sábado, 24 de maio de 2014
Normose: a Patologia da normalidade...
"A Normose é um novo conceito que define a patologia da "normalidade" como único padrão de referência para a existência dita normal e comum do ser humano e que se caracteriza pela dissociação do ser da sua realidade interior e espiritualidade, dado como "escravo" do consumo e das ideias na moda.
O Normótico é o banal ser comum que vive só para as aparências e o dinheiro, grosso modo, e está completamente alienado de Si mesmo vivendo sem qualquer consciência do seu ser profundo e da sua realidade interior!"
PIERRE WEIL
Psicólogo
"E começo por dizer, que quando um grupo de pessoas, ainda que representado por uma maioria, se reúne para chegar a um acordo, tomar decisões, adoptando condutas, nem sempre o resultado obtido pode ser considerado de consenso ou legítimo.
E isso, por que todo o acordo que envolve pessoas ou grupos, com certeza, envolverá interesses pessoais implícitos e explícitos, julgamentos de valor, tendências conscientes e inconscientes, tais como: manipulações, poder, vaidades, submissão, ideais, autoritarismo, etc.
Segundo Pierre Weil, um grandioso Mestre que encontrei na vida e a quem muito devo, por isso a minha perpétua gratidão, “há entre os humanos, a falsa crença, bastante disseminada em todas as classes sociais, mesmo, nas mais elitizadas, académicas, de que tudo o que a maioria pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado normal, verdadeiro, incontestável, correcto, legítimo, servindo muitas vezes de referência e orientação para o comportamento dos demais”.
Porém, e neste sentido, é sabido que muitas normas e condutas adoptadas no passado remoto, e na actualidade, próprias das narrativas modernas, construídas sob a égide do consenso de grupos, levaram ao sofrimento moral e físico indivíduos, grupos e colectividades inteiras.
Mas, tudo isso, para dizer que as “neuroses” também se casam e, em abono da verdade, somos todos, num certo sentido, neuróticos ou, se assim preferirmos, "normóticos".
Não obstante, e por aqui falar de “casamento” posso apontar, que o período de namoro é o tempo necessário para descobrir se as neuroses individuais combinam.
Portanto, sendo assim, escolher-se-á para casar quem nos completa - no bom e no mau sentido.
Vejamos as correlações que aqui quero estabelecer.
Se a pessoa tem uma tendência a vitimizar-se, e existem tantas pessoas assim, por aqui e por ali, provavelmente escolherá um parceiro dominador;
Se a tendência for para ser um grande cuidador, ou controlador, certamente escolherá um parceiro carente.
Portanto, duas pessoas dominadoras têm pouca oportunidade de ficarem juntas por um tempo muito longo; todavia, duas pessoas que gostem da disputa - sendo uma mais dominadora e a outra mais passiva - estas, sim, têm ocasião para um casamento longo, extenso e repleto de reclamações justas: uma queixando-se da dominação do outro, e o outro queixando-se da falta de iniciativa do primeiro.
Todavia, e será aqui necessário explicar, que queixar-se do outro sugere a presença de dois sentimentos, a antipatia e o antagonismo.
A antipatia acontece quando não gostamos de alguém, quando não queremos ficar perto daquela pessoa.
O antagonismo acontece quando discordamos de alguém, mas adoramos estar perto desse alguém, disputando, brigando - estejamos ou não conscientes disto.
Por isso, uma boa parte do amor humano é feito de antagonismos, haja vista aos jogos de sedução sexual tão usados na luta amorosa para conquistar alguém.
E, nesses jogos, esse alguém a princípio não está disponível, pelo que parece aumentar o prazer de quem conquista.
Mas, realizada esta introdução ao tema, vamos falar de “normose”.
Podemos definir a normose por “anomalias da normalidade”, ou seja, a civilização do ter.
Aqui não estou referindo o acumulo pecuniário ou monetário.
Mas, simplesmente, ter de ser aquilo que os outros querem que sejamos.
Pois bem, estas são as anomalias da normalidade.
Por exemplo, ter de ser aquilo que os meios de comunicação social querem que sejamos, particularmente quando somos “figuras públicas”;
Ter de ser aquilo que o mercado quer que sejamos;
Ser aquilo que uma mentalidade consumista quer que sejamos;
Ou ainda aquilo que a novela, romance ou o novelista quer que digamos, pensemos, falemos e possamos saborear.
Realmente, tudo isto é Normose!
Perante tudo o que aqui é exposto, será urgente e importante questionarmo-nos se, no mundo da nossa convivência diária sofremos ou não dessa doença, se, efectivamente, somos normóticos ou anti-normóticos...
Penso ser necessário admitir, que o que construímos ao longo de anos e anos de trabalho, a televisão – que é a genetriz da normose - destrói em poucos minutos.
Tal como é importante indagar, como é que fica o aspecto religioso da nossa vivência?
Será que existe também o fenómeno característico da “pós-modernidade” que atinge o fenómeno religioso, e aqui já entra o espaço que é mais específico, o nosso?
E para quem ainda não tenha pensado, ouso dizer que, a normose religiosa, implica também trocar de experiência religiosa.
De facto, existem religiões para atender tantas necessidades subjectivas que apareceram.
É necessário lembrar, que a religião que se professa nem sempre é aquela na qual nascemos; na qual a pessoa nasceu. Mas é, sem sombra de dúvida, aquela que, às vezes por um processo mediático, direi até catártico, obrigamo-nos a escolher, ou então, que muita gente escolhe para não ficar de fora!
E, para terminar o que não tem fim, afirmo que É, SIM, empreitada árdua definir o que vale e o que não vale.
Verdadeiramente, auguro sempre possamos ir a fundo na opção que fizemos ou entramos na mentalidade consumista de escolher apenas aquilo que traz satisfação imediata.
E ante o que hoje cresce como uma teologia chamada de “Teologia da Prosperidade” possamos todos raciocinar o que trabalha muito bem nessa questão da satisfação imediata.
Em suma, é necessário lembrar que o espaço em que trabalhamos, sendo único, original, incomum, excepcional, é um recinto do “reino” ou é apenas uma fragmentação de uma vida que, incansavelmente, reproduz apenas padrões. Entretanto, é precioso saber se vivemos ou não uma carência espiritual.
E aqui, entramos no ponto fundamental deste texto:
Explodimos na espiritualidade, ou na normose?
E rematando: talvez seja mais produtivo pensarmos em termos de complementaridade!
Porque completos, já cada um de nós deveria ser..."
Carlos Amaral
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