terça-feira, 20 de agosto de 2024

O Homem de La Mancha


Pablo Picasso



 Sonhar, mas um sonho impossível.
Lutar onde é fácil ceder,
Vencer o inimigo invencível,
Negar, quando a regra é vender.

Sofrer a tortura implacável,
Romper a incabível prisão,
Voar num limite improvável,
Tocar o inacessível chão.

É minha lei, é minha questão,
Virar esse mundo,
Cravar esse chão.
Não me importa saber
Se é terrível demais.
Quantas guerras terei de perder
Por um pouco de paz?

E, amanhã, se esse chão que eu beijei
For o meu leito e perdão,
Bom saber que valeu delirar
E morrer de paixão.

E, assim, seja lá como for,
Vai ter fim a infinita aflição,
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão.


(Trecho de O Homem de La Mancha, 
peça teatral inspirada no livro 
Don Quijote de La Mancha, de
Miguel de Cervantes, 
produzida por Paulo Pontes e Flávio Rangel, 
encenada em 1972-74) 




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