segunda-feira, 15 de abril de 2019

O SILÊNCIO DOS DIAS





Foi ali que o guardou naquele canto secreto
onde os silêncios eram jóias raras
e as palavras se misturavam nos perfumes do tempo
Já não importava o cansaço dos dias
nem as manhãs vestidas de cinza
a memória era um pequeno baú
onde guardava as lembranças mais vivas
existência rica de quem muito viveu
de quem muito se deu.
Abria o baú
de tempos a tempos
e o perfume das palavras
entranhava-se nas narinas
chegando ao âmago do ser.
Era aí que a luz mais brilhante raiava no quarto
nas cortinas cor de sangue
e no corpo tatuado de palavras e silêncios.
Foi ali que guardou a história que marcou um tempo
nesse tempo agitado de figurantes a deriva
de mares revoltos e ondas bravias
de mulheres perdidas de ciúme
e de homens tentando amainar as violentas marés
Foi ali no baú do tempo
que o guardou para sempre
longe dos holofotes 
projectores de sonhos inacabados
de esperanças naufragadas.
Foi ali que o guardou
para sempre
no silêncio dos dias que passam.



SÃO GONÇALVES




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