sexta-feira, 20 de março de 2015
De dia, distraído, sonho
"De dia, distraído, sonho.
Sob teu peito deixo cair as minhas mãos.
Por entre madeixas de cabelo moreno encontro os fins rosados dos teus seios frios.
Beijo-os em círculos de saliva e dentes.
Em mais ninguém encontro a projecção de um amor tão sem princípio e tão sem fim.
O meu ímpeto carnal só se versa em náusea romântica, impecável, na ideia de te possuir.
De dia, distraído, sonho.
Lavro o teu peito na ponta das minhas unhas.
Sinto-te tremer na ponta da minha língua.
Entrincheiro-me no teu calor húmido.
Provo o sabor ganho dos meus próprios dedos.
Se a minha expressão parece imperturbável e austera, nas minhas ideias percorro o teu corpo sem me cansar, redobra-se o fôlego e sinto golfadas de sangue onde quero que demores a tua boca. Ferrar os caninos gentilmente na tua coxa, rasgar-te as costas num golpe.
De dia, distraído, sonho.
Sonho conseguir envolver-te toda em mim, só na largura das minhas mãos e no alcance dos meus braços, preencher-te sem margens, sentir, nos meus extremos, as fronteiras que nos separam.
E quebrá-las.
Entrar por ti adentro e afundar-me.
Quebrar-te.
E repeti-lo assim que acordemos.
De dia, distraído, sonho."
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