quinta-feira, 27 de outubro de 2022

................... aceitar que não sou uma pessoa simples


Agustín Ruiz

 



São mais os problemas que invento do que os que tenho. São mais os que antecipo do que os que se confirmam. As minhas apreciações de mim mesma são sempre destrutivas, os elogios embaraçam-me por não os merecer, o meu coração é pequeno e preguiçoso, a minha solidariedade para com os outros é medíocre, estou a perder galopantemente o sentimento da empatia, a minha evolução pessoal é ainda larvar, nunca venci um defeito, qualquer “pobre diabo” tem mais grandeza do que eu, sou trocista e cínica, estou cada vez mais cobarde e mais demissionária das causas públicas. Não encontro nada de verdadeiramente magnânimo a apontar-me. 

Todavia, fui e sou amada, é um mistério. Quando não sou triste sou alegre - parece axiomático, mas não é - e, nesses dias, posso dar força e sentido à vida dos outros, mais do que à minha, ajudá-los sem grande esforço, merecer a sua gratidão. No entanto, se a generosidade é maior quando nos custa, não sou generosa. Tenho entusiasmo pela vida e pelo seu perpétuo aliciante, acredito no amor apesar do enigma que encerra. Não sei como chamar a estas competências, que estão longe de ser virtudes, mas são elas que me salvam de um balanço mais deprimente .

Dou muito valor ao que viveram ou vivem a meu lado, são sobreviventes.

E não, não estou triste. Dormi bem, adoro viver, acordei bem-disposta, a saúde e o amor vão bem,  não sou rica mas sou afortunada, sei distinguir as dificuldades existenciais dos verdadeiros dramas e tragédias.


Rita Ferro



Sem comentários:

Enviar um comentário