terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Akllawasi...Como se aprende a ser mulher?


As Escolhidas
Akllawasi




Kantu já tinha começado a superar os condicionamentos da educação que até então recebera, e que lhe tinham sido impostos pela religião e pela sociedade. 
Talvez isso a tenha induzido a perguntar a Mama Maru:
Como se aprende a ser uma Verdadeira Mulher?
Estudando atentamente a natureza - respondeu a curandeira.
Mas antes de mais, é importante que aprendas a conhecer-te e a aceitar-te a ti mesma como és.
Apenas tens de ser tu mesma e mais ninguém.

Muitas vezes construímos a nossa vida recolhendo os fragmentos da existência dos outros e procuramos imitar modelos que nos são impostos do exterior.
É muito provável que a tua mãe tenha tido influência sobre ti ou que, na realidade, tenhas sido porventura influenciada pela tua avó, pela tua tia, por uma amiga ou por outras pessoas tuas conhecidas.
São esses os fragmentos com que vais tecendo uma espécie de máscara que te esconde dos outros e que te torna infeliz. A Verdadeira Mulher descobre quem é e segue o seu caminho, plenamente consciente de si mesma.

- Avó, pensando bem, apercebo-me agora de que não sei quem sou. Aliás, quase posso dizer que toda a minha vida foi condicionada pelo exemplo de outras mulheres. Procurei sempre ser como elas e nunca tentei ser simplesmente eu mesma.
- Sim, são muitas as mulheres que procuram parecer o que não são e bastante poucas as que, pelo contrário, encontram tempo para perscrutarem dentro de si mesmas e descobrirem quem são e o que realmente querem da vida.
No teu caso, Kantu, a natureza deu-te um corpo e uma alma nos quais habita o espírito.
Só tu, como mulher, e mais ninguém, podes mudar a tua vida.

Quando souberes quem és na realidade, estarás no bom caminho para te tornares uma Verdadeira Mulher.
Mulher, no verdadeiro sentido da palavra, é aquela que um dia será companheira de um homem, mãe dos filhos que a natureza lhe quiser dar e mestra de ambos. Será uma administradora hábil da sua casa, uma senhora respeitada por todos, uma companheira excelente, uma deusa e uma artista do amor. A sua prudência, a sua sabedoria e a sua graça serão o seu principal encanto.
Uma mulher que descobre a sua verdadeira natureza, que desperta os poderes que traz adormecidos dentro de si e que tornam vão o recurso à força, pode fazer tudo isto.
Se não o fizeres, continuarás a vegetar, como acontece com a maior parte das mulheres.

- Avó, fala-me deste nosso poder - suplicou-lhe Kantu.
A arma mais poderosa de uma mulher é a sua energia interior que a protege a ela e às pessoas que ama - prosseguiu Mama Maru. É por esta razão que terás de aprender a mergulhar no teu mundo interior; só quando descobrires a tua verdadeira essência, poderás usar toda a tua energia interior. És forte e dotada de muita energia, e é precisamente por isso que pertences ao grupo de mulheres capazes de fazer girar o mundo. Contudo, também tens um limite: ainda não te conheces e, como tal, não te aceitas a ti mesma. Para além de seres muito bela, também és muito forte e determinada, disposta a arriscar tudo para alcançares as tuas metas.

A sociedade contemporânea não quer saber como é realmente a mulher, e procura deformar a sua índole desde o dia do seu nascimento. Nos dias que correm, o que é que a mulher aprende com a sociedade? Aprende a enganar-se, a esconder os seus verdadeiros sentimentos, a ocultar as suas opiniões, a mascarar os seus pensamentos.

