que procurais.
Tais coisas movem-se dentro de vós como pares inseparáveis de luzes e sombras. E quando a sombra desvanece e se dissipa, a luz que se demora torna-se uma sombra para outra luz.
E assim vossa liberdade, solta de suas amarras, torna-se uma amarra para a liberdade maior.
Khalil Gibran
in, "O Livro da Vida"
domingo, 13 de outubro de 2019
AI, MARGARIDA
Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
— Tirava os brincos do prego,
Casava c'um homem cego
E ia morar para a Estrela.
Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
— (Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida
No sentido de morrer?
— Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia?
— Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.
ÁLVARO DE CAMPOS
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