sábado, 29 de setembro de 2018

Narciso





Dentro de mim me quis eu ver. Tremia, 
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço... 
Ah, que terrível face e que arcabouço 
Este meu corpo lânguido escondia! 

Ó boca tumular, cerrada e fria, 
Cujo silêncio esfíngico bem ouço! 
Ó lindos olhos sôfregos, de moço, 
Numa fronte a suar melancolia! 

Assim me desejei nestas imagens. 
Meus poemas requintados e selvagens, 
O meu Desejo os sulca de vermelho: 

Que eu vivo à espera dessa noite estranha, 
Noite de amor em que me goze e tenha, 
...Lá no fundo do poço em que me espelho! 


José Régio
in, 'Biografia' 




Sem comentários:

Enviar um comentário