Mas actualmente as mulheres recebem educação, e muitas delas chegam mesmo a ser boas profissionais, capazes de exprimir livremente as suas ideias - observou Kantu.
- O que estás a dizer não é verdade: a maior parte destas mulheres são formadas numa escola inspirada num modelo masculino que acabou por deformar a sua verdadeira natureza, tirando-lhes a possibilidade de exprimirem a própria feminilidade. Características como a Intuição, a Criatividade, a Arte, os Sentimentos, afastam-se cada vez mais do seu mundo. Em nome do trabalho, estas profissionais tiveram muitas vezes de sacrificar uma parte da sua natureza. É um fenómeno típico das sociedades industrializadas.
Não confundas instrução com educação!

Há muitos homens bem instruídos e mal-educados e, pelo contrário, há muitos ignorantes que são atraentes devido à sua educação; é a vida quotidiana que no-lo demonstra.
Na maior parte dos centros "educativos" dos nossos tempos são muitos aqueles que trabalham para destruir a Vida na Terra e poucos os que trabalham para a defender. Entre um cientista sem moral e sem consciência e um ignorante educado é preferível o segundo, pois nunca fará tanto mal como o primeiro.

Kantu reflectiu e concordava que no mundo, em cada dez cientistas e estudiosos, sete trabalhavam para a indústria do armamento ou para outras indústrias causadoras de poluição, e só dois lutavam em defesa da Vida na Terra, e apenas um tentava conservar o conhecimento puro. Também era verdade que os homens civilizados tinham provocado maiores danos à Terra que os humildes agricultores ou caçadores, o que levou Kantu a perguntar:
Queres tu dizer que seria melhor que o homem não recebesse instrução?
- Antes de mais, seria necessário educá-lo e só depois instruí-lo.
A educação é mais importante do que qualquer tipo de instrução; é na família que a educação deve começar, ao ensinar a ter respeito pelas pessoas e pelos seus sentimentos. Este tipo de educação tem como objectivo principal a humanização do homem; a instrução, pelo contrário, almeja o desenvolvimento da mente e da racionalidade.

O que significa que a mulher, para fazer de si mesma uma Mulher Verdadeira, tem de se dirigir antes de mais ao seu coração e só depois à mente?
- Exacto. O que actualmente se faz com a mulher não é mais do que bloquear-lhe a sua feminilidade. Na escola, no colégio, na universidade, a mulher aprende o pensamento masculino. Não lhe ensinam a conhecer-se e a compreender-se a si mesma.
- Nesse caso, como devemos educar-nos? O que temos de aprender?
Temos de criar uma instituição educativa que responda às necessidades e aos interesses da mulher.





Na época do Império Inca, existia uma instituição chamada Akllawasi, que tinha uma orientação vincadamente feminina. Infelizmente, desapareceu há já alguns séculos: primeiro, foi encerrada pelos Incas; depois, foi destruída pelos conquistadores espanhóis.
Nesse centro, ensinava-se que a mulher é artífice da criação e da consolidação da sociedade humana, o eixo em torno do qual aquela sociedade girava, e que a educação deveria começar em casa. Porque educar e instruir um homem significava formar um indivíduo que talvez não deixe nada atrás de si, mas educar e instruir uma mulher implica formar as gerações que hão-de vir.

- Mama Maru, queres dizer que a mulher educadora tem de iniciar tal tarefa na própria casa? E se é assim, como deve ser a sua casa?
A mulher deve fazer da sua própria casa um lugar de paz, de tranquilidade, de estabilidade, de felicidade. Deverá ser um pequeno centro no qual possa educar o seu companheiro e os seus filhos. Canalizará os instintos de cada um destes discípulos, seguindo a sua natureza específica; desenvolver-lhe-á o carácter, modelará as suas inclinações. Conduzi-los-à à verdade, à bondade, e ao respeito por todos os outros seres vivos, porque a educação é vida.

E qual é o papel do homem na educação dos filhos?
- A mulher precisa de um colaborador masculino que apoie os seus projectos educativos. É por isso que, na escolha do seu companheiro, a mulher tem de se deixar levar pela sua alma e não pelos olhos. Isto porque ao unir-se a um homem é para percorrer a vida toda com ele, e conhecerem-se, ajudarem-se e apoiarem-se reciprocamente.

