quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O Horror de ser Pobre


Jack Savage




Risco c'um traço 
(Um traço fino, sem azedume) 
Todos os que conheço, eu mesmo incluído. 
Para todos estes não me verão 
Nunca mais 
Olhar com azedume. 

O horror de ser pobre! 
Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver- 
-lhes as caras alguns anos depois! 
Cheiros de latrina e papéis de parede podres 
Atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros. 
As couves aguadas 
Destroem planos que fazem forte um povo. 
Sem água de banho, solidão e tabaco 
Nada há que exigir. 
O desprezo do público 
Arruina o espinhaço. 
O pobre 
Nunca está sozinho. Estão todos sempre 
A espreitar-lhe para o quarto. Abrem-lhe buracos 
No prato da comida. Não sabe para onde há-de ir. 
O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá para dentro. 
A Terra enxota-o. O vento 
Não o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia 
Deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém. 
Mas nada ajuda 
Quem dinheiro não tem. 


Bertold Brecht
in, 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'






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