quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O Guardião da Flor de Lótus





A história passa-se no Perú, India, Dharamsala onde vive o Dalai Lama e todos os exilados do Tibete quando foram expulsos pelos chineses; Nepal; Tibete e Caxemira.
A misteriosa morte do lama tibetano, Lobsang Singay, que estava prestes a revelar uma descoberta sem precedentes na história da medicina chama a atenção de todos. Após anos de investigação no seu mosteiro, Singay conseguiu fundir os avanços científicos do ocidente com a sabedoria ancestral dos tibetanos, no entanto pouco antes de partir para a tão aguardada conferência em Harvard, morre em estranhas circunstâncias. Jacobo, um jovem espanhol imerso numa crise pessoal e profissional, vê-se empenhado em investigar o que há por trás dessa intrigante morte. A resposta poderia estar num documento milenar budista que os serviços de inteligência do exército chinês anseiam possuir. Para encontrá-lo, Jacobo empreende uma vertiginosa viagem pelos inacessíveis cumes dos Himalaias, a partir do norte da Índia até as profundidades do fascinante Tibete. Ao mesmo tempo em que tenta desviar-se dos perigos que o cercam, aprenderá com o seu mestre Gyentse que esse universo mágico também abriga a solução dos seus conflitos internos. A investigação de um crime torna-se uma jornada espiritual para o coração do Budismo e para o nosso coração interno.


O Tibete tem uma história triste…é uma das grandes calamidades mundiais, porque a Comunidade Internacional decidiu não intervir em favor dos tibetanos quando foram invadidos e massacrados pelos chineses, para não entrar em conflito com a China, que é uma das grandes super potências do mundo.
O Tibete é uma região de planalto da Ásia, um território disputado, situado ao norte da cordilheira do Himalaia. É habitada pelos tibetanos e outros grupos étnicos como os monpas e os lhobas, além de grandes minorias de chineses han e hui. O Tibete é a região mais alta do mundo, com uma altitude média de 4 900 metros de altitude, e por vezes recebe a designação de "o teto do mundo" ou "o telhado do mundo".
Durante a sua história, o Tibete existiu como uma região composta por diversas áreas soberanas; como uma única entidade independente; e como um Estado vassalo, sob  soberania chinesa. Foi unificado pela primeira vez pelo rei Songtsän Gampo, no século VII. Por diversas vezes, da década de 1640 até a de 1950, um governo nominalmente encabeçado pelos Dalai Lamas (uma linhagem de líderes políticos espirituais tidos como emanações de Avalokiteśvara - Chenrezig, Wylie: [spyan ras gzigs] em tibetano - o bodisatva da compaixão) dominou sobre uma grande parte da região tibetana. Durante boa parte deste período a administração tibetana também esteve subordinada ao império chinês da Dinastia Qing.
Em 1913, o 13º Dalai Lama expulsou os representantes e tropas chinesas do território formado atualmente pela Região Autónoma do Tibete. Embora a expulsão tenha sido vista como uma afirmação da autonomia tibetana, esta independência proclamada do Tibete não foi aceite pelo governo da China nem recebeu reconhecimento diplomático internacional e, em 1945, a soberania da China sobre o Tibete não foi questionada pela Organização das Nações Unidas. 

A partir do século VII a região tornou-se o centro do Lamaísmo, religião baseada no budismo, transformando o país num poderoso reinado. Antigo objeto de cobiça dos chineses, no século XVII o Tibete é declarado incluído no território soberano da China. A partir daí seguem-se dois séculos de luta do Tibete por independência, conquistada - temporariamente - em 1912.

Em 1950, o regime comunista da China ordenou a invasão da região, que foi anexada como província. A oposição tibetana foi derrotada numa revolta armada em 1959. Como consequência, o 14° Dalai Lama, Tenzin Gyatso, líder espiritual e político tibetano, retirou-se para o norte da Índia, onde instalou em Dharamsala um governo de exílio.


Após uma invasão contundente e uma batalha feroz em Chamdo, em 1950, o Partido Comunista da China assumiu o controle da região de Kham, a oeste do alto rio Yangtzé; no ano seguinte o 14º Dalai Lama e o seu governo assinaram o Acordo de Dezessete Pontos. Em 1959, juntamente com um grupo de líderes tibetanos e de seus seguidores, o Dalai Lama fugiu para a Índia, onde instalou o Governo do Tibete no Exílio em Dharamsala.
Pequim e este governo no exílio discordam a respeito de quando o Tibete teria passado a fazer parte da China, e se a incorporação do território à China é legítima de acordo com o direito internacional. Ainda existe muito debate acerca do que exatamente constitui o território do Tibete, e de qual seria a sua exata área e população.