E que papel desempenham os filhos na vida de uma mulher?
- Os seres que der ao mundo serão para a mulher uma elevação, uma vez que cada filho é um livro aberto da natureza, com o qual ela poderá aprender muitas coisas. A maternidade é uma escolha; não se trata de uma função meramente biológica, mas também social, mental, espiritual.
Há mães físicas e mães espirituais.
E, no papel de mãe, a mulher é capaz de aumentar as virtudes e limar os defeitos do temperamento humano.


in, A Profecia da Curandeira
Hernán Huarache Mamani












The first educational institutions in Cusco were created by Inca Roca and perfected by Inca Pachacutec. Among them we have the Yachayhuasi, an educational institution for men and the ahuasi for women, the term Acllahuasi is a Quechua word that means house of the chosen ones. It was a center of women’s formation in the Empire of the Incas.

The Acllas were the most culturally educated women in the empire. They were truly chosen women, they came as tribute from their people and they lived cloistered in the Acllahuasi or House of the Acllas.

All peoples had an obligation to tax future Acllas to the state. 
The Inca emphasized an official called “Apu Panaca” or “Lord of the Sisters”, to each province who was in charge of selecting girls between the ages of 8 and 10 that were singularly beautiful, free of physical defects. He placed them under the care of the Mamaconas. They were the teachers who instructed the acllas in the religious rites, the preparation of sacred foods and the elaboration of fine fabrics for the Sapa Inca and the nobility of the Tahuantinsuyo. Not only were these material forms, they also were a kind of knowledge and were seen as very important.

When the chosen girls were 10 years old they had to decide whether they wanted to return to their places of origin to be their parents or continue in Acllahuasi to become priestesses of the main gods, the most important sacred house acllahuasi Cuzco belonging to the Sun God. In addition to having at their disposal in some cases the care and offering of the Inca mummies,some of the women of the Accllahuasi were destined to the Inca like servants, they prepared the chicha for the Inca. Others became Mamaconas. And, others were chosen as prizes for the great Inca warriors and for the normal and privileged nobility.

The chroniclers Garcilaso Inca de la Vega and Guaman Poma de Ayala denominate women as virgins of the sun like nuns. Bernabe Cobo describes the acllahuasi near the temple of the sun “Qoricancha” like a “monastery of mamaconas. Often this institution of Acllahuasi was compared by the Spaniards with the Christian convents, but in reality their functions wen much further since they also had the role of producing textiles in bulk for the Inca state.

Textile production for the state had one purpose: to maintain the state’s economy of redistribution. It is well-known that among the most appreciated gifts that the Inca could give were coca, women and clothes. This action was generated as a way to compensate the faithful, warriors or people whose activity generated value for the Inca State. The gift of redistribution strengthened ties with the conquering ethnic groups or the generals and created a stable situation between the two parties. Thus, the Inca economy needed to redistribute very large amounts of clothing to maintain the desired balance, as well as coca and women.

The acllahuasis also functioned as a store of women. From it the Inca could arrange to give a wife to the curacas or people whose services had to be compensated. In addition to being given to compensate the faithful, they were delivered by the Inca in “marriage” to certain curacas to make certain unions. With these marriages the Inca built necessary political alliances.

Another function of the aclla is to prepare food and drinks for celebrations or rituals, or for chicha a very precious drink, made from corn. The acllas were then important in the maintenance of the redistributive system.

Men could not enter the precincts of the Acllahuasi to see the women.
The state of acllas and mamaconas was known by the Inca thanks to the fact that he sent the Coya his wife, who like his daughters, were the only ones that could see and speak with the virgin women. If someone violated this rule, the penalty was death.
If any of the mamaconas helped him get in, they were given the same penalty.

The institution of acllahuasi, in addition to its great importance within the Inca economic balance, demonstrates the great role played by women within the Andean world.


Luis Olivera Echegaray





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