domingo, 25 de maio de 2014

Pulsar


Veste a tua pele de cordeiro
e seduz-me com a tua candura,
com o teu olhar de abandono
que sossega no meu colo,
a tua pose dissimulada de uma fraqueza ingénua
comprada numa casa de penhores.

Quero sentir a tua pele,
envolver-te nos meus braços,
beijar o teu pescoço,
deliciosamente morder-te a rigidez
dos teus seios.

E enquanto te invado o ventre
com os meus dedos esguios
carregados de saliva
vou fixar-me no teu pulsar,
no bater acelerado do coração que
bombeia esse sangue que me aquece.

Quero que te percas na minha nudez,
tomes posse do meu corpo e abuses
do meu desejo.

Faz de mim a tua sela e cavalga
sem me dares tréguas,
afunda-te como um navio sem rumo
na bravura do meu mastro real,
emparelhando gemidos entre
o sémen que desliza pelo
sal das tuas pernas.

Dá-me na boca o teu fruto maldito,
o poder de um descruzar de pernas
hipnotizando os meus lábios,
o respirar ofegante que exaltas
sob um grito de prazer que
emolduro no meu quarto,
a verdade do teu sorriso
cravado na palidez do teu rosto,
espelhado na minha retina.

Dá-me esse momento de volta
e renunciarei a mim próprio,
serei apenas adereço na tua peça
em dois actos,
que começará em romance
e terminará em tragédia.


Pedro Lima

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