Em setembro de 1965, contra a vontade popular dos seus habitantes, o país torna-se região autónoma da China. Entre 1987 e 1989, tropas comunistas reprimiram com violência qualquer manifestação contrária à sua presença. Há denúncias de violação dos direitos humanos pelos chineses, resultantes de uma política de genocídio cultural.

A causa da independência do Tibete ganhou força perante a opinião pública ocidental após o massacre de manifestantes pelo exército chinês na praça da Paz Celestial e a concessão do Prémio Nobel da Paz a Tenzin Gyatso, ambos em 1989. O Dalai Lama passou a ser recebido por chefes de Estado, o que provocou protestos entre os chineses. 

O Tibete é, ainda hoje, considerado pela China como uma região autónoma chinesa (Xizang).
Que de autónoma não tem nada, visto que se os tibetanos não viverem de acordo com as regras chinesas, são perseguidos, presos e torturados pelas autoridades chinesas.
A perseguição continua ainda hoje, e os tibetanos passam os seus filhos clandestinamente para a Índia, para irem para Dharamsala estudar na esperança de terem um futuro melhor longe do comunismo chinês.


O livro tem partes lindíssimas, de grande sabedoria.
Partilho aqui o que me tocou especialmente:

Fala dos Xamãs tibetanos que viviam no Planalto Tibetano, tinham o poder de prever todas as desgraças, doenças do corpo humano, calamidades, e conseguiam absorver as forças dos 5 elementos (Ar, Fogo, água, Terra e Éter) e assim limpar a energia da pessoa doente. A doença psíquica e física surge do desequilíbrio entre o Ser Humano e o Universo. Esse desequilíbrio é provocado pelos espíritos da natureza que absorvem a energia negativa dos humanos. Por isso eles defendiam que era fundamental reestabelecer a situação harmónica do corpo e da Mente. Fala também dos 4 Demónios: o da Ignorância; o Branco com cabeça de tigre que nos obriga a sofrer a dor do nascimento; o Amarelo com cabeça de crocodilo que significa as amarras que nos prendem às coisas materiais, o apego que nos provoca sofrimento por medo de perda; e o Negro do ódio, que nos submete à dor da morte.
Na tradição tibetana, não existem os heróis solitários, não existe o “eu” mas sim o “todos”, em que todos contribuem com a sua peça do puzzle. Tudo se resume a recompor este puzzle que é a Vida, em que cada um contribui com a sua peça específica. Cada um deve por a sua peça do puzzle e deve fazê-lo no momento preciso. Tudo na nossa vida acontece para que estejamos preparados para por a nossa peça do puzzle na altura certa, e assim contribuirmos para o equilíbrio do planeta Terra e do Cosmos. Tudo obedece a um Plano Maior. Tudo tem uma razão se ser.
Muita gente segue causas, fazem trabalho humanitário, tornam-se voluntários, cooperantes de ONG’s, mas não estão ali para ajudar o povo tibetano, mas sim por interesse próprio, como todos os políticos ocidentais que prometem e no fim nada fazem para alterar a situação de exilados dos tibetanos. Tudo faz parte da Nova Ordem Mundial. As Organizações Não Governamentais e os Governos do Ocidente, com as suas Instituições Humanitárias, têm as mesmas debilidades. Os tibetanos lutam pela sua terra, para poderem regressar à sua terra e às suas tradições milenares de onde foram expulsos, torturados e assassinados pelos chineses há mais de 50 anos. Os ocidentais lutam longe de casa e os escrúpulos perdem-se pelo caminho. Acabam por traficar com os recursos, a miséria e o exílio dos tibetanos, em favor dos seus próprios interesses individuais. Algumas ONG’s dependem demasiado dos Governos o que limita bastante o seu poder de acção. E o que se retira disto é que, por vezes a Caridade não serve para solucionar os problemas, porque no dia seguinte está tudo na mesma e o problema continua por resolver. Eu não acredito na caridade que pouco ou nada resolve. Eu acredito na Fraternidade, no tratar os outros como se fossem nossos irmãos e ajudá-los a ter ferramentas de forma a eles se tornarem autossuficientes e independentes, de forma a conseguirem ter uma vida digna sem dependerem de ninguém.
