(Importante saber distinguir) “…estado – sentimentos transitórios, pensamentos e acções; de traços – características douradoras da personalidade.”
Helena Marujo
in, Educar para o Optimismo
Poderá parecer ser um assunto muito técnico, só para especialistas, árido, mas encerra um conteúdo interessante.
Para se tornar mais manejável, comecemos por considerar que as pessoas psicologicamente saudáveis, podem manifestar uma vez por outra, em determinadas situações, atitudes que não são habituais.
Esses momentos são estados, que envolvem sentimentos transitórios, pensamentos e acções, e que podem até contribuir para que se apresentem aos olhos dos outros, surpreendentemente interessantes, despertar uma paixão, como se dessem corpo a desejos de viver que parecem acertados e de possibilidades ilimitadas.
Com o conhecimento do outro, poderá acontecer que vamos nos apercebendo que estes estados não são um detalhe, vêm com um “pacote” - constituem padrões característicos de percepcionar o mundo, de estabelecer relações com as pessoas e situações. São traços de personalidade.
Acabamos compreendendo também, que se ligam a outros traços (ex: a pessoa não é só vaidosa, é também autocentrada…),e que todos eles a definem, porque são a sua personalidade que contribui para se tornar uma pessoa apetecível, ou não.
Podemos também descobrir, que não se trata só de uma pessoa difícil, mas que possui um distúrbio de personalidade (“Os traços de personalidade existem num contínuo” John Oldham, sendo o distúrbio o ponto extremo do contínuo).
Este exercício é essencial - o conseguir identificar no outro, se a sua atitude é passageira (estado), ou uma característica douradora da sua personalidade (traço), e até que ponto afecta positivamente ou negativamente a vida e a relação com as outras pessoas.
Como exemplo, nos casos de violência doméstica, poderá ajudar a clarificar a verdade da mensagem:
“O agressor dá a entender que ter sido violento, não é problema dele (não é traço de personalidade), é porque bebe (é um estado transitório, fruto do momento, da situação ou...provocado pelo outro).”
Como diria Gurdjieff, pelas palavras de Ouspensky, em "Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido" (uma das passagens mais marcantes do livro):
"(...) o Ser Humano, fora de seu repertório, isto é, logo que algo o faz sair de sua rotina, ainda que por um momento, sente-se terrivelmente pouco a vontade e faz então todos os esforços para voltar novamente, o mais depressa possível, a um ou outro de seus papéis habituais.
Recai em seus trilhos e todas as coisas andam de novo sem tropeços para ele: desapareceu todo o sentimento de constrangimento e tensão"
Desde a primeira vez que me deparei com isto, comecei a observar-me a mim mesma, e aos outros pelos traços de personalidade e atitudes passageiras...
Quase nada no ser humano se mantém...
Manter o esforço de trabalhar sobre si mesmo é algo sobre ou super-humano...
Cristina Simões
Incalculável Imperfeição
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