segunda-feira, 8 de junho de 2020

Palmeiras





Nascemos da sede. Somos palmeiras 
que vão crescendo à força de perder 
as suas folhas. E os seus troncos são feridas, 
cicatrizes que o vento e a luz curam, 
quando o tempo, o que faz e o que passa, 
ocupa o coração e o torna ninho 
de perdas, erige 
nele o seu templo, a sua áspera coluna. 
Por isso as palmeiras são alegres 
como os que souberam sofrer em solidão
e se agitam no ar, varrem as nuvens 
e entregam nas suas copas 
cânticos à luz, fontes de fogo, 
leques a Deus, adeus a tudo. 
Estremecem como testemunhas de um milagre 
que só elas conhecem. 
Somos como a sede das palmeiras, 
e cada ferida aberta para a luz
nos vai tornando mais altos, mais alegres. 
Os nossos troncos são perdas. Trono
é a nossa dor. É mau 
sofrer mas é preciso ter sofrido 
para sentir, aninhado no sangue, 
o assombro dos sobreviventes 
ao ar agradecidos e explodir 
de júbilo no meio do deserto.


Juan Vicente Piqueras








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