Quando vemos claramente o que queremos, não pomos a hipótese de estar errados no Caminho. No Ocidente não somos educados para lidar com o sacrifício, nem a ter paciência, e muito menos a direcionarmos os nossos dons em benefício dos outros de forma gratuita e desinteressada. Não nos ensinam que a única via para desenvolver uma vida plena é ter uma meta bem clara (não para alcança-la, mas para tender para ela). Não somos educados para entender que o mais satisfatório é sermos consequentes com os nossos actos. Quando carecemos dessa meta, lançamo-nos sem pensar sobre tudo o que aparece pela frente. E isso leva-nos a cair na desordem, no ruído, culpando aqueles que temos mais próximo das nossas próprias limitações. Se víssemos claramente essa meta, esse objectivo vital, sentiríamos em cada momento que estávamos a agir corretamente. E o mais importante, sentiriamo-nos livres, que é algo imprescindível para nos realizarmos em todas as esferas, para sermos sinceros e deixarmos que aqueles que temos à nossa volta nos ajudem a melhorar.
Relata como os chineses torturaram os monges, em praça pública, puseram-nos todos nus, obrigaram-nos a ter sexo anal uns com os outros, e depois ligavam cabos às baterias dos carros de patrulha e davam-lhes choques elétricos nos genitais. No fim, fuzilavam-nos. Na maioria dos casos, Pequim nem tinha conhecimento, porque como não havia controlo nem exigiam responsabilidades, as tropas faziam o que lhes apetecia.
Explica que os sintomas que por vezes temos no nosso corpo físico, como a febre, diarreias,etc… são vias de escape que o nosso corpo utiliza para aliviar a pressão que os nossos conflitos interiores exercem. Nesses casos, para curar a essência da doença não podemos tomar medicamentos para não camuflar a origem dos sintomas. Não devemos ver a doença como um obstáculo, nem como uma virtude. Mas sim como uma purga necessária. Os ocidentais concentram a sua atenção em aliviar os sintomas com os medicamentos. Os orientais concentram-se mais  a descobrir a origem desses sintomas, de forma a curar na raíz o problema. Eles vêm no corpo humano, para além dos órgãos internos, as correntes energéticas que nos vinculam ao resto da existência. E são essas vias que eles procuram restabelecer para tratar as doenças. Por exemplo: no umbigo, acumula-se a energia da nossa forma física, e dele partem os canais principais e onde confluem os 5 elementos (água, terra, ar, fogo e éter) que são as forças dinâmicas da natureza. Os médicos tibetanos consideram que o elemento terra está associado aos ossos, à pele, às unhas e ao cabelo. A água aos fluidos corporais. O fogo ao calor associado com o metabolismo e a digestão. O ar, à energia vital. E o Éter (O espaço) à consciência. Os desequilíbrios dos 5 elementos produzem doença e por vezes leva à morte. Todas as emoções negativas contaminam as células corporais, inclusive o descontentamento connosco próprios. As doenças surgem das atitudes com que limitamos o nosso corpo físico. Agarramo-nos a ele e não conseguimos ver que é um maravilhoso e irrepetível veículo, que bem conduzido, pode ajudar-nos a alcançar o despertar definitivo. Enquanto não curarmos o nosso Espírito e restabelecermos os nossos canais energéticos, não deixaremos de sofrer, de adoecer.
Fala sobre a tribo Kampa, que vive nos Himalaias do Tibete Oriental, na passagem mais direta entre a China e o Tibete. São conhecidos na Ásia pela sua coragem, valentia e também pelos seus costumes e tradições. São uma tribo nómada. E neste livro ensinam-nos que, por vezes nós ocidentais refugiamo-nos numa vida nómada de sentimentos para não enfrentar nenhum compromisso connosco próprios, e isso impede-nos de nos comprometermos com os outros, condenando-nos inevitavelmente à prisão da solidão. 
Ensina que é importante meditar todos ao dias para desacelerar o ritmo, abrandar, serenar, para podermos recuperar a perspectiva sobre as coisas. Através da meditação atingimos um estado de serenidade que nos permite analisar os problemas com lucidez. A nossa mente é como o mar: quando está agitado, o fundo é removido e as águas tornam-se turvas. Assim, não se pode distinguir nada. No entanto, as águas de um mar calmo são sempre cristalinas, já que o sedimento se comprime no fundo. A posição para meditar pode ser a posição de lotus ou sentado numa cadeira: o importante é manter as costas direitas para não cair num estado de sonolência. Depois, concentar a atenção na respiração: inspirar e expirar. Sentir o ar a entrar no corpo e a sair. E não pensar em mais nada. É apenas isto!
