quinta-feira, 4 de abril de 2019

O CAMINHANTE





Não me perguntes 
O que é salvação 
Ou onde a encontrar, 
Não sou investigador, mas apenas poeta... 
Vivo agarrado a esta terra. 
Perante mim corre o rio da vida... 
Levando na sua corrente 
Luz e sombra, bem e mal, 
Ganhos e perdas, lágrimas e risos, 
Coisas que se entrelaçam 
E se esquecem! 
Sobre as suas águas 
A manhã chega em profundos matizes, 
O ocaso estende o seu véu carmesim, 
E os raios lunares caem como o suave tacto de uma mãe. 
Na noite escura 
As estrelas elevam as suas orações; 
Sobre as suas ondas 
A madhuri oferece os seus dons, 
E as aves soltam os seus cantos. 
Quando ao ritmo das ondas 
Silencioso dança o meu coração 
Então nesse ritmo 
Estão os meus limites e a minha liberdade. 
Não desejo conservar nada 
Nem apegar-me a nada. 
Desatando os nós da união e da separação, 
Quero flutuar com o Todo 
Içando as minhas velas ao vento que paira. 

Oh, grande Caminhante! 
Para ti abrem-se os dez caminhos 
Nos confins da terra, 
E não tens templo, nem céu, 
Nem limite final. 
A cada passo tocas o chão sagrado. 
Caminhando a teu lado, oh, Incansável! 
Encontro a salvação 
No tesouro do caminho. 
Em luz e sombra, 
Nas páginas sempre novas da criação, 
Em cada novo instante de dissolução 
Ouve-se o ritmo das tuas danças e canções. 


Rabinadranath Tagore





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