sábado, 3 de maio de 2014

Entusiasmo



Há alturas na vida em que somos levados por um entusiasmo. 
É como se alguma coisa pegasse fogo dentro de nós e ficássemos apaixonados por um certo aspecto da vida.
Pode ser um projecto que nos cativa, uma pessoa que nos atrai ou uma ideia que nos fascina.
É uma sensação maravilhosa.

Passado algum tempo, o que normalmente acontece é que o entusiasmo começa a diminuir, e as dificuldades multiplicam-se.
O projecto que nos cativava afinal tem mil obstáculos, a pessoa que nos atraía tem defeitos que nos incomodam e a ideia que nos fascinava já não parece assim tão interessante.
Quando o entusiasmo começa a pesar nas costas, o que costumamos fazer é largá-lo e partir à procura de um próximo. Pode ser que o próximo nos realize mais do que este. Pode ser que nos deixe mais tempo entusiasmados. Vamos assim de experiência em experiência sempre à procura de mais entusiasmo. Viajamos para imensos países, lemos muitos livros, sobrecarregamos agendas com programas e temos mais paixões do que podemos recordar.
Mas nada disso nos satisfaz.

Estamos convencidos que quanto mais entusiasmados nos sentirmos, mais estamos a viver.
Mas nem sempre é assim.
Chegamos a achar que uma coisa que não nos entusiasma não tem valor ou não vale a pena.
Mas quem diz que aquele trabalho que parece uma seca não vai ser uma boa surpresa?
Quem diz que aquela pessoa que não valorizamos pode-se tornar num dos nossos melhores amigos? Quem diz que aquele projecto que achamos ridiculo não pode ser a nossa grande vocação?

Queremos sempre entusiasmos fáceis, sem complicações e cheios de gratificação.
Fazemos birra quando alguma coisa nos custa ou traz alguma adversidade, e acabamos por nos portar como crianças que querem sempre um brinquedo novo.

A verdade é que é uma ingenuidade querer estar sempre entusiasmado. 
O entusiasmo é uma parte maravilhosa da vida, mas não é a vida. O entusiasmo é um extra.
Não vivemos para estar sempre entusiasmados.
O entusiasmo é um bónus que nunca sabemos quando vai chegar.

A maior parte das vezes, enquanto procuramos um novo entusiasmo, temos um trabalho inacabado em cima da secretária que já devia estar terminado. Há alturas em que temos é que trabalhar e amar, mesmo que não apeteça nada.

A autenticidade de um entusiasmo não se descobre nos momentos extraordinários, mas na vida do dia a dia. Só quando descobrirmos quanto estamos dispostos a sacrificar por um entusiasmo é que sabemos a verdadeira força que ele tem. 

O entusiasmo é a resistência que diz:
“Eu irei, não importa o que acontecer. Se for necessário esperar durante dez anos, mesmo assim eu conseguirei isto”.
Se queremos seguir até ao final depois dos nossos sonhos, não podemos acomodarmo-nos e esperarmos que tudo seja fácil. Os verdadeiros sonhadores possuem um desejo profundo que produz o entusiasmo para prosseguir em busca dos seus sonhos.

Não é conversa, mas acção.
É o que distingue o interesse do compromisso.
Quando temos entusiasmo, não precisamos das condições certas para avançar, pois o entusiasmo é gerado no nosso intimo e não é afectado pelas condições externas.
Os verdadeiros entusiastas não precisam de estímulo externo para agir.
Eles são motivados por si mesmos.

Podemos ficar numa atitude infantilóide de quem quer uma vida cheia de entusiasmos, ou então podemos crescer, arregaçar as mangas, e fazer alguma coisa com o que temos pela frente.

Se por acaso optarmos por levar cada entusiasmo até ao fim, com toda a tenacidade e criatividade, bem para lá do ponto em que o chamamos entusiasmo, então aí estaremos em condições de largar o que já não nos faz sentido, ou quem sabe… deixar-nos surpreender por um novo entusiasmo que surge de onde menos esperávamos.


Inesperado

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