Para os tibetanos, a flor de lótus é o símbolo máximo da pureza e da santidade, já que floresce em todo o seu esplendor até nas águas mais impuras, sem perder o ápice da sua beleza. O Dalai Lama e todos os Lamas que o precederam, pertencem à Família Búdica chamada o Clã do Lótus. Por tudo isto, essa flor de sublime beleza é o ser vivo que melhor pode representar o legado imortal do povo tibetano. Nós somos os Guardiões desse legado.
Tudo o que fazemos, o que escolhemos, tem consequências nos outros. Tudo está interligado. Estamos todos conectados. Somos todos Um. Ao curarmo-nos a nós, estamos automaticamente a curar os que nos rodeiam. Tudo flui e em qualquer momento as coisas podem ser ou não ser. Dirigirmo-nos sempre para este estado óptimo universal, passo a passo.
Por vezes, usamos as doenças dos outros, como desculpa para disfarçar as nossas próprias carências. E são essas nossas carências que nos torturam verdadeiramente. É muito fácil lançar a culpa nos outros. Carecemos de pilares que possam sustentar verdadeiras relações de compromisso. Fomos educados para a realização a partir da individualidade, potenciando a competitividade, e o êxito e sucesso como único meio para alcançar a felicidade. Necessitamos sempre de mais. Nunca estamos satisfeitos. E isso faz com que nos sintamos permanentemente vazios por dentro. Por isso, quando alguma coisa corre mal, como é o caso da doença de uma pessoa querida, é derrubado tudo o que ilusoriamente conseguimos até então através da nossa busca egoísta. E o pior acontece quando nos damos conta de que, além disso, essa ilusão acabará ao mesmo tempo que a nossa própria vida. Não terá tido nenhuma repercussão em nada, nem em ninguém. Não nos podemos martirizar pelo que fizemos no passado, porque vai impedir-nos de avançar e faz com que estejamos sempre em sofrimento sem cura pessoal. A Doutrina Tibetana é o último pulmão que existe na Terra. Não só a tibetana, mas qualquer filosofia que nos permita entender que o pilar fundamental de uma existência plena é procurar alcançar a felicidade fazendo felizes os outros. O amor e a entrega aos que nos rodeiam torna-nos felizes, livres, permite-nos prescindir das nossas amarras pessoais e também superar as nossas limitações. A nossa existência deixa de ser finita, já que sobrevive nas pessoas que amamos.
Há sempre algo mais, algo oculto, por detrás do que vemos num primeiro olhar. É como as mandalas de areia que no fim de serem feitas se deixam desfazer pelo vento. Parecem representar algo terreno, como os mosteiros onde são feitas, mas quando se vê mais além, vê-se todo o Tibete e o resto do Mundo, o nascimento, a morte e o renascimento. As mandalas não são representações da verdade, mas o mero vínculo para que, com a sua contemplação e através da meditação, cheguemos a essa verdade. É apenas um veículo que nos ajuda a chegar à Verdade.
Não se pode escrever o Amor, nem a Morte, nem os Segredos da Vida. Nem mesmo através da Poesia. Há que construí-los a cada momento, com cada pequena acção, aproveitando a liberdade que a nossa condição humana nos oferece. A verdadeira essência do budismo tibetano baseia-se nas imensas possibilidades do ser humano para aprender. É esse o verdadeiro poder da Flor de Lótus. Na simplicidade das coisas, está a sua grandeza. Este é o verdadeiro poder do Tibete. Na solidão das montanhas do Planalto no Tibete, os tibetanos não dispõem de outra coisa além da sua própria vontade, mas sabem que ela lhes é suficiente para alcançar a verdade. Tudo o resto desaparece com o tempo, como a areia das mandalas, à espera do momento propício para ser espalhada pelo vento. Para chegar à Verdade das Coisas, só dispomos do nosso potencial como pessoas, da liberdade inerente à condição humana. E que temos de fazer uso desse potencial para crescer e aprender, aplicando-o dia após dia em cada um dos nossos actos. Tudo o que é importante está dentro de nós mesmos e que tudo o que vem de fora não tem nenhuma valia.





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