A imaginação que, segundo os estóicos,
se reduz a uma impressão divina, põe um problema
concreto a quem não acredita na alma. De facto,
se é só o corpo que existe, e não encontramos
nada de imaterial para além dele, a imaginação
deve ser posta de lado, tal como a alma de
que faz parte. Os estóicos, para quem ela
deixava no espírito a sua marca, procuravam
com o seu sacrifício aceder a esse mundo
metafísico onde a sensação não tinha outra
utilidade para além do pensamento que produzia,
e depois dele a imagem e o conceito expresso
a partir dela. E queriam morrer para atingir
mais depressa a esfera do divino. Porém,
os epicuristas riam-se deles e diziam que tudo
o que diziam não passava de palavras. E eles
ficavam a pensar: se as palavras são duras
como as pedras, e sólidas como a terra áspera
do verão, porque não ficamos em silêncio? E
alguém disse, ao vê-los de boca fechada,
que queriam prender a imaginação no interior
do seu corpo, onde se encontrava a alma; mas
quando a abriam para comer, concluiu o crítico,
mastigavam as palavras com a comida, e tudo
se juntava nesse corpo que, para eles, não
existia, para terminar no estrume
que devolviam à terra, como se a imaginação
não servisse para mais nada além
de adubo da primavera
Nuno Júdice
in, Fórmulas de uma Luz Inexplicável
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