Eu não tenho culpa se tens frio, querido
Não esperava a tua morte
Joyce Mansour
A uns passos do canto onde a camase afoga lentamente,reuni o que restava da minha fé perdidasobre espaços silenciosos, como se quisessemedir a duração de Deus contra a sombra da tua retirada.Tudo só ditava já um soluçoe eu fiz-te um gesto usando a imaginaçãoda morte, chamavapara servir-te chá num parêntesis,afastando com a mão essa nuvemde um olor que te prendeu uma flor no cabelo.As chávenas arrefeciam e na porcelanavimos os pássaros azuis apagar-se.Pedi que o calor perdurasse,e olhava em redor, vendo tudo cobrir-sede ervas altas. Sobre a minha boca enterradasenti passar a primavera, e alguresnós dois ainda soprandosorrindo aguardando esse travo fortetão doce uns séculos mais tarde.Diogo Vaz Pintoin, De Aurora para os Cegos da Noite
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