domingo, 10 de maio de 2020

Mãe





Eu sou aquela que os vê.
E caminho pelos seus caminhos e sou a
fogueira distante.
O tempo não me apaga.
Tenho os pontos cardeais e sou a bússola nas
suas mãos, 
quando eles vão sobre as águas.
Sou os mapas, a constelação, o cruzeiro do sul,
o arado, o cão, 
aquela que os guarda.
Sou o regaço, as belas plumas do meu regaço,
a imensa luz de amor que cai sobre a sua
penumbra, 
sobre a sua loucura. 
Sou a mãe da sua vida, da sua morte. 
E vou com eles, espalhando as rosas tristes, 
e os meus cabelos espalham sobre os seus 
cabelos as raízes brancas. 
Sou aquela que escreve quando eles dormem, 
sou as palavras através do sono. 
E adormeço com eles, 
fechando as últimas portas. 


José Agostinho Baptista





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